sexta-feira, novembro 28, 2014

Vontade viva (miniconto) – Rafael Belo



Estava oculto o sujeito em ambos. Entre as coisas e amores. Eles não entendiam quem era ela e quem era ele... Olhavam ao redor sem entender tantas metáforas. Eram folhas verdes, folhas secas, folhas ao vento e folhas em decomposição. Flores inteiras, despetaladas, coloridas, desbotadas, flores vivas em aromas e perfumes de recordações. Eram cheiros corriqueiros de lembranças e devaneios de dois estrangeiros nascidos naquela sociedade de janeiro.

A comunidade era ambos e, apesar do artigo feminino, não tinha sexo definido. Caia nas graças do amor minúsculo com adjetivo maiúsculo, apenas para alimentar a sentimentalização da prisão. Os ocultos cultivavam o vulto da esperança com sorvete de toda espécie e chocolate da desmotivação, mas massas e comidas rápidas também eram bem-vindas, assim como abstinência total de alimentação.

Ele não era ela nem ele. Ela não era ele nem ela. Eram formas definidas alimentadas de dias iguais os esperando diferentes. Eram esquizofrenias da deturpada imaginação da sociedade e da família. Crias criadas para perpetuar. Folhas caídas, flores partidas por falta de adaptação. Não eram pessoas perdidas, apesar das formações machistas e patrimoniais, a vida inteligente aconteceu por lá. Havia conteúdo desenvolvido repleto da palavra proibida: ideais.


Às vezes eram duas dúzias doídas de um casal, outras o própria ideal e um céu azul de poucas nuvens. Não estavam ocultos de fato, o sujeito e a sujeita.  Duas pessoas em liberdade condicional de vidas acumuladas de entulho muito emocional. Só estavam dispostos a lutar quanto a ambivalência do tal “bem e mal”. Não eram reducionistas. São experimentos de si mesmos querendo o próprio melhor. E se isto não é casamento... A lâmpada, a energia, a vontade, a paciência e muita criatividade não são luz.

quinta-feira, novembro 27, 2014

alterados recomeços



o aroma  fica estendido depois do ir das mãos,
o sol é um lampejo tardio
de tantas folhas acumuladas na sensação.

Entre as nuvens acendendo e apagando
esta lâmpada do nosso universo,
As dores fecham os vãos da alma
e acalmam o desequilíbrio,

em alto reverso.
Um autorretrato do ato de oferecer flores ao desconhecido...
E recomeçar um mundo alternativo.


(Rafael Belo, às 07h, quinta-feira, 27 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 26, 2014

Alamandas (miniconto) – Rafael Belo



Choviam pétalas secas, mas amareladas e o perfume ainda se continha sem careta na discreta aromatização intrincada. Vieram logo após a normal chuva enxovalhada. Por isso, grudavam por toda pele. Ele e ela curtiam sem entender. Eles estavam pelados, um de cada lado, e foi um “achado” serem cobertos pois já passavam frio. Nos sabores do bater do queixo por toda arcada dentária. Eram duas flores.

Amores despetalados, porém inteiros, se revolviam como em braseiros, enquanto os dois não se resolviam se teriam pudores e se esconderiam ou se seriam encontrados naquele desafio com todos os arrepios da água gelada. Nada faltava. Não havia nenhuma queda. Estavam errados nos despudores, mas livres em suas formas singelas. Olharam para cima... Trincadas janelas cobertas de telas repletas das amareladas flores.

Alamandas Amarelas foram tomadas pelo vento em dissabores. Senhores, aliás senhora e senhor de si, eram divisores das próprias águas. Aproveitaram a nudez para se livrarem das mágoas e aquela chuva de vento e flores revelava a primavera toda em um prédio daquela altura. Uma floricultura sem fim. Assim, eles abriram espaço na própria estrada e marcavam fundo seus passos.


Fossem fósseis favoreciam os arqueólogos do futuro a desentender os corações passados com pitadas sugestionadas de dor sem pretender. Nas mãos estendidas bem avisadas um para o outro havia algo indolor. Nada de ferrão de abelha que fica e mata a alheia dona da ferroada em vermelha cor. Mas mais mesmo como a picada da vespa, popular marimbondo, provoca o tombo. Quem é picado levanta, quem pica segue picando assombrando aqueles ainda desaprendidos de cair. Ele e ela, os pelados, querem fazer chover pétalas perfumadas em todo lugar. Vão transformar todo prédio abandonado em uma primavera permanente no ar.

terça-feira, novembro 25, 2014

mãos estendidas

pétalas desbotadas se espalham pelo chão, ventos sopram senis sentimentos amarelos, não se sabe mais sobre ser velho... Houve um tempo onde as cores ultrapassavam a intenção.

Saber selecionar sabedoria em meio a seleção de frases é encontrar certas fases incontáveis  setedecilhões de palavras por segundo no Google, ou traduzir um grito gago de um surdo chinês durante um decisivo gol...

Mãos da insensatez devolvem às arrancadas pétalas de mal e bem-me-quer para acabar com todo triturado talvez e as flores voltam oferecidas sem extensão de dor.


(Rafael Belo, às 07h45, terça-feira, 24 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 24, 2014

Perdendo a cor – Rafael Belo

Pétalas amarelas são perfeitas até na imperfeição. Juntas formam a flor e o perfume contrastando com o verde como um desmaio de olhos abertos. É um sair de si e ser outra pétala desta mesma primavera neste botão aberto. Sair de si e ser outras possibilidades é se dar a liberdade de imaginar e poder ser todos os seus dons. Perder o tom e desafinar a vida é um caminho a ser percorrido.

Como saber a afinação e o dom sem sabermos a desafinação e aquilo com o qual não temos afinidade? Perdoar-se e o outro pode variar entre o grave e o agudo, mas deixar a ignorância ganhar nuances de drama é perder por desistência ou simples ausência. Não podemos vestir este traje da depressão, vale mais o desapego. Temos de estender a mão e nos despir de preconceitos.

Mas ficar nu e ostentar a magreza com adornos de adoradores do corpo malhado é aquela velha história de chover no molhado, de usar flores para disfarçar o cheiro de decomposição. Talvez da nossa consciência iludida, dos nossos óculos corretores da miopia e do astigmatismo, mas com lentes da fantasia. Usando da brincadeira e da ironia, ou melhor sarcasmo, para humilhar e ofender dizendo com outras palavras o que queria dizer.


Proporcionando dor em si e no próximo é se despetalar, desbotar e acelerar a própria decomposição. Sem cor e sem odor a vida vai ficando sem graça e realmente começa a doer. Não podemos ignorar a dor alheia, mas precisamos acabar com nossa dor, encontrar nossas cores originais e saber mudar de pétala se preciso for. Então, nossas mãos se estendem naturalmente até parar de doer.

sexta-feira, novembro 14, 2014

Tateando a escuridão (miniconto) – Rafael Belo


Com os braços esticados se atirava no impulso do vácuo vacilando passos e mente. Estava toda dormente como se não circulasse sangue mais sob a pele. Sentia-se cinza em um mundo colorido e não, não era destaque... Parecia carregar todos os quilos do planeta e se curvava no que se revelaria um quarto-inteiro de infinitos. Tentou um grito e tudo que conseguiu foi o agito dos pobres lábios e da língua, além de vermelhidão no pescoço e no rosto, devido ao esforço.

Deslizando os dedos pela superfície para decifrar pelo tato é... Era realmente um quarto gelado, morto, suposto... Não era possível identificar. Talvez nem parede fosse porque como poderia se movimentar? Tocou os olhos para se certificar. Estavam lá. Não, não eram dois buracos negros sugando o lugar. Poderia ter voltado no tempo e estar em Além da Imaginação... Teria perdido a visão? Tocou de novo os olhos para saber se estavam abertos ou fechados. Estavam abertos e quase não piscavam. Caiu...

Agachada começava de quatro a caminhar com a cabeça inchada de tanto bater em qualquer objeto que deveria apenas esbarrar. Joelhos e mãos raladas até não mais aguentar, então como um fuzileiro se movimentar. Antebraço, cotovelo, joelho, canela e pé até ser só dedos, palma, punho, antebraço, cotovelo e no fim se contorcer com o peitos e coxas. Um pouco depois do fim, rasteja com movimentos de convulsão, mas pela sensação para onde vão?


Um pouco de força veio como energia e forçou o queixo e o pescoço para frente... De repente... Acordou no meio da noite a pessoa pensando estar acabada, morta, enterrada em seus maus pensamentos. A pessoa estava viva, pelo menos assim imaginava. Outra energia oscilava e revelava a mais escura das madrugadas. A energia faltara agora voltava. Estava cercada de um beco com uma rua sem saída cheia de irregularidades fachadas. Mais a frente outras portas próximas da calçada e muitas distantes. Esteve o tempo todo acordado. A escuridão total é parecida com a morte, mas talvez seja igual.

quinta-feira, novembro 13, 2014

O que fazer?!


a aparência estava à beira da morte,
morreu na ignorância resort
cheias de gatos de luz, sua iluminação roubada
era para um morto ambulante espalhando pus

nada tinha a ver com azar ou sorte,
voar fora da asa alheia “não que importe”
é nunca sair da gaiola nem com a mente
sem ser forte nem na palavra, encravada, indigente itinerante, arrancando devagarzinho os braços dos passarinhos
e fingindo saber o que fazer com as asas.

(Rafael Belo, às 07h38, quinta-feira, 13 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 12, 2014

Morreu a morte (miniconto) – Rafael Belo


Ele chegou no fim da rua e olhou para o céu, nenhum terminava ali, ambos continuavam. O horizonte é infinito e, por enquanto, não há nada mais longo. Ele pensava, então, se seu fim não era uma vírgula, uma pausa para respiração... Teve medo de ser apenas o suspense das reticências, algo vago e assustador por si só. Tocou-se como quem procura dinheiro perdido e constatou estar mesmo ali. Teria morrido, ou melhor, sobrevivido?

Pensando bem ele sempre foi bem morto. Arrastava-se pelas sombras, mancava calado, era uma poesia desgastada com rima forçada e olhar para fora... Ora, quando olhou para dentro se acendeu. Via prova que para sair é preciso primeiro entrar. Mas, bem naquela hora acontecia uma clandestina desova. Alguém dera em um cavalo uma sova e o jogava bem nele. Ele temia a morte e agora a via.

Havia uma glória retórica introdutória e ele apagou... Como uma fraca chama na tempestade de vento. Não acompanhou a visão e nem lembrou, se assustou quando acordou e ainda naquele primeiro parágrafo persistia no tema dilema: sobrevivência ou morte? Testou sua respiração. Ele não sabia se precisava nascer ou de ressuscitação. Prendeu-se a um verso secreto entoado em sua Alma.

Com calma levantou. Ele não havia morrido porque para morrer basta estar vivo e ele tinha certeza de não ter vivido ainda. Como queria a ida para a eternidade, precisou ficar à vontade, pois na leviandade praticada não era nem zumbi quanto menos nada. Precisava pegar palavras e tentar significar seu sangue. Este precisava derramar sem intenção de salvar ou condenar. Foi para a esquina anunciar em cartaz com sua escrita em sangue: Está morta a morte, morra e viverá.

terça-feira, novembro 11, 2014

para quem não sabe


se o poeta não sorri, não revela rima,
sua sina o prendeu na gaiola e jogou a porta fora,
não há como sair, poeta sem poesia não há de existir

engaiolado talvez partir, já que seus versos não estão mais por aí
e os que foram já não o são mais, se foram sua língua e suas mãos
sua imaginação definha, quem sabe imagina a si mesma livre do corpo, liberta da mente, no absurdo desta gente
não saber que a morte é parente, íntima de todos
e a carne é ínfima... Diante do tamanho da Alma

enquanto os passarinhos passam passinhos para quem não sabe voar.


(Rafael Belo, às 07h31, segunda-feira, 10 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 10, 2014

Basta viver – Rafael Belo

Há um caminho entre o fim da rua e o fim do céu, pelo menos lá aonde a vista alcança. No horizonte está timbrado nosso caminho e olhar para esta harmonia nos alinha, nos faz olhar de volta para dentro de nós. Como se nós fôssemos o tal abismo tentando encontrar olhares. Esta olhada interna pode ser poesia ou um despertar para a necessidade de rimar o mundo, não com finais iguais, mas com a sonoridade da calma.

Paciência se adquire no caminho antes de chegarmos lá aonde o olhar alcança por que está morto quem vive temendo a morte. Cambaleia feito zumbi quem não compartilha, quem não trilha sem julgar, aqueles que preferem se alimentar de outros cérebros, outras carnes para fingir viver. Não vive quem idolatra tantos falsos ídolos na histeria da deturpação de dons transformando talentos em tormentos e imitação.

Há um enjaulado sofrimento livre em nossas paredes feito de um sangramento coagulado. Nosso sangue derramado em vão é um cortar os pulsos em inconscientes impulsos de um suicídio invisível diante dos olhos de todos. Estamos morrendo despedaçados por nós mesmos e quando choramos são as lágrimas da alma, talvez a única consciente da quantidade de pedaços desfeitos por falta de uso ou abuso da má-utilização.


Porém, por mais que a palavra seja reciclar, descartamos simbologia e produto final para termos o novo seja lá qual for. Morrem as palavras com significação, as esvaziamos e apenas as repetimos sem pensar. Estamos mortos, pois perdidos. Somos mímicos fazendo sombras de outras luzes. Não nos damos ao trabalho de encontrar a poesia da nossa Luz e iluminar, brilhar. O problema não é o medo e sim nossa covardia de acreditar na poesia e de tudo aquilo vindo da Palavra, do Verbo, pois se somos do Verbo, somos rima, versos divinos onde quem morrer vive, basta viver.

domingo, novembro 09, 2014

Assombrando o protagonismo – resenha livro Fantasma

Uma adaptação a toda situação, uma metamorfose ululante pronta para ser o necessário usando o tom certo, as palavras adequadas, os traços precisos e, principalmente, a confiança e a autoridade para convencer até os mais preparados. Mas, seu vício é a adrenalina, o planejamento e o ser capaz de fazer... Não tem fim é sempre ação e aventura. Por isso, é conhecido como Fantasma e assombra que quiser.

Roger Hobbs surpreende em talento e mistério neste livro de ação e acredite: é de estreia. São 320 páginas que grudam na gente e não soltam mais. Várias reviravoltas acontecem com um personagem que não conhecemos e ainda assim é o personagem principal do livro. Em paralelo com o sumiço dos assaltantes e do dinheiro do assalto que ele procura, Fantasma conta outra história...

Com um assalto passado o assombrando no presente e sendo contado, deixa uma luz sobre que é Jack, que deixa claro não ser este seu verdadeiro nome. Afinal, ele é o Fantasma não tem identidade nem digitais, isto não o impede de ser cauteloso e programado para não deixar pista. Não há como não perder o fôlego e lembrar de 24 horas, aliás ele tem apenas 48 horas para realizar seu objetivo e o tempo está passando.

Enfim, qual é o real objetivo de Fantasma? Leia... Ao final você espera que haja mais, que o estreante Roger Hobbs tenha mais fantasmas no armário e em casas abandonadas por aí. É, bem não seria exatamente vilão ou seria? Quantos livros já lemos onde o personagem principal é mais que um anti-herói, Fantasma não se enquadra naquelas linhas fiscalizadoras da lei, mas no tipo de personagem para quem torcemos que dê certo.

quinta-feira, novembro 06, 2014

retomada


um ataque de pânico humilha o ânimo de toda ilha,
desânimos comporta composta de um homem só,
tão sozinho que se atrapalha ao falar consigo,
improviso da solidão, campanha da campainha disparar de antemão,
e ao invés de chamar fazer o alerta,
à alergia alegria a se espalhar e contaminar cada cabaço do arquipélago
com elos que ninguém pode negar,
enquanto o coração treme, geme a pele:
alguém pode tocar. Quem chegar vai repatriar
e forçar a ilha... A ser pessoa e lugar.

(Rafael Belo, às 07h38, quinta-feira, 06 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 05, 2014

Demais (miniconto) – Rafael Belo

Eles estavam naquele quebra-cabeça, caso alguém esqueça não haviam peças iguais, ademais pessoas também não são, mesmos os menos sãos admitem: nem a relação apaga a personificação de quem seja. Gêmeos, então, procuram mudar a estética, a forma e o conteúdo, sobretudo querem ser diferentes, se destacar no meio da gente, se apelidando de multidão. As peças no fim completam, até à beça...
Umas para encaixar outras de encaixe, mas há quem ache que dois náufragos resgatados de continentes diferentes aceitem ser ilhas neste arquipélago repleto daqueles Estreitos de Bering mesmo se o acompanhamento mental for desigual na hora de comparar as peças, mas só porque não se pode comparar diferentes peças e era isso que eles compartilhavam: este pensamento. Talvez até dividissem os corações trocando um pedaço pelo pedaço do outro.
Bons selvagens quebrados pelos “constrangimentos sociais” revirando Rousseau pelo avesso em digitais, vendo o esforço dos oprimidos reprimidos pelo grito utópico das fronteiras em tópicos criadas na divisão entre escolha e obrigação. Unindo a Pangeia novamente como a Árvore da Vida com tantas raízes inseridas em galhos como pensamentos vagos por toda direção. Eles estão pagos pela própria floração.

Mas às vezes lançam suas redes tentando compreender quando ser social e quando ser individual, os extremos do pessoal e coletivo, são seres subjetivos, eles... O desenvolvimento intelectual foi passando de ano com notas mínimas empurrados para frente como se isto fosse preparo e quando não raro, eles abriam novas vagas e a interpretação ficava no limite. O palpite era sempre algo mais e só de vez em quando era demais...

terça-feira, novembro 04, 2014

Alguém


expandiam os acessórios na euforia dos provisórios,
ilhados nos arquipélagos inglórios, tão compostos de ilha que fingia continente.
Exigente era completo, mas incerto derretia suas calotas itinerantes em um instante eminente.
Quente pela devastação, bolha de calor em ação, eleva as alturas as temperaturas latentes.
Impotentes as praias deixam de ser de repente, também são mar, a salgar um oceano absorvente feito de humanas lágrimas...
Molham todas as páginas, de uma só vez há a palidez e uma estranha maré em armazém, aonde ninguém é todo mundo e todo mundo é alguém.


(Rafael Belo, às 12h32, segunda-feira, 03 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 03, 2014

Acessórios em expansão – Rafael Belo

Às vezes eu me sinto um náufrago, mas ao invés de ser resgatado de uma ilha me tiraram do continente e me jogaram em um vasto arquipélago. Cada um é uma ilha em seu mundo... Um dia inventaram que ninguém é uma ilha, mas é claro que o pensamento de John Donne é mais profundo. Somos ilhas, organismos distintos e mais... Somos completos sim, porém temos acessórios de expansão.

Somos todo um universo em nós mesmos e tememos nossos limites mesmo desafiando e invadindo os alheios. Somos parte do continente, do todo? Somos!  No entanto, se não exploramos quem somos e quem podemos ser ficaremos uma ilha enquanto também somos O continente e O todo. Por isso, vagar nos arquipélagos com base em calotas polares leva a sermos ilhas itinerantes vagando em um oceano tempestuoso.

Assim extinguimos praias nossas ainda selvagens. Bons selvagens que somos, bem lembrando Rousseau, estamos em nosso estado natural e fingimos estar além dos “constrangimentos sociais” ao brincarmos de sermos democráticos... Seguimos o comportamento padrão nos perdendo em outras ilhas e formando um continente ligado por incontáveis Estreitos de Bering não permitindo que nada derreta esta ligação.


Até percebermos ser ocupação e posse, insistindo no esvaziar do verbo amor, instinto de sobrevivência... Então, saímos ou fingimos não ter esta percepção. Precisamos aceitar nossa condição de ilha e depender, ocupar e possuir apenas nós mesmos. Permitir nossa criança propiciar a si mesma felicidade, pois assim, libertos, vamos sendo continente e todo, nos transformando na verdadeira Pangeia... Por enquanto, todo homem é uma ilha.