por Rafael Belo
Na primeira das quatro conduções que pegaria nesta
sexta-feira, Alan Menos já sabia das feitas dos caminhos certos. Eles iriam
aprontar novamente, aliás, já estavam fazendo. De pé no ônibus tentando não
pensar em nada olhando através de tudo lá fora, Alan tinha certeza que o senhor
a dizer ser abençoado por Deus entregando papeizinhos escritos à lápis com
letra incerta e tremula, sabia ser mais fácil receber algo daquelas pessoas
sentadas no coletivo a um centavo de pessoas possuidores de fortunas.
Mesmo assim recolheu seus papeizinhos sem receber
nenhum dinheiro, mas sorria silenciosamente como se tivesse um segredo. Talvez
alguma satisfação da quietude provocada em uma dezena de mulheres amigas
tagarelando até há alguns instantes sobre comprar demoradas no Brás...
Provavelmente não!
No metrô um idoso, de bengala e arrastar de pés,
senta no banco reservado de direito. Algumas estações depois, Alan já percebendo
a movimentação de quem vai se levantar para descer, abre caminho, mas mesmo
assim vem o surpreendente pedido de licença e o contorno pelas costas de Alan. Talvez
seja orgulho de continuar fazendo algo por si só e ouvir a própria voz
corajosa... Provavelmente não!!
A caminho do ônibus interestadual, Alan observa um
senhor aparentando mais de 70 anos, porém com quase 40, tremendo no frio
paulistano escondido na neblina. Seu único casaco de couro já despido em mãos
quando recua em um não mental. O friorento
já sabia o que viria e fecha o rosto com direito a raios e trovões. O casaco
preto de couro era a única roupa de frio de Alan e ainda unitária herança, além
das lembranças, do falecido avô.
Vestiu rapidamente o casaco, pegou seu cartão e iria
gastar o crédito que não tinha para aquecer aquele desprovido de tudo Menos da
vida, mas este negou dizendo que nada novo o iria ajudar. Negou tudo de Alan,
lhe rogou uma praga e foi engolido pela multidão, que de repente, assim como
Alan se dava conta do quanto estava atrasado para os trabalhos verdadeiros. Alan
decidiu nunca mais ignorar os seus instintos e seguiu seu destino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário