segunda-feira, setembro 15, 2014

Até não ser mais – por Rafael Belo



Aquela sensação de liberdade deslizando sobre o asfalto, sobrevoando o chão na leveza da concentração em não pensar em nada e interagir com a natureza com o sol iluminando o caminho do fim do dia. O momento de liberar as amarras de roupas e maquiagens metafóricas ou literais “ousando” desagradar os outros, contrariar seja lá quem for, simplesmente por ser sua opinião.

Sem a fachada social pintada para vender a imagem e adulterar a mensagem natural deixada em estado original nos eternos olhos. Ávidos por atenção, carentes de afeto, jogados na selva de pedra sem sustentação suficiente para ficar em pé, pelo menos seus subterfúgios são sobrevivência em um custe o que custar negado três vezes antes do próximo dia raiar. Porque no escuro não há sombras quando as luzes se apagam.

Há os nascidos nos limites sociais discriminados pelos dois lados da linha amarela, recriminados pela origem, imputados de culpa pelo meio, pelo receio e pela ignorância. Sob a sina de agir para continuar mais um dia. Socialmente estigmatizado como um suicida social repleto de maldade, mas não podemos julgar a totalidade pela parte, aliás não podemos julgar quando não sabemos viver sem afeto, afago e atenção.


Renegados do eu querem moldar a própria personalidade para se misturar, serem aceitos quando nem ao menos se aceitam e se sentem inferiorizados, injustiçados, excluídos daquilo do qual teriam o direito de fazer parte. Então, a raiva acumulada mata algo sempre criando uma reação em cadeia, o fatídico efeito dominó derrubando o presente, o passado e o futuro, mas tudo pode ser levantado de novo, pois nem sempre tudo está perdido, é possível nos encontrar de novo... até não ser mais.

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