sexta-feira, setembro 12, 2014

fim do dia – por Rafael Belo




Mais um fim do dia, mas não um qualquer. A corda havia sido roída e o sol escondido por densas nuvens apareceu para o adeus. Nem todos, aliás, pouquíssimas pessoas prestavam atenção, enxergavam a metáfora daquela contínua morte e ressurreição. A fonte do calor intenso ia embora, mas o calor não ou mesmo sua luz. A luz vinha em seguida orbitando nós como satélites.

Traço admirava este ciclo e não morrer era quebrar esta necessidade da natureza renovar, se reciclar. Porém, nunca imaginou aquela situação incomum. Já sonhou com um mundo onde ninguém morria... Não era nada bonito. A materialização do puro caos, pois além das 7 bilhões de pessoas teriam, em uma conta imprecisa, cerca de 107 bilhões a mais de seres humanos. Isso considerando dez anos atrás. O mundo sim, teria morrido, se todos sempre sobrevivessem.

No entanto, ser seguido por uma imensa família de capivaras nunca esteve nos planos de Traço, nem sequer passou como esboço ou foi rabiscado nos pensamentos dele. Como tudo, no início ele achou engraçadinho, depois pensou ser o escolhido para algo, mas chegou a conclusão que nenhuma das duas faziam o mínimo sentido. Tentou enxotá-las, apenas para vê-las se sentarem e o olharem.


Sorte dele morar em uma espécie de sítio, pois os animais o adotaram como líder e nada os faria parar de segui-lo, bem... Quase nada. Ele deveria soltar o esturro, ajuda-las a ficarem sempre alertas, porém elas carregam um carrapato transmissor de uma febre terrível, a maculosa. Cada uma das 54 capivaras tinha variações da mesma doença. Com a casa cercada delas os carrapatos migraram para o ponto quente mais próximo, a pele de Traço. Ele foi literalmente traçado, perdeu muito sangue e morreu de febre maculosa. Agora fazia parte do fim do dia.

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