domingo, dezembro 25, 2011

Chama crepitante de giz



Trilha - Chão De Giz - Zé Ramalho - Áudio do miniconto Chama Crepitante de giz

(*Felicidade vem da Paz acendida depois do queimar sem ardência esquentar por dentro.) Feliz Natal
Foto: Rafael Belo


Por Rafael Belo
A meia-noite já havia transformado o sábado em domingo há tempos e a chuva ainda faltava. Era costume até então não quebrado. Por isso, depois dos Felizes Natais habituais saiu enquanto seus pares lembravam vários passados mesclados e já contaminavam o ar da esperança, do novo... Com um quente bafo etílico embriagando qualquer um ainda sóbrio. Andou ouvindo as mesmas palavras em outros lares, mas caminhou com cautela para não receber abraços estranhos, mesmo de conhecidos a tentarem queimar todo o chão passado.

“Tudo bem! Nenhuma mágoa será guardada”, pensava Natalino com seus passos silenciosos pelas ruas tumultuadas, cheias de sorrisos a sorrirem pelo menos neste dia depois de tantos dias de caras fechadas... Talvez por isso, a chuva sempre vinha para deixar o céu mais limpo e as estrelas cintilantes no céu mais azul. É dia de cantar, celebrar, dançar o Sol podendo ser Solstício ou Cristo, pois no meio ambos são um, sendo luz do mundo dia e noite... No céu a aquarela das cores saia de um breu brilhoso para um claro contido de arco-íris, mas Natalino olhava para o chão.

No chão o incêndio iniciado por ele parecia ter transformado tudo em giz e estava ali ardente bruxuleando já sem queimar - Não era mais a chama iniciada por ele. Todas as cinzas devidas a ali estarem eram brotos verdes e orvalhados e através do fogo tudo ao alcance do olhar era novo. Diferente de qualquer chama já vista, aquela era uma só e irradiava com oscilação pulsante. Era vida pura em seu elemento construtor a estender sua cauda em calda marcada de rastro de sabores. O céu começava um toque solar para conectar um elemento vivo a outro. Toda a noite já estava envolvida pela Luz.

Natalino tocou aquilo parecido com giz no chão e sentiu a Paz vir... Não do tocado, mas de dentro dele e era como se ele ainda fosse noite até rasgar o medo com a estrela cadente de sua alma.  Mas, o medo ficou em partes menores para deixar o sossego ainda atento ao mundo de todos. Como se pegasse aquele giz e desenhasse, voltou buscando abraços etílicos como contornos de fogo celeste. Não importava a razão sua fé crepitava silenciosamente em seu retorno, enquanto a suposta chama de cauda voltava para ser guia, para levar olhares ao céu, para voltar a nascer Estrela de Belém e ficar acima da chuva, esta a amanhecer o Natal.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Até em secos galhos



Trilha - Eu Caçador De Mim - Milton Nascimento para a Crônica 'Até em secos galhos'



(*os galhos impedem a visão de quem vê...) Ft: Rafael Belo
por Rafael Belo
Somos partes de uma imensa raiz mutante metade profunda e a outra também aérea. Sugamos a força da terra com intensa independência da submutação para “qual evoluímos” e se quando percebemos somos galhos secos no meio de mais um feriado de presentes aparentemente tumultuados sem ligação nenhuma. É como conduzir um veículo em uma das principais avenidas do Centro da cidade e ver em toda e cada brecha pessoas tentando atravessar a rua. Lembra-me um brinquedo no qual assim que o bichinho colocava a cabeça para fora tínhamos que acertá-lo com uma espécie de porrete...

Bem amanhã é véspera e no domingo é Natal e as ruas estão todas assim cheias de nós procurando um significado para trocar presentes e ver ou fazer o possível para não ver parentes e amigos. Talvez até sermos um pouquinho menos egoístas e mais solidários, mudar a equação uma vez por ano ou quem sabe não seja a matemática o problema e sim a química... As misturas feitas para esta nova velha data sofreram mudanças históricas que iriam além das cerca de 40 linhas destas crônicas, mas fato é: é tempo de união e de esperança.

