segunda-feira, dezembro 06, 2010

Desejo de sangue

*(8 nosso pano de fundo às vezes é apenas isso, pois os olhos refletem nosso escondido... Captei nesta segunda-feira, 6 )


Por Rafael Belo
Estava sempre tudo muito bem. Eram sorrisos e risadas a qualquer hora. Mas, este era apenas o exterior. Por dentro Bocas Caras planejava desaparecer para poder finalmente ser quem era. Conhecido Samaritano em todo aquele mísero país alojado no meio deste planeta de sentido anti-horário, Bocas não acreditava em bem ou mal, afinal estas baboseiras viviam dentro das pessoas misturadas cabia a cada infeliz indivíduo junto. Assim, ele pregava a si mesmo: “Ninguém é este bando de expressões dúbias e este monte de falas ensaiadas. São como eu, portanto, não somos”.

- Simplesmente sumir sem deixar rastros seria totalmente complicado, pensava em voz alta Caras.

Andava de um lado para o outro dia após dia até anoitecer e o cansaço o mandava de volta para a cama a o receber indisposta e reclamando enxaqueca. Mas, a necessidade de descanso do corpo era tanta a nada impedir sua quase morte. Vários meses passaram desta forma. Bocas tinha mantido a rotina para ninguém desconfiar de coisa alguma. Visitava os anciões, dava sorrisos para crianças hospitalizadas, oferecia caronas a estudantes sonhando ganhar dinheiro com a profissão escolhida, até dava passagem para os demais carros em sinal de educação...

- Rotina normal, não?! NÃO!! DE FORMA ALGUMA! Todas estas ações cidadãs me deixam um caldeirão de ira diabólica mexendo ideias maquiavélicas com um afiado tridente cheio de vontade de empalar como o velho Conde Vlad da Transilvânia. Quem sabe este meu espírito mal vivido nesta encarnação não esteja clamando por voltar as suas origens... Quem sabe esta vontade de matar não seja arcaica, pré-histórica, de algum primórdio ressentimento envelhecido feito um bom vinho com as costas arcadas por milênios de vilanias sanguinárias...

Na manhã seguinte a cidade amanheceu com o nome conhecido por meio de manchetes assustadas: “Noskin City amanhece morta”. A cidade sem pele agonizava ainda nas primeiras horas fétidas passadas do terror de Bocas Caras proporcionado a cada rosto escaldado em carne latejante e cozida na vivacidade antes habitada naqueles corpos. Era o horror de uma expressão direta do inferno. Caras passou dias como cada um de seus ‘amigos’ se desmascarando contando a eles as vezes das trocas de carinho, revelando

- Na verdade eu queria proporcionar a mais temível dor para vocês se revelarem como eu..., contava sibilando a delícia palavreada lentamente. Passou para a próxima cidade sem entender porque ninguém  ali revelou ter desejo de sangue como ele.

Um comentário:

La Sorcière disse...

Lindo texto!
Saudade de vc... estou consumida pelo final-de-ano... vorazmente...
Bj
Alê