sexta-feira, outubro 28, 2016

Hora desconhecida (miniconto)




por Rafael Belo

A desconhecida sentou-se à mesa do bar. Estava sozinha sem nenhuma roupa de frio. Eram 23h e o frio beirava a sensação negativa. Mas ela sorriu um calor só dela. Todas as pessoas a encaravam e aí sentiam a frieza... Ela lhes devolvia um olhar gélido e nada mais era necessário. Os olhares, porém, eram de medo. Sabe... Ela passava aquela sensação de mau presságio. O inverno antártico devolvido por ela fazia muitos saírem imediatamente do lugar. Nem parecia primavera mais...

Ela é um “falta pouco”... Aquele momento ainda por vir. Um momento onde todos ficam paralisados e poucos enfrentam.  A desconhecida é um pedaço do tempo ainda não acontecido. Ali, ela ouvia música e estava imersa em cada canção. Cantava junto, aplaudia e se encontrava em uma hora só dela: A hora desconhecida. Todo dia ela fazia o mesmo. Curtia da como se fosse o último instante de vida. Sempre sozinha e ainda assim, se divertia. Por isso, chamava mais atenção deixando o som ao vivo, apenas ambiente.

Seu olhar não era frieza. As pessoas estavam erradas. Não era um olhar vazio e acusador. Era um olhar de desafio. A reação de ir embora imediatamente sem saber exatamente o porquê no fundo remexia o baú secreto das não superações de cada um. Assustadas as mentes enviam um alerta de proteção. A dona do bar não conseguia conversar com a desconhecida. Até um dia. Ontem as luzes se apagaram por minutos eternos e quando voltou estava mais clara, mais intensa, mais quente...

Estava lotado o bar. Todos sentados e bebendo. Quando voltou tudo a iluminar. Vagarosamente, um a um, voltou o olhar para onde a desconhecida estava há alguns minutos eternos. Não a vira e foram todos ao mesmo tempo até o lugar, gerando uma leve confusão e tantas falas ao mesmo tempo. Ninguém ouvia coisa alguma. A música estava totalmente acústica. A roqueira não quis ligar o som novamente. Mas parou de tocar e chegou ao lugar da desconhecida. Havia apenas um bilhete:


Todos vocês me conhecem, mas esquecem precisar sempre voltar a me conhecer. Não tenham medo do desconhecido, das horas desconhecida, da desconhecida sensação de uma estranha encarando suas entranhas porque a desconhecida hora futura lhe conhece profundamente, mas por acreditar em um medo esquizofrênico você nunca virá a saber. Já me conhece, mas por não arriscar se aproximar você não saberá e sempre achará não me conhecer... A não ser... Bem você pode iluminar o virá.  

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