segunda-feira, outubro 20, 2014

Incêndio de folhas (miniconto) – Rafael Belo


As palavras atravessadas no cotidiano atravessam diariamente a garganta e ensanguentam os ouvidos profanando as horas sagradas onde se calar era a melhor opção. Mas, não. Há de se desembestar o particular sentimento para o coletivo... O rancor é o amargo da língua queimando este veneno guardado como um prato gelado da pimenta mais ardida do mundo: Trinidad Scorpion Buch T.

Na falação daquele falso perdão dado, daquele ocorrido enganadoramente esquecido, as pessoas oferecem punhos, balas, pedras, lâminas afiadas e o que tiver à mão para bater... Nada de dar a outra face. O comportamento cristão enraizado em todas as legislações do mundo ficou restrito por lá, a reduzidos grupos, aos cultos, missas e a bíblia... Além das aparências e os sussurros quando aparecem as costas.

Rastejam pelo tempo esperando a oportunidade para revidar e continuar a beber do amargo da vingança, sem qualquer esperança de um dia aliviar. Ao avesso, se vê um peso cada vez maior envergar criando corcundas que apertam o peito de um jeito parecido com as reminiscências da morte forjada a todo instante... Ao invés da alegria, a infelicidade e a dor em um apego acorrentado a tudo inválido de pena.


O prazer de divulgar a própria dor mesclada a deduções e especulações mastigando aquele Trinidad Scorpion Buch T. como Trindent mascado, sem saber que para perder o sabor picante desta pimenta é preciso diluí-la 1,1 milhão de vezes em açúcar e água... Ainda assim, a amargura e o rancor serão cuspidos em forma de fogo virulento em seu mundo de florestas secas e total falta d’água.

Nenhum comentário: