por Rafael Belo
Ele senta concentrado
cercado de barulho de aviões, vozes dialogando, discutindo trabalho, falam
sozinhas ao telefone... De repente silêncio, só risos sumindo e o toc-toc se
distanciando de saltos, indo até a surdez provisória. Ricardo Gotas cochilou e
tudo ficou mudo até os segundos se passarem e ele perceber onde estava: mais
uma reunião. Os sons voltam e um telefone começa a tocar insistentemente.
Há tempos ele
aperfeiçoou a bizarra técnica de dormir de olhos abertos, mas desta vez o
cansaço veio tão pesado... A cabeça foi pra frente freada e pendeu no balanço
do corpo... Acordou perigosamente a milímetros de bater a cabeça na mesa de
madeira de lei. Teria morrido? pensou
ou apenas ganharia uma concussão leve?...
E então se quietava seus pensamentos até o susto dos olhos fechados. Fechei os olhos?
Ricardo Gotas não
tinha nenhuma habilidade, treinamento, disposição ou vontade. Estava sentado
ali ameaçadoramente sem ninguém ousar olhá-lo ou comentar a dormida pela “manipulação
de conhecimento”. O pai dele, este sim trabalhador, estava reunindo o máximo de
desvios possíveis para denunciar cada pessoa ao redor do filho no momento por
peculato.
A corrupção era tanta
a ponto dele só imaginar gordas mesadas para polícia, Judiciário, Executivo,
Legislativo e faltava exatamente esta conexão para provar a lama podre de
corrupção dali, mas por falta de qualquer coisa saudável teve um fulminante
infarto aos 45 anos e o acomodado filho de 20 estava corrompido corrompendo os
corruptores por status, poder e, claro, 50 % de todos os envolvidos.
Como corrupção gera
violência em poucos meses não sobrariam nem amigos, nem família a Ricardo
Gotas. Ele pressionou tanto quem não estava acostumado a ponto dele virar
cinzas. Apenas a arcada dentada dele e parte de um braço ficaram milagrosamente
intactos com indícios de overdose, mas o incêndio garantiu sua morte e se
espalhou indelével por toda a cidade. Quem disse que a corrupção não aprende!?
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