quarta-feira, fevereiro 25, 2015

suficiente (miniconto)

por Rafael Belo

Tem horas que é melhor não falar e elas são quase todas. Mas já está dito não adianta chorar pela verborragia jorrada. Se era melhor o silêncio? Prefiro não comentar e você também poderia ter optado por esta... Agora escorregou nesta opinião egoísta e segregada e fica na ladainha das desculpas? Você tem culpa. Assuma-a. A verdade é: não ligo. Mas vou manter no pensamento essa verdade porque se ela a ouvir vai achar outras situações não presentes e achar também fica na preferência do silêncio. Nem o corpo diz nada. É a deixa em que tudo se cala.

Sabe nós dois falamos muito, às vezes, sem dizer coisa alguma. Nem sequer somos um casal. Não há as falas clichês, nem algo a nos definir. Aliás, a única coisa definida é a palavra definição no dicionário. Nem sei porque este é o único livro por aqui... Gosto do silêncio e você... Bem você pensa saber o próprio gosto. Eu não sou arrogante, apenas te conheço bem.... Eu? Sabe meu gosto por ser misterioso e minha raiva por interpretações toscas.

Já não sei lidar com ele mais. Ele me irrita... Agora chove lá fora e eu não consigo sequer chorar. Não gosto de interpretar, mas me repito muito sem perceber, isto porque é o que a chuva faz comigo. Eu choro... Lembro bem de antes de nós dois, mas nada decoro. É claro que há nós dois, certo? Lá está ele ao invés de estar aqui. Pode ser... É podemos nos encaixar no perfil de dois estranhos ou dois malucos bêbados...  Definitivamente somos um porre, aliás dois...

Poderíamos nos beber e quem sabe nos encontrar. Um no outro ao mesmo tempo, no mesmo palco. Ele me olha como se estivesse do outro lado deste pensamento, mas porque só olha e fica lá olhando? Não. Ele me conhece. Podemos ser dois pássaros ou quatro... Quem sabe o mesmo saltitando... Talvez seja ele meu orgulho... Somos independentes, mas conseguimos ultrapassar esta deturpada definição. Somos péssimos bons atores, nem sabemos usar estas máscaras rachadas... Sem marcação, sem cortina, mas com ação... Estou indo meu bem e lá vem você também... Ah, como o corpo fala. Tagarela. E nós somos definição suficiente, sem atuação. Esqueça as próximas cenas, direçãoooo.

Nenhum comentário: