quarta-feira, maio 20, 2015

Quem disse?!



por Rafael Belo

Ele senta concentrado cercado de barulho de aviões, vozes dialogando, discutindo trabalho, falam sozinhas ao telefone... De repente silêncio, só risos sumindo e o toc-toc se distanciando de saltos, indo até a surdez provisória. Ricardo Gotas cochilou e tudo ficou mudo até os segundos se passarem e ele perceber onde estava: mais uma reunião. Os sons voltam e um telefone começa a tocar insistentemente.

Há tempos ele aperfeiçoou a bizarra técnica de dormir de olhos abertos, mas desta vez o cansaço veio tão pesado... A cabeça foi pra frente freada e pendeu no balanço do corpo... Acordou perigosamente a milímetros de bater a cabeça na mesa de madeira de lei. Teria morrido? pensou ou apenas ganharia uma concussão leve?... E então se quietava seus pensamentos até o susto dos olhos fechados. Fechei os olhos?

Ricardo Gotas não tinha nenhuma habilidade, treinamento, disposição ou vontade. Estava sentado ali ameaçadoramente sem ninguém ousar olhá-lo ou comentar a dormida pela “manipulação de conhecimento”. O pai dele, este sim trabalhador, estava reunindo o máximo de desvios possíveis para denunciar cada pessoa ao redor do filho no momento por peculato.

A corrupção era tanta a ponto dele só imaginar gordas mesadas para polícia, Judiciário, Executivo, Legislativo e faltava exatamente esta conexão para provar a lama podre de corrupção dali, mas por falta de qualquer coisa saudável teve um fulminante infarto aos 45 anos e o acomodado filho de 20 estava corrompido corrompendo os corruptores por status, poder e, claro, 50 % de todos os envolvidos.


Como corrupção gera violência em poucos meses não sobrariam nem amigos, nem família a Ricardo Gotas. Ele pressionou tanto quem não estava acostumado a ponto dele virar cinzas. Apenas a arcada dentada dele e parte de um braço ficaram milagrosamente intactos com indícios de overdose, mas o incêndio garantiu sua morte e se espalhou indelével por toda a cidade. Quem disse que a corrupção não aprende!?

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