quarta-feira, maio 28, 2014

Coração parado na luz (miniconto) – por Rafael Belo


Depois de toda aquela luz, o coração parou. Só por um instante. Mas, este instante foi o equivalente a um eternidade. Para outro ângulo, era a queda de um grão de areia na relíquia ampulheta. Quase entre um batida e outra, aquele silêncio... Podia se dizer: nada aconteceu. Porém, uma eternidade realmente pode ser comparada a um instante. Tudo depende do olhar. Daquela brisa imediata, às vezes sem nem conseguirmos definir se foi um sopro da vida ou uma queda no abismo sem fundo. Tudo estava escuro e então se iluminou.

Não era uma vibração no meio da escuridão ou um lateja no breu de uma noite sem lua, sem estrelas e nem sequer uma luz artificial.  Era dia. Meio-dia. Um calor insano. Tanto a ponto de fazer os mais friorentos ficarem com o mínimo de roupas possível. Então, não tinha sentido aquele momento frio vazio, até um segundo atrás, sentido por todo o corpo de Ila. Agora Ila pensava o tanto... O quanto se desperdiçou. Havia algo latente em seu corpo todo. Pulsava, pulsava, pulsava... Ela sentia-se o próprio sol. Incandescente, iluminada.

Parecia um farol recém-inaugurado.  Sua energia fluía como uma nascente descoberta. Pura, livre, nova... Sempre nova. Sentia-se nascer a cada raio solar nascido de um coração correndo pelas águas da alma. A cada palavra dita, a cada pensamento transformado... Saindo da abstração, da imaginação longe, não palpável para o concreto, para a realidade, para o tocado e descobriu uma verdade mentida a pouco tempo. Invertida. Do avesso de um forma a transgredir os olhares. O coração sempre esteve parado.


Ila trabalhou em diversos lugares e tudo criado por sua mente por meio das mãos parecia conter luz própria. Ela vendia estrelas sem saber. Fotógrafa do âmago das pessoas. Realmente poderia captar a alma, mas nunca capturar. Quem olhava, via o sutil movimento da vida ali registrada. O reflexo de luz ali guardado sempre distribuía os sorrisos vindos de admirar as imagens. Iluminada. Ila não era explicada pelos equivocados pensamentos e afirmações: é só apontar e apertar um botão. Não! Ila mostrava o valor das pessoas e profissões. Relevava o brilho da vida compartilhada a todo instante, podendo parar as pessoas foscas e as iluminar. Como uma lâmpada acesa de repente, depois de faltar luz. Ila dizia: - meu coração se movimentou em um instante e este instante... Ainda não acabou.

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