segunda-feira, novembro 10, 2014

Basta viver – Rafael Belo

Há um caminho entre o fim da rua e o fim do céu, pelo menos lá aonde a vista alcança. No horizonte está timbrado nosso caminho e olhar para esta harmonia nos alinha, nos faz olhar de volta para dentro de nós. Como se nós fôssemos o tal abismo tentando encontrar olhares. Esta olhada interna pode ser poesia ou um despertar para a necessidade de rimar o mundo, não com finais iguais, mas com a sonoridade da calma.

Paciência se adquire no caminho antes de chegarmos lá aonde o olhar alcança por que está morto quem vive temendo a morte. Cambaleia feito zumbi quem não compartilha, quem não trilha sem julgar, aqueles que preferem se alimentar de outros cérebros, outras carnes para fingir viver. Não vive quem idolatra tantos falsos ídolos na histeria da deturpação de dons transformando talentos em tormentos e imitação.

Há um enjaulado sofrimento livre em nossas paredes feito de um sangramento coagulado. Nosso sangue derramado em vão é um cortar os pulsos em inconscientes impulsos de um suicídio invisível diante dos olhos de todos. Estamos morrendo despedaçados por nós mesmos e quando choramos são as lágrimas da alma, talvez a única consciente da quantidade de pedaços desfeitos por falta de uso ou abuso da má-utilização.


Porém, por mais que a palavra seja reciclar, descartamos simbologia e produto final para termos o novo seja lá qual for. Morrem as palavras com significação, as esvaziamos e apenas as repetimos sem pensar. Estamos mortos, pois perdidos. Somos mímicos fazendo sombras de outras luzes. Não nos damos ao trabalho de encontrar a poesia da nossa Luz e iluminar, brilhar. O problema não é o medo e sim nossa covardia de acreditar na poesia e de tudo aquilo vindo da Palavra, do Verbo, pois se somos do Verbo, somos rima, versos divinos onde quem morrer vive, basta viver.

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