segunda-feira, novembro 14, 2016

Plágios de nós mesmos





por Rafael Belo

Há uma carência dolorida nos olhos por aí. Pode ser somente sexo e mais um dia suportável, mais uma balada inabalável, um palpite variável, um rolê, uma hora aceitável, então, o tempo deixa de ser amigável. Começamos a plagiar nós mesmos. Voltamos a nossa adolescência como se tivéssemos saído dela platônicos e insatisfeitos, rebeldes e tão maduros... Prontos para continuar mergulhando no chão impermeável acreditando ser o próprio oceano profundo, mas dizemos por aqui ser a regra não se apegar, ser curtir a vida em público e pelos cantos invisíveis chorar.

É difícil definir tanta coisa, mas pensar no que sentimos não apresenta dificuldade, basta ter coragem de se arriscar, assumir a idade... Nosso problema é o medo de se magoar novamente, assumir envelhecer e achamos saber nossos desígnios nos perguntando até quando. A pergunta é a resposta. Enquanto perguntarmos quanto tempo precisamos sentir dor e sofrer, vamos continuar doloridos e sofridos porque transferimos a intensidade dos atos para as palavras e acorrentamos nossas almas, as fazendo escravas das repetições. Vivemos de ilusão.

Somos um ser vulnerável procurando em certo alguém aquilo dentro de nós. Somos cercados de toda a instabilidade criada para acreditarmos nesta fragilidade e com um quê da sádica necessidade de encontrar uma pessoa o tempo todo para nos sentirmos satisfeitos. Achamos-nos os eleitos para nos apossarmos da liberdade deste alguém. Plagiamos o machismo e o negamos, plagiamos o racismo e o negamos, plagiamos o preconceito e o negamos, plagiamos a surdez e a justificamos... Queremos ter alguém, não compartilhar. Simplesmente porque nos sentimos no direito de nos apropriar de uma pessoa para a controlarmos. Mas precisamos é de Amor.

Nenhum todo Amor do mundo basta para dois. O Amor é livre e se o outro só amar a sensação de ser amado não há construção, a estrutura rui e é necessário pousar em um lugar diferente. Só cresce quem está em liberdade, só volta quem tem a oportunidade de ir, só oferece quem tem o que doar... Se insistirmos em plantar em terras áridas onde não bate o sol, nem chove e mal sopra o vento, nada nascerá. Precisamos parar de nos plagiar e nem pensar em plagiar os outros para criarmos nosso espaço e tirarmos as correntes do nosso Amor.

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