sexta-feira, junho 18, 2010

Assim era


 8 o que é uma janela 'senão' a projeção dos nossos sonhos ou nosso sonho para encarar a realidade? captei esta em Ribes City pela janela do meu quarto...

Por Rafael Belo

Os olhos dele brilhavam tanto a chamar atenção dos insetos, os confundindo com luzes artificiais e batendo neles. Os dela faziam todos desviarem o olhar como se olhassem para toda a incandescência fugitiva do centro do sol. Assim um imaginava o outro. Assim, um nunca o outro encontrou. Apenas ali, nas intimidades das mentes. Nas... Obscenidades das mãos em pleno autoprazer a deixar um vazio consequencial sequente. Um labor de abandono saboreava os lábios solitários e os olhares se apagavam aos poucos distantes um do outro como antes, como sempre.

Tudo fantasia detalhada cada vez mais para continuar a se bolinarem sem a coragem de realizarem uma vontade fracassada por relacionamentos mal acabados passados. No entanto, era incontrolável aquele instinto animal carnal invasor de pensamentos dominador da imaginação mais vulgar, mais recriminada pela sociedade dos pudores hipócritas, do êxtase talvez somente sentido por aquele ideal de sexo narciso. Mesmo subindo pelas paredes, tudo ficava ereto e ofegante como um exercício militar misto recluso nos confins do isolamento.

Já não tinham nomes. Eram desejos de gêneros diferentes talhados a calos manuais e um Kama Sutra particular nas extremidades da mente com extensão para cada pedacinho da pele. Era uma loucura a dois, a um só realmente. Bastava se 'sentirem próximos' para tudo se iluminar e o mundo se ofuscar de água na boca com lábios continuamente úmidos de corpos suados.

Bocas perdidas nas imagens da cabeça longe. A impercepção ruborizada no despertar público da reação involuntária do corpo brilhando como se tudo fosse real. E ela fosse de verdade desnomeada do seu controle de toque. Mas, não... Ela era Lascívia Maçã, ele era Intenso Torpor... Tocava assim a banda. Assim era para ela conseguir se apresentar e se libertar perante tantos olhares da plateia a desejando.

quarta-feira, junho 16, 2010

Plateia

8 a luz o verde o contraste em um momento ciclíco de elevação... captei no quintal de casa.




A vergonha se foi se foram as vergonhas
na noite plena de plenitude enviesada
no palco da vida atormentada pela libido
das mãos aliviadas durante a agitação pública
dos pudores horrorizados de prazer alado
da anestesia súbita de todas as dores do mundo
emancipadas pelo trêmulo estremecer trépido
nas horas engarrafadas em testemunhos de sentidos metafísicos
desruborizados místicos dos rubores coletivos excitados
de sensores intimamente ligados a idéia da timidez errada em falta
nos achados estrelados em alfa na insensatez da plateia.

às 22h43 (Rafael Belo Folha de Outono) 16 de junho de 2010.

segunda-feira, junho 14, 2010

Digitais nas genitais em público


8 esta psicodelia natural da máquina captando luz em movimento é de uma virada de ano no Vila Dionísio em Ribeirão Preto... Como não captar para falar de um fato pouco crível?

Por Rafael Belo

Ela, diante do palco aos pés da banda e precisamente da vocalista, masturbou-se. Criou um rubor vaidoso nos músicos, na vocalista... Enquanto o som se espalhava, vibrava, relaxava e contraia em todos os corpos como se os tocassem, apenas ela se tocava profundamente... Intimamente. Como não perceber um ardor de cima do palco queimando? Foi um show no qual eu não estava e no qual lotado, poucos perceberam a ousadia, de quanto um som pode ser orgástico. Lá, no Parque das Nações Indígenas (ou seria em outra concha acústica?), a apresentação do Dimitri Pellz teve um novo marco.

Talvez o orgasmo trazido pelo som realmente fosse uma cópula fetichista bem exibicionista e excitante das digitais ou a tensão sexual da jovem estivesse em um frenesi incontrolável. Ali, de costas para dezenas ou centenas de pessoas em uma data não muito distante, a mulher simplesmente mostrou estar hipnotizada pela música baixando a mão sob a calça jeans e aliviou seu estupor e satisfez seu sexo, seu corpo. Nada de preocupação... Quem sabe só ela lá estivesse em um show especial e exclusivo...

Impunemente, liberalmente, apenas o fez. Devia estar acompanhada (devia?), mas seu ato solitário e imagético a tornava independente, sem identidade conhecida e atrevida, a desconhecida da multidão poderia despertar também ambigüidades a apontando como despudorada, abusada, sem vergonha... Extravasar é a razão de um show... O ato em si no mínimo traz desconfianças sobre este texto ser real ou não... Mas o é. A tecnologia portátil registrou o momento e o ‘eternizou até durar. ’

Toda vez que o vídeo for acessado a masturbação feminina diminui seu mito, mas a negação pública - por ter sido em público? - do particular talvez aumente e rotule a garota sem nome, sem rosto e sem idade diante de um show, a frente de tanta gente e mesmo assim em seu mundo realizando, quem sabe, sua fantasia. Quando assisti percebi algo diferente e precisei assistir de novo, não por tara, mas porque como vocês não acreditei ter visto e vi de novo. Nunca vi masturbação tão longa... E a banda Dimitri Pellz jamais vai esquecer a cena, para ela... Um show à parte.

sábado, junho 12, 2010

O que tem na cabeça?!

8 captei na Lagoa Itatiaia no Dia Mundial do Tai Chi e Chi Kung. 'Não se imagina o que tem na cabeça e a sombra se aproxima pela ondulações...'     

Aquele cheiro incomodava o bairro inteiro. Parecia vir de todo lugar e ia ficando pior. Provocava náuseas, tontura e um torpor quase zumbi nas pessoas. A loucura beirava os olhos e passeava pelos meios sorrisos. Um mês havia se passado. Depois da primeira semana a desconfiança era tratada a portas batidas e viradas bruscas de rostos. Ninguém dormia mais passada a segunda semana. Na terceira a histeria silenciosa dominava a lápide cravada naquele bairro.

A água se tornou escura. Todo e qualquer cano produzia o odor da morte. As autoridades responsáveis pela água e esgoto vasculharam tudo causando mais caos e procurando sair rápido dali. “Aquilo podia ser contagioso”, diziam. Agora, além de fétido, o lugar parecia ter sido palco da mais violenta guerra civil. Aquele cheiro não era da Morte. A Morte costuma ser limpa desde antes de qualquer deus e principalmente depois deles. Eram mortos, era pura podridão vinda do desconhecido...

Mas, antes da lembrança certa despertar em uma pessoa, o bairro já estava lacrado. Isolado de tudo em uma redoma transparente feita de um falso vidro hollywoodiano. O estado mental daqueles bairristas já quase variava. Largados aos próprios olhares de esguelha e as próprias mãos. Ouviram aquela certa pessoa lembrar... Ela lembrava de um reservatório antigo feito para aproveitar aqueles gêiser cretáceo. A água era a mais pura. De alguma forma os canos antigos e novos eram os mesmos. Um plano quieto foi desenhado...

Dos milhares de moradores deste bairro, nenhum deixou de ir ao antigo reservatório da cidade. Foram caindo pelo caminho. O cheiro era insuportável. O ar ia ficando cada vez mais denso, quase precisando da criação de uma porta para passagem. Poucos, tanto a apenas uma mão contar, chegaram já chorando, já sem conseguir conter os olhos abertos. Uma dezena de velas bruxuleava mesmo sem qualquer vento. Demorou a se acostumarem com aquela iluminação medíocre.... Mas tudo se voltou para acima das velas... Cabeças conservadas na parafina balançavam em varais de aço... Só um prosseguiu. Centenas de metros adiante, uma criança estava rodeada de pernas e sangue e pêlos e peles... Não era preciso dizer nada... Olhando ao redor era possível ver o gêiser cretáceo dissolvendo corpos apodrecidos... O último tombou pela última vez...

Quando os primeiros acordaram... Se atacaram enquanto a criança se aproximava de cada um, o tocava até este lhe oferecer o pescoço... O qual devorara até a cabeça cair. Então, a criança sorria ao percorrer a trilha de corpos de volta às velas, acendia uma vela nova e pendurava mais uma cabeça para preservar e colecionar. Depois começava tudo de novo!

quarta-feira, junho 09, 2010

Sombras da luz


8 captei no meu quintal... pra variar rsrs... encaixe imagético...


Meio vazio meio cheio, totalmente sorumbático pela completude
uma sombra de dor carente sentindo o peso de tanto nada
preenchido de repente no início de uma semana qualquer
esvaziada do se esconder do por vir, deste será sentido
no verme cheio de você, resquício de humanidade

devorando pacientemente os vestígios do abismo
sem medo de se jogar para o alto do frio proeminente da barriga
tragando sua vontade enquanto seu olho direito treme sem parceria
nas vistas de um vigia sorrateiro do seu descaminho
vindo do erro de viver distante do seu dito destino
mastigando sua alma por dentro em conturbação
pelo desvio tomado nas sombras da luz.

Às 07h43 (Folha de Outono Rafael Belo) 08 de junho de 2010.

segunda-feira, junho 07, 2010

De volta ao tacape e o arrastar das cavernas

8 captei na universidade federal daqui porque... à noite as sombras invadem mesmo quando é dia...

Por Rafael Belo

Pensando ainda estar viva, ele decapitou a senhora septuagenária. Assim foi o assassinato brutal na última quinta-feira (12 de abril) em Campo Grande. Primeiro os criminosos acertaram a cabeça da senhora de 73 anos, com uma panela de pressão, foram embora e depois voltaram para esfaqueá-la pelas costas e na “tentativa de degolar” houve a decapitação. Friamente o jovem matador de 23 anos, confessou seus atos como quem comenta de uma festa qualquer e denunciou o comparsa foragido.

