segunda-feira, julho 07, 2014

Torcer – por Rafael Belo






Torcemos. Gostamos. Esperamos aliviar nossas tensões e nos divertir. Mas dias e dias exaustivamente um mutirão de notícias apenas sobre violência e agressão no futebol nos invade. Todos os ângulos de uma mordida e depois todas as dores, choros e solidariedade diante de outro atacante, mas ao invés de atacar como o mordedor uruguaio, atacado. Lesionado na lombar. A fratura doeu em todos, mas é cansativa nossa cobertura insistente. Tudo passa, mas às vezes demora a passar. Palavras do próprio pescoço de Neymar.

Nunca antes na história deste país se soube tanto sobre estrelas do futebol, mordeduras e, claro, sobra a 3ª vértebra da lombar. Também quanta vezes a mordida de Suárez no italiano Chiellini foi repetida? Não tanto quanto a joelhada do colombiano Zuñiga no craque Neymar. Aliás, milhares de pessoas começaram a seguir o perfil do jogador no twitter, entre elas centenas de famosos brasileiros... Enfim, o ano já vai acabar. Não? Veja bem, acaba a Copa e oficialmente começam as Eleições 2014 que vão até outubro... Então temos um mês e o festivo dezembro. Por isso, é digna de muitas histórias o caso do morto e seus três funerais.

Chega um momento em que ninguém identifica ninguém, nem a si mesmo, mas ter um corpo velado três vezes e depois devolvido ao IML rodando quase 400 km é surreal. Primeiro ele deixou de ser indigente para ser Antônio, mas antes foi retirado do IML de São José do Rio Preto onde ficou por três dias. Em Icém, o corpo de Antônio, cerca de 65 anos e aproximadamente 1,60 m, sem documentos, gerou desconfiança dentro do caixão fechado. Então, encontraram o verdadeiro Antônio vivo e este foi registrado no celular em vídeo. O corpo voltou a ser indigente e ao IML e logo virou Eduardo, 75 anos, cerca de 1,60 m, sem documentos. Estava sendo velado em Bebedouro quando chegou o resultado do exame provando não ser Eduardo. O corpo voltou a ser indigente.


Só então, tiraram as impressões digitais e o indigente se tornou Lourenço. Horas antes estava prestes a ser enterrado como indigente. A família ficou sabendo pela televisão e Lourenço passou a ser Lourenço e ter 73 anos, 1,60 m, identificado. Quase enterrado como ninguém, a família reclamou o corpo, o identificou e as impressões digitais confirmaram. Foram 14 dias para ser enterrado, o que aconteceu na última sexta-feira (4), dia do jogo do Brasil. Torcemos para ser sempre alguém com muitos torcendo por nós.

Nenhum comentário: