sexta-feira, agosto 08, 2014

queimando (miniconto) – por Rafael Belo





Aquela imagem estava queimando. A própria paisagem parecia prestes a pegar fogo. Na verdade, Solo queimava em febre. Amanheceu no mesmo lugar onde foi à noite para pensar. Surpreendeu-se ao se despertado por aquela claridade mansa e vagarosa que aos poucos iluminava a sexta-feira. No meio daquela relva parecendo centeio milagroso, ele se afastou de todos para refletir. Solo se sentia contrariado.

Sabe. Ele conversava com todos e nada parecia diferente do esperado, mas ele sentia haver algo errado. Havia alguma coisa escondida nas palavras das pessoas. Um tom diferente. Pareciam querer tirar toda a emoção possível em cada vírgula e outros lugares de respiração. Solo se sentia enganado, mas ao raciocinar bem... Não conseguia encontrar qualquer razão para aqueles sentimentos.

Logo resolveu existir um pouco em outro lugar. Pensou na bela lua cheia parecendo tocar o solo e Solo parecia tocá-la. Há tempos não ia até aquele lugar e foi. Mas, todas estas tentativas vãs de entender o motivo das pessoas dizerem algo tão cheio de garantia de ser o dito mesmo e, no entanto, Solo sentir ser outra coisa. Pensando bem, não faltava sinceridade nas conversas com ninguém. Todos gostavam de dialogar com Solo pela autenticidade e procuravam, ao máximo, darem o mesmo.


Por isso, Solo chegou a conclusão. Ele era o problema. Seus sentidos simplesmente apontavam para uma pane interna. Uma insegurança. Não, não é bem isso. Solo respirou fundo e se deixou maravilhar por aquela paisagem ao leste. Aquele nascer de um astro onde antes morria um satélite. Tudo parou de queimar, pegar fogo e a febre se foi. Solo seguiria, sairia do comodismo para tentar colocar em prática o seu sentir com o seu pensar.

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