Não importa ser solidário apenas pelo espírito natalino a celebrar o sol, o capitalismo e Menino Jesus no dia 25 de dezembro... Tirando o capitalismo, os outros dois devem ser celebrados e praticados diariamente para quem crê no renascer cotidiano de um astro celeste a sempre estar no céu e no filho do homem/Deus. As pessoas não precisam de atenção, carinho e outros tipos de alimentos apenas em um dia do ano. Todo dia é tempo de praticar uma ação acolhedora para o próximo. Até para os ateus acordar, levantar e seguir é um ato de fé. Se acreditamos em nós já temos um impulso e um motivo para fazer brilhar um achama aquecedora no próximo. A vida é o maior ato de fé e o Amor é via-sacra do crescimento.

Abrace todos os dias... Não continuemos galhos secos vindo e indo em nossa direção e do próximo só para esfarelar e se quebrar, porque apesar de perto e até entrelaçados por dentro já não há fé. Há formas já não vistas por nós atrapalhando nossa visão... Caímos das árvores do Conhecimento e da Vida e fomos nos esquecendo da infância e do nosso tamanho. Antes de secarmos e sermos galhos caídos éramos folhas verdes, tronco robusto, raízes profundas e apontávamos vivos galhos para o céu. Crescíamos para cima e para baixo e espalhávamos sementes, esperanças de florestas jovens a dar sombras e frutos para o mundo... Mas a esperança brota até em secos galhos!

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Misturas de novos



Trilha Depois de Nós - Engenheiros do Hawaii - Poesia Mistura de Novos

*(Cada renascida manhã é chance de ser nuvem e dissipar) Ft-Rafael Belo
Olhos marejados preenchem o mar escorrendo das montanhas
até as lágrimas doces transbordarem das lacunas completando a vastidão
encontram-se salgadas águas de um olho e do outro o rio

chovem choros cadenciados, correntezas carregadas do amanhã
choram chuvas confirmadas, contemplações caídas do pé de maçã

gravidade passada pela gravidez de um dia parido
das palavras nomeando o passar de tempo, o amanhecer de aurora,
alvorada, alvorecer... Tudo para um dia novo, para uma nova manhã

nascida sem som de parto, mas aos poucos de partida
para ao cantar do galo em plena diluição da noite na urbana Capital,
seja adquirida nova vida do alvor do sol para a luz artificial da macieira

partindo nomes e significados em novos olhares e transformações.

Rafael Belo, às 7h48 da terça-feira, 20 de dezembro de 2011.

domingo, dezembro 18, 2011

O casal na terra dos pelados



Trilha do miniconto - O Casal na terra dos pelados - música Pelado - Ultraje à rigor

(*As flores despidas e os espinhos também ,vestí-los seria a nudez)
Foto e palavras: Rafael Belo

por Rafael Belo

Pelados. Assim eles se viam pela primeira vez. Eles desejavam se verem nus com a mão no bolso antes do atracamento fulminante do melhor encaixe da vida deles. Mas, para nós seria engraçado o conceito de pelado dos dois, afinal, eles passaram a vida toda isolados em uma comunidade nudista dos tempos dos primeiros índios amazônicos.  Não havia novidade nenhuma balançado por aí, por ali, por aqui... Ninguém ficava com uma mão na frente e a outra atrás, roupas para eles eram novidade. Logo nos primeiros dias eles decidiram não fazer sexo explícito em público como era costume entre os outros. Mas outras duas decisões os fariam serem expulsos – algo nunca antes ocorrido na história destes descendentes dos tempos.

