segunda-feira, fevereiro 23, 2009

O próximo é egoísta?

Por Rafael Belo

Dias de chuva em Ribeirão Preto. Ainda! Gosto de chuva. Sério mesmo. Caindo serena quase sem molhar. Diariamente. Bom para dormir, ruim para acordar. Enfim... Ontem sai cedo com o guarda-chuva me protegendo. Enorme, daqueles parentes dos guarda-sóis. Andei o dia inteiro sob ele e acabei o esquecendo depois que a chuva deu um intervalo na tarde. Desviei e me preocupei o tempo todo em não acerta meu teto ambulante em nada, em ninguém. Não reparei se o oposto era verdadeiro, mas gostei do malabarismo da antecipação dos próximos passos para posicionamento adequado de passagem. Só hoje na garoa paulista sem o teto esquecido, tive que torcer para não ser degolado. Passos rápidos em corpos encolhidos se aproximavam com as hastes próximas da minha garganta e nem me olhavam. A preocupação era a própria “proteção”. Nada de próximo.

Parece que há bolhas espalhadas nas calçadas ao redor das pessoas esperando um “bom dia” para olharem surpresas com um meio sorriso. Tenho mais de 1,80m, portanto não sou difícil de enxergar e mesmo assim corria riscos me aventurando com guarda-chuvas acusados de tentativa de homicídio. Próximo dos próximos observava a distância generalizada. Procurava fachadas com qualquer cobertura para me molhar menos e me incomodava à falta de senso daqueles tetos ambulantes debaixo de outra proteção. Cadê o espaço? Não há respeito ao próximo do próximo? Até na fila do famoso ônibus do ponto coberto até a porta uma dupla debaixo daquela imensa proteção gotejante rodando e mexendo na altura dos meus olhos. Derreteremos todos se pensarmos próximos, não iguais... É difícil pensar chove para todos aqui e que podemos pensar em algo... Assim... Além de nós mesmos...?

Há uma pregação tamanha do egoísmo e não falo só da presença dos guarda-chuvas invasivos. Com sol há aquela disputa por espaço na calçada. Imagine, ou melhor, lembre. Você está indo por um caminho estreito e do outro lado há alguém vindo em sua direção. De repente ambos aceleram para passar primeiro... Um doce para o felizardo que conseguiu...! É proibido ceder. É contra as regras (não me pergunte quais). É você e você e ninguém mais. Satisfação, carência, satisfação, carência, impulsividades, falta de raciocínio, satisfação carência... Sintomas da grave doença do século: Depressão. Vamos abrindo buracos e de repente (depois de dias, meses, anos...) estamos sem chão, sem nós mesmos, estamos ligados às névoas passageiras de felicidade em comprimidos vendidos sem receitas nas propagandas da vida. O resto que se molhe... (?) Para merecer espaço é necessário ceder lugares!

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