quarta-feira, setembro 01, 2010

Diluído e seco pelo ar de elucubrações

(8 no sítio dos sogros rs captei também no último dia 26... Há mais leituras em profundidade, há mais letras nas palavras...)

por Rafael Belo

Nem uma umidade passava por aquele espaço. A seca imperava também nas pessoas. As últimas reservas de água já inexistiam há certo tempo... Era inverno, era primavera era verão, era outono... Era nada. Simplesmente não havia mais a noção de continuidade. Um prolongamento de ‘como nossos pais’ estampava queimado nos rostos envelhecidos pelo mau uso do sol constante e abafado, mesmo à noite quando o bafo das horas paradas salpicava em brasa os pulmões de quem buscava uma gota de respiração profunda.

Cada corpo se acendia em alerta. ‘Uma tal’ emergência alarmava como gritos inumanos agudos de repetição no deserto urbano tão lotados de areia nos olhos e tão dentro dos ouvidos. Pessoas em busca de sombras. A água fresca borbulhava. Quedas, oásis e delírios no concreto de visão turva e ondulante. Estar vivo era vestir o cansaço do mundo e se arrastar por aí revivendo os filmes críticos de zumbis alardeados pelas vitrines no consumo compulsivo. Difícil é saber se é passado, se é presente ou aquele chamado futuro.

Conjugar palavras é julgar o local temporal do verbo. Para declamá-lo é preciso fluir. Escoar as conjunções em correnteza de sentido só com um rio fluente e afluente neste espaço seco sem reservas. Há peso na respiração. Qual o motivo do ar precisar de água... Vida, claro! Posso escutar meu cérebro cozinhar com minha cabeça aberta e ter cortada parte por parte a massa cinzenta desglutinada a nos fazer sentido e sem noção também. As reservas do meu corpo procuram um espaço para me desovar pensando com o vácuo da alma eletricamente ligado pelo resto das sinapses ululantes, cheias de passear pelo oitavos sentidos reminiscentes de um conjunto empático tão verborrágico quanto o calar de um olhar expressivo.

Houve até 80% de corpo na minha água. Agora há só vapor condensado no meu eu descaso ainda pensando existir, Decárte. Fui Decárte... Agora penso no limite do reconhecimento de si. O pensamento não é nada sem ação. Sou menos de 6% de vapor. Mais seco a úmido. Mais menos. Quem dera um beijo me desse força como antes. Quem dera soubessem mais vocês de mim. Uma hipérbole sem tecla SAP, sem tradução para maiores. As lamentações chegam ao caminho da desova. Diluído e seco. Mais uma quinzena e a chuva me traz de volta. O beijo recuperador do céu. Tempo derradeiro do espaço absoluto.

3 comentários:

Celsina disse...

Rafa querido ^.^
Eu sumi daqui mesmo, né? Sorry. Parece que não estava aparecendo as atualizações do seu blogue lá no "Janela" - Mas estava sim, eu que não tinha visto =p

Vim aqui mesmo pra agradecer todo o carinho que você tem por mim, pelo Janela Secreta, e também ao comentário super fofo que deixou no aniversário do blog.

Obrigada Rafa!!Você é muito fofo.
Beijos!

Jamylle Bezerra disse...

Que foto linda Rafa!!!!!! Só ela já é poesia...

Boa quinta-feira pra vc!!!
Beijos

Wallacy disse...

Gostei muito do texto, um pouco denso, bela miscelânea de palavras e de idéias!