Tentaram algo novo, manter a relação entre os dois apenas, a poligamia à céu aberto até os reprimia. Mas, o jorro em êxtase das fofocas na comunidade surgiu antes destas duas decisões... Veio logo da primeira.  Eles não passaram a noite entrelaçados com suas genitálias proeminentes... O choque foi total no lugar mais sem privacidade do mundo. Fizeram o pior. Passaram a noite silenciosamente se olhando detalhe por detalhe insones. Nem as orgias, ménages, grupais e todos os seus sons povoadores pareciam chegar até eles. Eles haviam sido corrompidos, mas como nunca antes na história desta comunidade isto havia ocorrido. Decidiram esperar, afinal só podiam ser os espasmos da juventude inexperiente.

Toda a comunidade decidiu insonemente acompanhar o mais improvável: O Casal.  “Um casal? Só duas pessoas em um relacionamento. Como chama isso lá pela terra dos ‘pelados’... Mono... Monoga... Monogamia?! É isso!? Que cruel Que absurdo!! Eles não se tocaram ainda?! Vamos ter... Teremos de... (Longo suspiro seguido de silêncio gerais) Vamos consultar o livro dos primórdios?!” . E lá dizia: “aquele nãofornicador não é de pertencimento desta Comunidade, aquele não gerador de prole logo no primeiro contato pode contaminar toda a Comunidade e levá-la a novas sodomias e gomorrias terminando assim com o fim da nossa Comunidade”. As palavras lidas em voz altas despertaram o furor assassino de tubas reunidas e também das duas mães e os inúmeros possíveis pais – afinal este sentimento ainda não era selvagem.

Em algum lugar enterrado por décadas estava um guarda-roupa pressurizado a vácuo. Só estas duas mães guardavam o segredo. Fizeram os homens cavarem por horas, não sem antes fazerem estes encontrarem o... ooo.. o.. o Casal. O Casal estava por perto, mas escondido por precaução. De onde estavam todos escutavam a destruição da Comunidade a procura do... do.. do.. Casal que afinal ‘lhes pertencia’. Quando chegaram ao ‘tesouro’ fecharam os olhos e vasculharam às cegas. Tatearam duas pequenas malas e ainda na escuridão chamaram O Casal e passaram o tesouro para estes, não sem acrescentar secamente: ‘Corram por suas vidas, mas algo me diz para utilizarem este conteúdo assim que saírem de nossas vistas’.  As mães e os prováveis pais fugiram para o  lado oposto tomando rumo desconhecido. O Casal se despiu pela primeira vez e descobriu aquele desejo de sempre se verem nus com a mão no bolso... Não demorou muito e o atracamento fulminante encontrou ponto seguro onde começaria uma Nova Velha Comunidade.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

O Desejo pelo outro nos move


Trilha 'O Desejo Pelo Outro Nos Move' - Ultraje à Rigor - Sexo

(*Flores e espinhos sempre podem se encontrar, despidos ou em
 uma dor gostosa) Foto: Rafael Belo

por Rafael Belo
Toda forma de amor é possível. Assim como abandonar as pessoas sem sair do lugar ou estando dentro delas. Não da maneira metafórica, imaterial, mas invasiva, sexual, carnal... Afinal, todos se autodenominam grandes amantes, mesmo o sexo sendo rotineiro e até ruim, sem sentimento, pois o fingir geme um som eufórico. Alguém já disse uma vez: Você não pode ser feio, as pessoas ainda não te conhecem... Mas com as genitálias não é assim, se você não proporciona prazer e não o sente, se você não toca no lugar exato e é tocado no lugar suspirável, não liga o GPS corpóreo de sensibilidade, é só mais uma vez. Se bem que se tratando de nós, homens, o cio é constante, e o gozo intermitente nem é prolongado como o das mulheres. Já se tratando de nós, humanos, o desejo pelo outro nós move.

Não importa a orientação sexual, o vasto órgão... Chamado pele... Espalha-se em incontáveis experiências a serem descobertas pelo outro. O maior paradoxo, nesta nossa nova era veloz, é este paralelo entre o acesso a tudo instantaneamente e o distanciamento imediato, contudo é este acesso ao mundo digital a facilitar o conhecimento dos mapas do prazer e levar o parceiro ao êxtase. O autoconhecimento e o autocontrole por meio das manipulações digitais dos genitais em parceira com as cenas explícitas expostas pela rede de alcance mundial também geram uma harmonia entre homem/mulher, homem/homem, mulher/mulher e por aí vai – e vem...

Não diria ser o abandono do egoísmo em prol do prazer da parceira (o), porque muitos homens (quiçá mulheres) o fazem pensando logo mais: “agora é minha vez”. O famoso dar para receber - também lido atualmente como receber para dar. Não falo do colecionamento de “saidinhas” - eu escrevi isto?! - noturnas, diurnas, colegiais, universitárias, experimentais... As aventuras recorrentes dos solteiros normalmente regadas a álcool, drogas, inconsciências – com muitas exceções.  Há claro, nestas exceções, o sexo sem compromisso, mas qual o ponto já ultrapassado – falo disto -de nós a não se comprometer em uma relação sexual? Sexo é bom e confirmo minha pieguice ao escrever: sexo com Amor é inesquecível. Sem esquecer: sem conversar e sem química o inesquecível pode sair às avessas, mas ainda sim jamais sair da memória.

Indiscutível (?) é escrever: o desejo faz nosso olhar invasivo e nossas ações moverem céu, inferno, terra e purgatório independente de sua fé ou ateísmo. O sexo está em toda parte, mas fazê-lo em todo lugar onde está pode levar a duas coisas: atentado ao pudor – consequentemente cadeia e... Sexo (?) - ou voyeurismo. Este do qual todos sofremos, principalmente se os desejos sexuais forem platônicos e idealizados. Ainda assim, as vitrines diárias, as ruas, e as ladras das janelas, as tevês, nos resumem ao desejo e um presumível movimento de vem e vai onde somos imagéticos seres comestíveis e canibais de nós mesmos... E o pior gostamos disso e mordemos os lábios lambidos.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Seus suores sagrados


*(Segredando o fazer inesquecível de exaltar o entrelaçar dos corpos e almas) Ft: Rafael Belo

Seus suores sagrados saem de ti em sacrilégio
sem suportarem seguirem, secam ao calor corpóreo
gritando prazer poro por poro dos roçares geniais do privilégio

prevalece o fazer em arrepios constantes do ofegar provisório
dos gozares Kama Sutras da cama procurada do olhar dos hemisférios
movendo-se ao encontro dos sexos nos tremores ultrapassando o esquentar dos óleos

escorregando o encaixe no ritmo frenético do vapor exalado no revelar dos mistérios
fabricados da entrega a consumação do Amor em oferenda a vida subindo em incensório

esgotando a sensação de miríades de sentidos sequenciais  movendo-se sem parar
em seus suores sagrados sacolejando os universos nas chuvas cadentes de estrelas
levando nosso ar.

Rafael Belo às 11h56 de 13 de dezembro de 2011.

domingo, dezembro 11, 2011

O Oito Deitado da amizade


Áudio de O Oito Deitado da Amizade -  Trilha Amigos pela fé - Anjos de Resgate


(*Na calada da noite a lua se movimenta e apesar do negro céu aparecer é azul e tudo se move e faz barulho) Foto: Rafael Belo


por Rafael Belo
“Sonhei meus sonhos em palavras declamadas e elas foram lapidadas arqueologicamente...” Havia uma redoma nebulosa com diversas faces conhecidas ao redor de um Oito Deitado, mãos se uniam e formavam um sol de raios espalhados. Nem todos se conheciam entre si, mas eram meus amigos, eu conhecia a todos e todos me conheciam. Cerca de 13 pessoas segurando um o dedão da mão direita da outra falavam boas palavras adjetivadas da reunião prestes a terminar. Ao fim, o sol foi sacudido e os raios se liberaram acima das cabeças sobre o grito uno de ‘infinito’.

Era a primeira reunião do Oito Deitado. Gabvi havia encontrado por acaso o artefato há um ano em um parque da cidade. Ele viu um brilho sob a grama reluzir diretamente em seus olhos e decidiu verificar. Sob a grama molhada, após a chuva seguida de três horas, havia barro ainda com água.  Não era sua intenção ir ao parque, mas há um tempo ele reuniu todos seus amigos naquele local de diversos estados e quando deu por si, voltou após dois anos. Só percebeu sua imundice ao estar praticamente dentro de um buraco. Olhou ao redor e viu dezenas de pessoas o cercando... Imperceptivelmente guardou o artefato no bolso e fingiu aos estranhos ter encontrado a suposta aliança perdida...

Estava cheio de barro e foi ao banheiro mais próximo. Nem havia terminado de se lavar quando a primeira ligação o assustou “ah, ah ah...” começava a canção de seu celular. Nos próximos onze meses, outros onze quase irmãos o surpreenderiam da mesma forma. Ele ainda pensava em como fez aquele buraco e encontrou aquela pedra desconhecida com o Oito Deitado. Quando Os Amigos – uma das denominações a perpetuar esta aliança reforçada - fizeram novo contato voltando a fazer parte de seus caminhos. Eram 13 contando com Gabvi.

Todos relataram sobre um chamado interno silencioso, porém pulsante.  A vontade de ajudar sempre o próximo começou a orientar o dia de todos os presentes. Um sentimento de irmandade era implacável. Eram diferentes, eram iguais e a partir deste dia seriam amigos de ventre. O desejo em comum de espalhar a fraternidade criou uma aliança forjada pelo tempo e um sobrenatural incondicional. Um Oito Deitado idêntico em 13 alianças guardado por milênios dentro do artefato não parecia intrigar ninguém. Eles os vestiram no anelar e dedo médio e saíram com a intenção de espalhar os sentimentos de verdadeiros irmãos.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Chuva que flui a vida


Trilha da Crônica Chuva que flui a vida- Canção da América - Milton Nascimento


por Rafael Belo


O tempo nos pega pelo pé e nos sacode feitos leitões natalinos - o ‘peru’ favorito lá pelas bandas européias. Quando percebemos, nossa criança interna naquela adolescência a fazer contorções faciais negando ser infanta. Mas, nos enche lembrar como nos construímos subindo em árvores, correndo em diversas brincadeiras, jogando o Jogo da Vida, Banco Imobiliário, War e até videogame. Contudo, as mais derradeiras e proeminentes são as pessoas plantadas no caminho. Os amigos e as marcas mútuas deixadas. As memórias e cicatrizes traçadas em nós do espaço pendendo levemente a esquerda do peito até as mais diversas sensações espalhadas no cérebro, na pele.

Parar, brilhar os olhos e olhar para um falso vazio no espaço são sintomas pulsantes de mais um fim de ano, de mais um celebrado Natal. Nestes nossos tempos de mídias sociais e dedos acelerados, os amigos - perto e distantes – estão ali ou ainda estarão. Mas lembrar dos feitos, dos passados juntos, dos aprontamentos traz a vibração de poder reencontrar, de reuni-los todos no mesmo lugar. Dilata a vontade de deixar o adulto de lado, soltar a criança mais intensa, esquecer dinheiro e empecilhos e atar as pontas livres de amarras só para saber...

Não é nostalgia. Nem chega a ser saudosismo. É a gratidão de ter estas pessoas, de alguma forma ainda, em nós. Não importa se estão em Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Roraima, São Paulo, Paraná, Distrito Federal... Elas ficam em nós. São partes das construções destes adultos apressados e esquecidos feitos nós.  São outras Felicidades a enredar a música mais bela das nossas vidas. Uma palavra, a presença, o puxão de orelha, a ligação, o pensamento... Aliás, quantas vezes já não associamos um momento de hoje a algum déjà vu com um amigo? Escrevendo em pensamento lembrei de uma composição minha onde digo que os amigos estão do outro lado do pensamento...

