quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Balão d’água (miniconto)


Balão d’água (miniconto)
por Rafael Belo

Precisamos preencher os espaços ou os espaços no preenchem. Pensava ela. Aliás, todas elas pensavam assim. Mi, Kika e Iwa. Mas isto foi depois. Bem depois. Nem eram Zaru’s ainda. Elas atormentavam a todos com ruídos. Melhor dizendo, esta era Mi. Conhecia todos os tipos de som e os usava para se divertir. Entupia os ouvido das pessoas a até quilômetros de distância. Deixou muita gente surda.

Se imagens pudessem ser vazias, Kika as usava. Até onde as vistas alcançavam podiam ver a poluição dela. Não viam, afinal, muito além... Mas, a pior era Iwa. Iwa não parava de falar. Tinha um fôlego recordista imbatível do Guiness Book. Uma verdadeira verborragia desenfreada. Elas definitivamente preenchiam todos os espaços e os outros eram preenchidos por elas.

Gente de todos os círculos mais próximos e aquelas cuja a infelicidade era alcançada pelos sons de Kika, viviam em conflitos. A guerra era o café da manhã e o desjejum delas. Porém, nenhuma pessoa jamais as via. Eram ágeis, eram mitos. Principalmente porque o orgulho destes seres humanos, não os permitia admitir terem um esquecido motivo, diferente deles próprios.

Quando uma cega-surda-muda surgiu. E... ELa... SORRIA. Além delas, ninguém jamais sorria. Mas, elas não sabiam o porquê daquele iluminado sorriso. Desde seus nascimento, há 20 anos, Sei sentia as vibrações. Sons, imagens, texturas... Cada um vibrava de um jeito e ela preenchia estas vibrações e lhes dava significado. Não ao contrário. Não como todo o resto.

Sei procurava Mi, Kika e Iwa. Ela as procurava e elas não conseguiam retirar toda aquela Luz. Por fim, depois de tanto tempo procurando formas de apagar aquele sorriso, a energia delas se dissipou. Elas foram preenchidas por sorrisos. Mas o de Iwa nunca mais seria visto. A não ser por aqueles sorridentes olhos. Iwa prendia todas as palavras.
Os risonhos rostos de Mi e Kika tinham também sorrisos, aliás tudo nelas sorria. Algo delas se libertou. Mi tapava as orelhas evitando a entrada de qualquer som. Kika escondia os olhos impedindo qualquer luz de entrar. Não existiam mais imagens externas.


Havia o silêncio e a paciência. Paz e harmonia surgia pela primeira vez. Logo viria o Amor. O mal alheio nunca mais foi o mesmo.

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