sexta-feira, outubro 17, 2014

Distração (miniconto) – Rafael Belo


Bastou uma fração de segundo e o fluxo estava obstruído. Carros batidos, corpos estendidos, motos, caminhões, coletivos passivos em largas e estreitas ruas. Ativos na distração. Todos culpados por afetação e indiferença aguda. Afetados pela endemia da pressa, agora não iam a lugar algum. Foram obrigados a parar e bem neste momento não queriam se distrair.

Bastava um minucioso olhar para ver tudo interrompido. Parados gritavam e nem queriam entender. Não queriam estar ali, eram movimentados, quase corredores, queriam chegar. Toda esta vontade conjugada em uma educação inexistente estava passada no passado. Iriam esperar. Como uma reação em cadeia, cada canto da cidade estava sem contorno.

Tão atravancadas as passagens se mostravam. Rua, becos, calçadas, pontes e travessias congestionadas. Não passavam pessoas quem dirá bicicletas. Se os sons grosseiros fossem tirados parecia uma pausa. Estátuas vivas urbanas. Mas o silencioso é precioso demais para as pessoas manterem e se acaso o tivessem não saberiam partilhá-lo, distraídas o engasgariam com qualquer som.


Então, aquela imensa confusão de transportes e gente parecia um leilão absurdo aonde quem entendia menos ganhava mais e podia arrematar uma coisa qualquer pra si. A “paz” virou guerra devido a um indigente, metido a inteligente, ter estacionado seu luxuoso carro atravessado na rua... Simplesmente para conversar com um outro debruçado na janela do motorista. Este não parava de falar, então olhando bem, tinha gente de todo tipo no celular, voltaram a se distrair e a se desculpar... Estava tudo de volta ao mesmo lugar.

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