Mas é bem mais, não é? Amizade é aquele leito de rio seco esperando o tempo nublar, trovejar, relampear e despejar seus raios no sertão até virar mar... Esta esperança, esta força, esta fluência viva da água... A chuva motivo de toda água da terra. Gota a gota formando uma corrente arrastando os desafiantes, se adaptando por onde passa e seguindo, levando consigo um pouco e deixando um pouco também. Esta memória da natureza nos lembrando de quanto não hesitávamos ao sair para tomar banho de chuva e ensopar as roupas e calçados. Acima de tudo, regando além da distância, as sementes da amizade espalhadas em mentes e corações.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Desconstruções amigas


Áudio de Desconstruções Amigas com trilha de Quando não houver sol - Titãs



(*Céu dividido em águas, águas dividindo céu e seguindo em frente, mas
deixando seu rastro de umidade)
Foto: Rafael Belo
Outrora éramos tantos a se divertir

correndo pela rua a se reunir por aí

negando ser criança e sendo o riso fácil branco

sempre pronto para sair

e quando não, vem o tempo brando

voando vago vento nos espalhando tanto

quanto de saudade sem lágrimas guardamos

brilhando nosso eufórico eu, lembrando

irresistível construção de quem somos

pelo espaço loteado dos corações salteando

o impossível, das amizades em sensações inesquecíveis,

lá seguindo vidas

adiante, onde um adiantado sorriso, nos desconstrói.

Rafael Belo, às 11h10 de 6 de dezembro de 2011.


domingo, dezembro 04, 2011

A dois em um e em dois


Áudio do miniconto com Trilha 'Bom dia, Anjo' - Jair de Oliveira e Tabatha Fher



*(Entre o espaço da terra encontrada pelo céu está o horizonte sem fim por onde mora o Amor)
Foto do Alto do Cristo Rei em Corumbá - Imagem: Thais Solano 


por Rafael Belo
Eles não iam se encontrar. Desencontraram-se por mais de 23 anos pelo Brasil afora. Entre amores e resguardos estiveram tão próximos em certas ocasiões, a ponto de um esticar de olhar os cruzarem para sempre. Mas, não foi assim. Não é desta forma a aventura da montanha-russa arriscada de viver. Os dois não estavam prontos um para o outro. Nenhum deles iria para onde foram. No entanto, temos pouquíssimo controle sobre qualquer coisa e aquelas a pensarmos ter, menos ainda. O tempo e o espaço estavam prestes a se dobrarem para eles e os dobrar.


Em uma noite de reunir e celebrar, no tradicional encontro anual do Dia do Amigo, aqueles decididos a não irem foram. Chegaram juntos. Ele a viu primeiro e já sabia. Ela estava na calçada com uma amiga em comum. Ela o viu depois e acabou por saber também. Estava tudo diferente. Uma força maior fazia da Alma pólvora e do Coração acelerado combustível a acender para sempre aquela chama bíblica. O mundo era fogos de artifícios na virada do ano. Esperança, Paz, Suor e... Ansiedade e Amor sorriam o mesmo sorriso.

Toda oportunidade ele a olhava e ela, sabendo do olhar, se completava e, quando não, olhava de volta.  Sem saber o motivo e não importava nem um pouco eles tinham a mais absoluta certeza do equilíbrio a terem um no outro. Pouco haviam conversado com palavras. Suas Almas pareciam conhecer e compreender detalhes um do outro. Quando a celebração acabou, dois corações permaneceram celebrando. Quase foram embora juntos, mas era cedo demais. Quatro dias depois, chegava a sexta-feira com as linhas costuradas por ele. Este a já ter de cor os dois números dela. Hesitou um instante e no próximo... Ligou. Era hora do almoço.

A empolgação e o medo estavam na voz dos dois ao telefone. No dia seguinte, para não ter volta, ele ligou confirmando o endereço, mas já estava na frente da casa dela. Ela, envergonhada, abriu a porta. Ele portava um violão e muitos presentes, o aniversário dela chegaria em dois dias. Eram as primeiras de muitas surpresas boas.  Vermelha e radiante ela agradeceu. - Uma pergunta a vir, vez ou outra, é o motivo da velocidade e a resposta mais justa é o não ter pressa, pois na verdade o tempo parece passar tão devagar, e não há dúvidas.

Com medo de errar, os dois acertaram e no fim da tarde o primeiro dos primeiros beijos cantou. Passados 13 dias o namoro iniciava para nunca mais. Mesmo no noivado, 12 meses depois, o namoro seguia intenso, e daqui a 12 meses e 11 dias, a intensidade em verdade será uma aliança da eternidade dos dois.

PS: qualquer mera semelhança com a realidade, não é mera nem semelhança, é a realidade mais pura das vidas de Karine Nogueira e, deste blogueiro, Rafael Belo – levemente resumida.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

O Amor está ao nosso redor e em nós

Pra Você Guardei o Amor - Nando Reis e Ana Canãs
*(De braços aberto o Amor nos espera guiado pelo Sol, abrace)
Foto Rafael Belo - Cristo Rei em Corumbá
por Rafael Belo

Eu preciso dizer Eu te Amo! E o digo. Sem motivo para me envergonhar de dizer em alto e bom som. É a verdade mais linda e eu não consigo guardar. A dois o mundo é mais claro e profundo. Há mais conexões, há tantas soluções e há, claro, o movimento. Tudo se move o tempo todo e só há um momento no qual o contrário parece. Lento, praticamente parado. É no exato instante do nosso encontro, do nosso estar junto. O silêncio se faz presente e o universo inspira comigo. Não há imperfeição no Amor, há em nós, em nós dois e em todos. Isso é resultado dos pés estarem no ar e no chão ao mesmo tempo.

O Amor nós ensina a nos amar mais para mais amar o outro.  Ele liberta, cativa e tira os óculos escuros do desamor. Àqueles a protegerem os olhos da luz, do sol e nosso olhar do olhar do outro. Amar não é uma receita pronta a não ser se a vontade for o autoengano. Ouvir e respeitar o outro diariamente faz o Amor crescer e tomar as próprias proporções do imensurável se tornando de uma maneira única incondicional. Não há o ideal, pois este é só um exercício imaginário de um reflexo egoísta de nós mesmos.

Este é o Amor apaixonado, como podemos perceber, entre duas pessoas dispostas a passarem a vida juntos sendo sinceros um com o outro em uma conquista da Felicidade mútua e da compreensão de cada. Não é anulação, negação, subtração... É soma, multiplicação e divisão. Divisão do tempo, das tarefas, da vida... É aprender a conviver, aceitar, sorrir ao invés de gritar e implicar, apreender a Esperança, calma e a paciência. É um sempre querer bem do outro. Não há inveja, vaidade, não há mal... E antes de mais nada, não é impossível. Amar nos dá força e ser amado, coragem.

Antes do esquecimento me acometer, ainda digo: Amar é ser você mesmo e ter o seu espaço também. Para o Amor acontecer e dar certo é preciso estar disposto. Ele pode até cair do céu, bater na sua porta, ligar por ‘engano’, mandar um email ‘sem querer’, um torpedo ‘equivocado’, mas se você estiver disfarçado (a) pisando em pegadas alheias na vida, como o reconhecer? As linhas tortas a o levarem até você podem ter lá o seu tempo, mas o Amor está em nós e ao nosso redor e será declamado quando menos esperarmos, porém, ao nosso atentar.