quarta-feira, novembro 07, 2012

Miniconto - Morte dos sonhos


Miniconto - Morte dos sonhos
por Rafael Belo
Todas as noites o mesmo sonho deixava sua cama encharcada. Bem não era bem o mesmo. Era uma continuação. Mas vinha do princípio até um capítulo totalmente novo. Morando sozinho ninguém o ouvia no isolamento de sua casa. A verdade é não ter sido sempre assim. Bem mais verdade é dizer este ser o sétimo capítulo. Tão real a ponto de no final de cada noite precisar de uma hora para seu corpo voltar ao normal. Suava litros, arrepiava tudo, ficava tão ofegante a ponto do ar faltar, seu coração doía como o começo de um enfarto e seu rosto repuxava a partir da sobrancelha esquerda como os sinais de um AVC. Depois passava...

Passar não passava... Passados sete dias de sua chegada não passou um dia sem tentar entrar em seu carro e partir. Porém, um hálito paralisante o impedia junto a um odor... Sua felicidade de ter herdado de uma mãe desconhecida aquele chalé nos confins do norte de Mato Grosso do Sul passará logo na primeira noite. Ele nem sabia a existência de tal mãe e não havia muito a esperar de alguém que se desfez dele. Agora ele sabia. O chalé estava intacto com móveis valiosíssimos, mas mais estranhos eram os milhares de apanhadores de sonhos de todas as épocas e modelos. Tudo era decorado com os apanhadores menos o único quarto. No quarto havia uma Hydra.

Ela era a protagonista dos seus sonhos. Todo dia começava com um fim de noite onde ele cortava uma cabeça da Hydra. Agora ela tinha sete... Tirando a primeira noite onde ele correu, nas demais se sentiu um herói. Mas esta noite ele temeu dormir e permaneceu acordado, mas passada 164 horas ou quase sete dias... Ele alucinava com a Hydra e o chalé estava totalmente destruído. Portas e janelas não abriam. Era uma prisão. Mas a apenas quatro horas do sétimo dia insone total ele apagou. Imediatamente um dragão com cabeças de serpente começou a sibilar ao seu redor.

Todas as cabeças foram cortadas. Mas ele não sabia toda a história mitológica. Ao virar às costas para seus sonhos, ao ignorar os apanhadores de sonhos, ao não procurar significado de fins foi direto a cama feita a esperar... Sete cabeças se transformaram em 14 e seu sonho o ignorava então, mas não virou às costas para ele. Avançou e em pânico ele se entregou ao sono equilibrado do luto teatral de sua própria cabeça perdida.

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