quarta-feira, outubro 01, 2014

Utopia de dois gumes – Rafael Belo

Os pedidos não paravam de vir recheados de sorrisos e promessas. Vinham das ruas, das caixas de correio, dos telefones fixos, dos celulares, das mensagens, dos aplicativos, da web, da televisão, do rádio... Havia tanto a escolher, aliás tantos querendo o mesmo, mas não existia mais confiança, as pessoas não se sentiam mais representadas e não acreditavam mais na incorruptibilidade dos que conseguiam os votos necessários.

Xavante Aroeira não abandonaria o país. Sabia ser o último naquele futuro distante a não ter abandonado o Brasil, enojado com as mentiras e o enriquecimento daqueles que deveriam representá-lo e melhorar o que fosse possível. Quem ficou estava corrompido, pré-disposto a melhorar a própria vida da melhor forma disponível ou restava uma esperança de mudar da maneira como tudo estava. Mas, Xavante desacreditava das soluções passivas.

Um grupo se armou de subsídios secretos e foi a luta. Não pensaram no que viria depois apenas não era possível viver mais como estava. Xavante os liderava e esperava com isso libertar as pessoas dos impostos abusivos, da insegurança, da constante enganação... Eram treinados em guerrilha urbana e capazes de hackear qualquer tecnologia. Invadiram contas de todos os envolvidos em corrupção e distribuíram o patrimônio de cada um oficialmente entre o restante da população, inclusive dos que deixaram o Brasil.


No fim a democracia ainda existia, mas seu sistema corrompido acabava de desabar. Xavante Aroeira perseguia qualquer corrupção residual que correra para os esconderijos mais a vista... Radical, fazia os corruptos se delatarem e os filmava atribuindo os feitos deles com a pobreza, miséria e mortes diárias que aconteciam pelos desvios e mau-caratismo agudo tão pertinente aos donos do poder. Policias de todas as instâncias seguiam liderados por Xavante e juntos aceleravam a Justiça tampando brechas e escoltando corruptos para suas novas moradias: favelas sem UPP’s, água, luz e esgoto. Mesmo à força, o Brasil seria outro e era a escolha dos sobreviventes. 

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