quarta-feira, novembro 25, 2015

A árvore (miniconto)



Há dias ela estava dependurada da melhor forma possível na copa desta árvore. Estava sendo perseguida e difamada há tanto tempo que passara acreditar ser verdade, ser ela a culpada até dos crimes... Rose só não entendia o porquê. Não tinha mais forças para lutar... Não comia e tentava não beber, mas quando chovia não resistia: bebia a água ácida da chuva.

Desentendida também era da inveja e do odor da morte espalhado gratuitamente por tanta gente. Bem nem se fosse cobrado, pensou, viver para destruir o outro, para ocupar o lugar deste e se apropriar do que dele era... A qualquer momento um raio vai cair nesta árvore e eu, com todas as boas intenções do mundo, vou preencher mais uma vaga no inferno.

Rose não sabia da possibilidade de existência de um verdadeiro mar de lama e descobriu tarde demais. Aquele tipo de lama era a fama da morte. Enlamear vidas, embarrar caminhos, matar toda espécie de vida de um lugar.... Somos um lugar sagrado que profanamos insistentemente até amargar o cotidiano, os sonhos, os planos, disse para alguns pássaros que a circulavam e ao notarem serem percebidos revoaram.


Ela ignorava a corrente de amigos em busca dela, fazendo todo o esforço que podiam para limpar e restaurar esta grande mulher. Ela se isolou desolada de esperança. Nada de celular. As correntezas daquele rio de sangue a levariam. Leve-me por mais pesada que eu esteja... Desistente entrou em coma sentimental, em anestesia psicológica e não possuía mais sensibilidade às dores. Tornou-se leve e todo o peso sobre Rose despetalou. Nova pétalas surgiriam ao acordar e seus amigos a colheriam quando a encontrassem florescendo na árvore.

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