quarta-feira, novembro 12, 2014

Morreu a morte (miniconto) – Rafael Belo


Ele chegou no fim da rua e olhou para o céu, nenhum terminava ali, ambos continuavam. O horizonte é infinito e, por enquanto, não há nada mais longo. Ele pensava, então, se seu fim não era uma vírgula, uma pausa para respiração... Teve medo de ser apenas o suspense das reticências, algo vago e assustador por si só. Tocou-se como quem procura dinheiro perdido e constatou estar mesmo ali. Teria morrido, ou melhor, sobrevivido?

Pensando bem ele sempre foi bem morto. Arrastava-se pelas sombras, mancava calado, era uma poesia desgastada com rima forçada e olhar para fora... Ora, quando olhou para dentro se acendeu. Via prova que para sair é preciso primeiro entrar. Mas, bem naquela hora acontecia uma clandestina desova. Alguém dera em um cavalo uma sova e o jogava bem nele. Ele temia a morte e agora a via.

Havia uma glória retórica introdutória e ele apagou... Como uma fraca chama na tempestade de vento. Não acompanhou a visão e nem lembrou, se assustou quando acordou e ainda naquele primeiro parágrafo persistia no tema dilema: sobrevivência ou morte? Testou sua respiração. Ele não sabia se precisava nascer ou de ressuscitação. Prendeu-se a um verso secreto entoado em sua Alma.

Com calma levantou. Ele não havia morrido porque para morrer basta estar vivo e ele tinha certeza de não ter vivido ainda. Como queria a ida para a eternidade, precisou ficar à vontade, pois na leviandade praticada não era nem zumbi quanto menos nada. Precisava pegar palavras e tentar significar seu sangue. Este precisava derramar sem intenção de salvar ou condenar. Foi para a esquina anunciar em cartaz com sua escrita em sangue: Está morta a morte, morra e viverá.

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