terça-feira, janeiro 05, 2016

brinquedo real


Entre os dedos as próprias asas
escravas de correntes fantasmas
constroem ventos dos movimentos
estes que não fazem e mesmo assim voam

deixando sua poeira luminosa farfalhar
com seu rastro em camadas pelo ar

forjada frágil flexibilidade ecoa mares revoam
chuva de rostos entoam um canto
apanhando borboletas fazendo um manto
para caminhar na inexplorada floresta

onde nos resta lembrar
do que são feitas nossas asas
e voar sem medo antes mesmo de nos soltar.

(às 10h33, Rafael Belo, terça, 5 de janeiro de 2016)

segunda-feira, janeiro 04, 2016

Do que são feitas as asas das borboletas?


Os passarinhos te observam de longe ariscos e prontos para protegerem as asas. Esta é a liberdade rimando com verdade. Eles esperam você estar a uma distância segura para agirem e enquanto não fizermos parte do lugar, formos mais uma cor na vegetação, seguem da mesma forma. É natural. Quando estamos sós não nos sentimos mais livres? Ao tirarmos as restrições, cobranças, o inútil sentimento de posse e estarmos bem com quem somos nos sentiremos com quem amamos também.

Somos condicionados a sempre colocar e não tirar. Ao menos não tirar de verdade... Tirar aquela imensidão de roupas que passam meses esquecidas em algum canto do guarda-roupa e alegamos afeição por elas, tirar aquele alimento que nos faz mal e o acusamos de ser gostoso, retirar aquela palavra que ofende e insistimos não ter outro jeito, além de outros detalhes responsáveis pela vida... Para tanto precisamos limpar a poeira do músculo responsável pelos músculos: o cérebro.

Pensar e esvaziar a mente são dois atos humanos a nos humanizar quase na mesma medida de um sincero sorriso e daquela chuva necessária depois de um longo período de seca. A liberdade obtida ao compreender estas necessidades do corpo, da alma, do coração e da mente é o caminho para tirarmos as correntes que colocamos nos nossos pulsos e tornozelos. Mas quando soubermos do que são feitas as nossas asas nada nos prenderá porque uma mente limpa e consciente voa.


Nossas asas são forjadas de finas camadas responsáveis por nossas cores, proteção, pela ação da corrente de ar, nosso aquecimento e espalhar de calor. Assim, desengaiolados como a esperança solta neste 2016, podemos ser sinônimos do cheiro dos ventos dos morros, o frescor da mata selvagem, a invasão das flores e, portanto, das borboletas dos mais variados tamanhos, formas e cores com a possibilidade de registrar todos estes momentos e espalhar as sementes, os aromas e um pouco de nós, frágeis, resistentes e flexíveis, por isso somos mais borboletas que pássaros.

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Eu Tempo (miniconto)



“O que aconteceu entre nós será notícia no primeiro dia do ano, o que veio antes e virá depois irá preencher o início do novo... Você é meu ano novo – sempre digo isso – e também minha virada”, ontem eu disse isso para a Força e pensava se o silencio era melhor diante da quantidade de palavras, ou melhor, sentimentos a dizer. A olhei nos olhos até tudo distorcer perante as lágrimas de entendimento escorrendo sobre meu sorriso bobo.

Bobo ou não era fácil ver que todos esperavam 2016 e há algumas horas este ano chegou mesmo com a cachorra olhando sem noção de ir ou voltar. Sexta-feira é um ótimo dia para chegar como quinta também o é para partir. Não sei se há forma ruim de ir embora ou chegar e por mais maltratado que 2015 tenha sido, acredito terem sido necessários de alguma forma o que se passou. Até os piores anos aconteceram e não foram todos eles eu?

Podem dizer - e o dizem – eu ter sido mal coletivamente e não tão bem individualmente, mas reclamar resolve? Tomar atitude não é remédio é ação. Movimento da mente e do corpo, mas olhe bem: tanta gente foi incrível e para tantos foi maravilhoso. Desde antes de eu começar a ser contado já dependia da forma de olhar, de se comportar, de dar o primeiro ou último passo... Só digo ser inútil me marcar com números e me guardar com as roupas limpas, pois eu serei um lençol branco, porém sujo, te assombrando.

Prometer ao seu suposto ano novo ser diferente do velho não só seria um despautério (ou besteira mesmo) como agir da mesma forma não, não, não, na na na na na não... Você será passado como eu sou fragmentado para todos terem referências ou o mais próximo de uma lembrança datada. “Enquanto tudo acontecia eu crescia sem saber ter que perceber, mas percebia não ser mais o mesmo e pela primeira vez me comparei com um rio...”, disse a Força certa vez.


Falar de movimento das horas... É falar de mim. É como a ladainha sempre feita e eu sou o culpado do início ao fim. Vocês dizem 2016 promete. Eu lembro que sempre dizem isso e mais recentemente 2015 também não prometia? Sou eu ambos os anos! Eu exijo que faça algo, mas não prometa e me use! Chega de me desperdiçar e ignorar e esperar algo de mim... Eu vou envelhecendo (admite envelhecer e reconhece?) não mudando de nome. Não venha me perdendo, me contendo ou me comendo, pois sou simplesmente o Tempo e não deixo de passar.