Alegou estar sob efeito de maconha e álcool. Por isso estendeu a cabeça em um varal interno da casa antes de incendiá-la. Tudo virou pó. Acredito que tenha visto a “cabeça ainda não encontrada” durante a reportagem (dias depois ele foi encontrada aonde achava eu tê-la visto...). Creio ter sido carbonizada e eu impressionado. Mas, o bizarro e grotesco foi a atitude simplista do assassino confesso. Como quem faz uma entrevista de emprego conquistado, acusou muito indignado a assassinada de influenciar sua mulher a denunciá-lo para polícia devido ao não pagamento de pensão.

Se não tivesse acompanhado o caso pelos meios de comunicação, pensaria ser uma obra de Edgar Allan Poe ou Anne Rice. Se não visse na televisão a reportagem ainda acharia uma fantasia, um conto de terror. Mas, ‘presenciar’ a prisão do elemento e registrar a casa em pó e o corpo carbonizado trouxeram o horror para muito perto. A crueldade e covardia do ser humano vão além da indefinição do bem e do mal, ultrapassam a Bruxa de Blair, transpassam as supostas pedras atiradas pelo vizinho na casa da septuagenária... Sim, porque este também foi ‘um motivo’ alegado do assassino da porta da frente.

Não temos o direito de encerrar a vida de ninguém e depois sorrir para as câmeras. Quando a vida tornou-se tão banal...? Melhor, quando tornamos a vida banal...? Hoje não há limites nem fronteiras dentro ou fora de casa, o respeito foi desintegrado, aonde eu começo e você termina inexiste e assim como o amor – diria Zygmunt Bauman – o sujeito, a sociedade perderam a solidez, estão todos líquidos e em constante liquefação. Em todo seu poder de escolha, o ser fica impotente e torna-se animal.

sexta-feira, junho 04, 2010

O tempo não foi mais naquele lugar

8 subindo a torre do tempo, os sinos badalam e tudo retumba um ressoar de parada... captei subindo a Torre do Sinos em Ribes City



Por Rafael Belo

Os ponteiros estavam parados às três e meia da manhã e todo aquele lugar os imitava. A chuva embevecia com os ventos arrastando folhas secas e os galhos verdes uns nos outros. Fazia anos e os anos não faziam diferença. Não faziam nada. Nem sequer passavam mais. Estava tudo vermelho tenso no céu e as gotas d’água pairavam no ar em uma gravidade inversa. Havia uma pausa lenta entre o acontecer e o acontecido. Estávamos todos adormecidos há tempos.

Naquela hora marcada, todos abriram os olhos há meses pela última vez. Centenas de corpos ressoavam um sono pesado ressonado em um tempo nunca perdido. Ninguém sabia estar em sonhos coletivos de uma telepatia desperta. Algo teria de estar desperto. Um sentido mais avançado no cérebro primitivo trabalhava. Todos aqueles minutos travados exatos em todos os marcadores da passagem do sol revelaram o mal mascarado de tantos sentimentos em tantas incertezas e indefinições.

Seria para sempre este dilúvio de inconsciência inundando o mundo? A consciência estava cansada demais e acabou dormindo no tempo com o bom senso. Foi mais... Foi um apagão incontrolável a revelar o verdadeiro rumor ensurdecedor e acima de quaisquer decibéis permitidos: a fúria do silêncio. Era um sepulcro ritmado pela respiração inconstante na sinfonia dissonante a tomar conta de um mundo de exceções aonde às regras são faltas.

Haveria o despertar coletivo com o som dos olhos se abrindo e piscando e piscando e piscando... Haveria a mesmice física pela parada do tempo e espaço. Mas, o trabalho da mente pela limpeza de tantas artérias entupidas de pensamentos, de tantas almas enroscadas na tubulação do coração carregado de confusão e reversão de prioridades seriam as reais horas. Por enquanto os ponteiros continuavam parados às três e meia da manhã e como imitações de todo lugar. Embevecia a chuva com o arrastar das folhas secas pelos enquanto os verdes galhos verdes se roçavam. Anos faziam e não fazia diferença os anos. Nada faziam. Sequer... Mais passavam.

quarta-feira, junho 02, 2010

Ponteiros tortos

8 um formigueiro vive em nós mais obediente e com menos formigas ... o tempo e nós, nós do tempo... tirei na porta de casa depois da chuva.


Relógios se perdem em pulsos nus
feitos confusos fusos difusos no tempo
emaranhado as rugas de desculpas imaginadas
nas atas atadas de soltos pensamentos
testando momentos regulares nas folhas incertas de zoneamento similares
aos rastros dos celulares ondulando impulsos crus
ecoando em um espaço fácil de saber as horas
dona das memórias biológicas cansadas de acertarem os ponteiros
matreiros pentelhos a nos dizerem o próximo feito
aonde quer que estejamos, seja lá o que somos ou o que nosso tempo fez de nós... Feitos (di)minutos.

Às 15h02 (Rafael Belo/Folha de Outono) 02 de maio de 2010