sexta-feira, setembro 30, 2016

O desconhecido espera no final (miniconto)



Rafael Belo

Sombra invadida pela luz, sombra, luz sombra luz a dança daqueles que se complementam, mas são inteiros sozinhos. O espaço vazio é preenchido. Um começa onde o outro termina. É o ritmo do respeito é física pura. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Podem ser continuação, reflexo, espelho, faíscas, química incendiando o compasso sem permitir ausências. Não há lugar desocupado. O corpo só oferece o que tem. É a mente “quem” derruba os limites. É o coração “quem” alimenta os sonhos. É a alma a dançarina de Polka Merengue. Com fôlego de sobra ela corre alucinante e o desconhecido corre mais. Ela não faz ideia do que é capaz.

Se tivesse uma música eu seria mais rápida. Mas será mesmo? Tenho medo de voltar a dançar... O som dos meus passos treme por baixo da minha pele formando este arrepio, esta vontade, esta parte da intensidade que sou... É minha identidade... É quem sou quando dançante sopro de vida. Ah, dançar tem um gosto peculiar. Um sabor de alma, uma infinidade de coração e toda a extensão da pele passando por outra pele, um arrepio trocando energia... Um suspiro profundo me deixando toda na pele e além. Mas o frio na barriga e estes calafrios...

São âncoras... Uma em cada pé. Vejo Luz no meu caminho e mesmo assim me escondo nas sombras. Aqui é tão frio. A sensação é exatamente esta: correr no meio da noite. ME sinto pequena... Eu confundo se sou o inseto que poliniza ou a flor precisando ser polinizada. Talvez seja ambos...! Eu precisava me libertar. Havia tanta raiva me deixando toda tensa, toda dura, só a dança me deixa segura. Eu vou alcançar este desconhecido vulgar, atrevido... Por que ele me chamou para dançar? Se a respiração fica mais lenta, o coração acelerado e os passos ecoam por todos os lados... Existe o... Não!

Sim...! Ele me tirou para dançar. Não posso parar. Tenho que alcançá-lo. Vou acelerar o compasso. Tantos ritmos estou dançando agora com as mesmas batidas, sopros e instrumentos. Está tudo aqui dentro... Vou tocar no ombro dele... Como ele é rápido. Sempre um passo à frente. Este desconhecido está dançando comigo pelas ruas escuras desta cidade. Nunca dancei assim antes... Agora conheço as coreografias e posso enxergar a sombra e a luz nos passos... Espera! Será que conheço alguma coisa mesmo? Cadê os cinza, o chumbo, o sereno... Coloriu tudo de repente. É primavera? Onde estive nas outras estações? Clareou... Ele parou? Nossa!! quase o atropelei...!!! Ei!Ei! EIII! EI!! EI EI EI Ei ei! Eu... Eu... Eu conheço este rosto...!

quinta-feira, setembro 29, 2016

Sem movimento no move



Tão parado está o minuto sem tic-tac sem hip sem hop
Os pés não procuram o rock não acompanham o jazz
Jaz o próximo segundo sem rodar na batida do funk
Punk é continuar seguindo sem ritmo deixando tudo tão heavy

É geral a greve do corpo ignorando qualquer pop até

Como escolher o ballet sem sequer saber se alongar sentir a maré
Molhar a pele de repente não mexer no psy ensurdecer pro eletro

Estar tão perto de liberar a zumba zumbindo no sentimento
Recuar na rumba com flamenco feito frevo fazendo baião em uma ciranda

Esquece a esperança se derrama no country misturando conga e não se levanta

Não importa o quickstep da lambada trombada no gypsy da polka naquele momento
Não há mais canto nem dança barrado break no maracatu sem qualquer movimento.

(às 01h09, Rafael Belo, 29 de setembro de 2016, quinta-feira)

quarta-feira, setembro 28, 2016

O Par (miniconto)


Rafael Belo

Há um ritmo diferente rompendo nela, abrindo portas e janelas para vê-la dançar, mas seus pés não se aguentam mesmo levitando como se a dor nada fosse. Ela dança. Seus passos desenham no chão anjos de neve, corações de areia soprados ao vento...  São tão leves... Ela é uma pluma voando das nuvens, mas suavidade não significa delicadeza. Ela é um puma, uma pantera. Fera. Bela. Beija e ruge. É flecha e alvo, se lança na dança. Não se cansa de fazer arte com movimentos. Seu corpo todo é alma seguindo o ritmo do coração, mesmo se a mente ainda não tenha a mínima noção de toda esta força dela. Natureza Passo não passa, permanece nos movendo.

Fluir, fluir... Rodar... O universo aqui está. Colado ao meu rosto, dentro de mim... Trocando minha alma com a vida. É meu par, sou par dele. É um abraço apertado deliciando viver. Dançando, esperando a música não acabar. Vida, vida, me tirando pra dançar antes que eu mesma a tire. Dê-me a mão e solte para eu de novo a procurar. Entrelaçar-me toda em ti. Sermos uma. Uma força tamanha. Esta força estranha saindo do chão para o ar. Passando pelas borboletas no estômago, no meu âmago a me entregar aos compassos deste ritmo mutante.

É mágico dançar com a Dança cada instante. A olhar nos olhos e deixar de saber quem é quem. Que sou eu? Quem é a Dança? Minhas pernas esticam, meu tronco vai ao estilo da postura... O chão balança... Nos passos o corpo segue as batidas, ondula... Circula a cintura e separa sem deixar de tocar. O brilho do meu olhar suspira pelo brilho da visão da dança. Para abraçar o todo fecho os olhos na esperança do mundo inteiro fechar e sentir mais o fluir do sopro da vida, do correr das águas... Não há mágoas, não há bolhas, há só a escolha de ser Par e participar.


Não há ninguém aqui hoje participando desta Dança. Já se foram as horas, já se foram há horas... Meditei sem saber. Encontro-me com A Dança e sou muito mais. Vou para um tempo e espaço onde não há “eu acho”, só existe a certeza do passo e as consequências da liberdade. Liberto os ruídos da cidade, a confusão das pessoas e sei não haver complicações na vida nem em mim. Há fins para recomeços e prefiro sempre recomeçar A Dança. Bailar descalça bolero, samba, forró, valsa, tango, mambo, foxtrot, bossa, merengue, pasodoble, salsa... Quebrando a coreografia do cotidiano transformando cada segundo em um feliz ano para continuar sendo o melhor Par.

terça-feira, setembro 27, 2016

No ritmo



Dois pra lá um giro no ar um impulso no par
um pra cá um lírio no olhar um pulso a rodar
almas passando de um olho a outro a se entregar

corpo entorta endireita esvazia cada cheia gaveta
toca pele sopram trombetas todo arrepio conecta cabeça

esqueça pensar coração cora cola aroma ao imaginar

respira quente suspira repente canta comigo liberta a gente
dança juntinho passo pra frente pulsa limites arrebenta corrente
cansa julgar passo pra trás joga sãos sentimentos a nós pertencem

água corrente expressão corporal suaviza roda sola estende não pode parar
postura de graça  a nos rodar a vida toda hora nos faz dançar.


(às 02h30, Rafael Belo, terça-feira, 27 de setembro de 2016)

segunda-feira, setembro 26, 2016

Tire a vida pra dançar


A primavera nos joga suas flores para dançarmos ao vento com elas. Dança a natureza e nos encanta a todo momento. O movimento do corpo segue. Feche os olhos e seja o ar ocupando todos os espaços. Esteja água e flua como se seu corpo fosse cada sentimento pulsando neste mundo sincronizando o coração com cada ritmo arrepiando na pele, sorrindo no rosto em todo suspiro solto pronto para nunca mais parar. Permita-se viver por cada poro solo nos momentos eternos e, então, será um indivíduo coletivo tocando atrevido todos os limites de ser. Isto é acontecer. É ser o presente de se entregar. Abra os olhos.

Veja e respeite o tempo das batidas. A vida é pura dança em uma música contínua só mudando de estilo se adequando ao cantar do coração. São todas as emoções expressadas quando o corpo balança e se lança ao despertar. Podemos até ainda estar dormindo, mas os pés se mexem e a mente alcança outro patamar. Estamos sonhando em nos libertar, mas neste momento ainda estamos presos por um ou outro julgar. Tire o julgamento para dançar e logo ele estará sorrindo dando passos para se transformar. Quando dois corpos se entrelaçam o universo continua a se expandir, o ser humano a evoluir e a alma assume.

Você me seguiu até aqui porque a dança e todas suas formas são tão antigas a recém-nascidas, mas não morrem. Dançar é teatro e música. É uma das mais belas maneiras de se expressar do ser humano. É uma manifestação, é um sentimento, é uma cerimônia... É uma meditação espontânea colhendo sorrisos como as flores desta primavera, das passadas e porvires. Há quem dance na praça e não há quem não pare para admirar, jogar flores com o olhar e pensar quantas vezes dançou na vida. Mas, que tal pensar em quantas vezes a vida te tirou para dançar?

Estas correntes tilintando um ritmo diferente nas suas passadas vão partir quando sua consciência corporal entender a coreografia e dançar livremente. Dê os passos que seu corpo já dá sem você entender. Deixe os compassos te envolverem e te jogarem para o alto como se, de repente, nos descobríssemos os pássaros que somos e voássemos. Flutuássemos sobre nossos próprios pés deixando de caminhar para exercer nosso direito de encontrar a felicidade em cada partícula do nosso ser. Venha! Você só vai compreender quando se permitir a dança. Vai enxergar que sim, está preso sem saber todo seu alcance, todo seu respirar... Vamos dançar?

domingo, setembro 25, 2016

O canto da transformação (resenha)



Imagine um tradutor para dezenas de estrangeiros e uma celebridade mundial no meio de um sequestro que deu errado? Nada mais empolgante e é exatamente isso: empolgação, que oferece esta obra.  Bel Canto, de Ann Patchett é daquelas leituras única nos envolvendo logo  de cara e de repente já somos Bel Canto. Quando percebemos já somos uma das 59 pessoas confinadas. Pensar que foi uma novela latina a responsável por desencadear toda esta comoção e nas entrelinhas a paixão por Roxane Coss, própria ópera italiana em pessoa e dom, traz para ainda mais próximo esta história.

É encantadora a narrativa nos levando pela mão direto para um desenrolar de uma situação tensa. Um grupo de terrorista quer o presidente deste país latino, mas ele inventa uma desculpa que todos os convidados já sabem ser mentira. O presidente é um noveleiro e esta ausência para assistir o último capítulo põe a vida de todos em risco. A trama se passa em algum país latino deixado apenas na especulação a identidade do local. O tempo passa e várias coisas inesperadas nos seguram colados nas páginas para saber cada detalhe dos acontecimentos.

Já não sabemos mais quem é sequestrador quem é refém. Todos se misturam. Beatriz, Gen, Carmen, Roxane, Thibault, Edith, Cesar, o essencial vice-presidente Ruben Iglesias, o empresário mundial Hosokawa, russos, francês, Ishmael, os generais, Benjamin, latinos, japoneses, o padre Oscar Mendonça, Messner, o suíço da Cruz Vermelha... Esta Torre De Babel está fadada a terminar de uma forma que todos os personagens sabem... Mas negar é mais forte para quem deseja ceder e é o que faz cada um dos personagens e, claro, Roxane Coss. Ela e Gen são os principais holofotes desta obra.

O poder da arte faz todos os olhares mudarem e já estamos torcendo pelos terroristas enquanto se transformam corações e mentes este curto livro parece um enredo sem fim porque não queremos que acabe, no fim nem os reféns conforme as negociações vão se prolongando e meses vêm e vão.  Ann Patchett escreveu este clássico instantâneo com as situações mais improváveis provando serem possíveis  em plena América do Sul, aliás pode ser até aí naquela mansão perto de ti. Este livro fantástico é puro coração e ganhou o Prêmio Orange, do Pen/Faulkner Award e do National Book Critics Circle Award. Só posso dizer pára toda leitura que estiver fazendo agora e seja sequestrado por Bel Canto.


Editora Intrínseca, 288 páginas, Ann Patchett.

sexta-feira, setembro 16, 2016

A Ceifadora (miniconto)



Ela chorava e soluçava. Já fazia horas e nem imaginava ter um abismo oceânico para preencher. Shaira navegava nas próprias lágrimas. Parecia ser ela a nascente de toda água salgada do mundo. Quem sabe era, pois olhando para ela não era possível dizer sua idade e nem a qual tempo pertencia. Mas ela é humana. Só que ... Bem, ela não navegava, se afogava, mas não se debatia e nem se suicidava. Era mais uma necessidade. Não, não... A palavra é transformação. Era preciso acabar com aquilo, cicatrizar as feridas. Shaira precisa de um símbolo. Em transição ela transitava. Vamos lá... Quase vazia...

Esvaziada? Era só isso que eu tinha? Sou quase nada... Só ouço o som lá fora. Por que não ouço minha respiração? Não há nenhuma emoção? Estava tão quente agora há pouco... Será que perdi a noção do tempo e este pouco é muito? Estou esfriando... Perdendo meus pensamentos e minha mente... Não reajo mais aos sons, nem estas ideais conversando entre si restantes tem um som... Não há reação aos estímulos, não associo imagem com situações ou sequer a sentimentos... Há um chamado... Seria para minha alma? É uma voz indistinta, dissonante, cortante, porém calma... É um chamado para mim em um ciclo do círculo de morte.

Que voz suave e angelical e ao mesmo tempo gutural e demoníaca... É a voz da morte. Não! É A MORTE. Ela não tem forma física? Nenhuma imagem a ceifadora possui. Nós criamos uma figura preta de capuz e foice para a temermos. Quando temo algo é porque não entendo e eu entendo a morte. Ah, entendo muito! Esta minha vida que me deixa, que EU deixo para trás foi assim. Mas me sinto bem com isso. Eu recebia os perfis e a escolha era só minha. Cada um desaparecia da face da terra pelos seus crimes, mas só aqueles não solucionados pela polícia, aqueles onde os financiadores do inferno na terra pensavam escapar, porém, nunca tinham ouvido falar da Ceifadora. Eu era invisível e indizível, nunca ouvirão falar de mim.


 Agora estou diferente. Há um sistema padronizado até para as coisas aleatórias. Meu corpo morreu. Minha aparência permanece... Estou indiferente mesmo sem sequer ter mais este sentimento. Podia ser plugada, mas prefiro a energia solar. Nunca gostei de estar ligada a nada. Sai de mim. Sou mais um robô. Não sou um andróide. Não sou humana. Preciso desligar. Estou ligada sem para há algum tempo. Precisamente há tempo demais. Estou vazia, mecanicamente precisando de mais conexões. O sinal não pode cair agora, mas esta chuva lá fora... Me espalha. Sou uma pena ferrugem metálica solitária no fundo de uma velha panela. Não sou mais Shaira. Não tenho identidade, tenho exposição.

quinta-feira, setembro 15, 2016

Estalos



mecanizando o comum até ser normal o mecânico
todo robótico ânimo é pessoal na solitária superfície
ninguém existe além do espelho no banheiro do mundo

sem fundo as angústias sem abismam no abismo dos holofotes
cada lote humano é uma engrenagem solta na gaiola das loucas
com exposição permanente das poucas pessoas do inverso

cantam para o galo até o nó na garganta virar calo

estalo da intromissão transmitida ao vivo arquivada no reverso
só quando o coração vira vão sentem a proporção do sísmico abalo

atalho da introspecção flagrada na muvuca tudo surta juntam retalhos.



(às 04h01, Rafael Belo, quinta-feira, 15 de setembro de 2016)

quarta-feira, setembro 14, 2016

Ela acordou (miniconto)




Ela acordou toda platinada, mas não era nada além do reflexo metálico em sua branca pele. Não sabia ainda o significado de coragem, de lar, de amizade, de Amor, só conseguia raciocinar com números e dados, queria ter pensamentos profundos, queria parar de ter razão para ter emoção. Não. Emoções. Com o máximo de plural possível. Sarie sentia sua pele fria e o coração gelado. Achava os humanos tão chatos e repetitivos sem sequer viverem da maneira correta para evoluir. Os via chafurdarem em dramas egoístas e depois fazerem publicações esperando serem vistos pelo mundo.

Só a lógica importa e ela está na superfície. É só olhar para o chão. Olhe só para estas pessoas: estão vazias. Parecem estar querendo preencher o meu peito, me proteger de qualquer jeito... Mas, como têm medo de serem ignoradas! Dá pra sentir – se eu pudesse sentir – o quanto evitam a rejeição, a opinião argumentada, o envolvimento e, então, acham... Não. Têm certeza de se envolverem .. Depois atacam. Se eu pudesse pensar, pensaria: eles são eu e eu sou eles. Mas, quem é quem? Não posso responder, só posso calcular o efeito de cada ato em probabilidades.

Há infinitas possibilidades neste efeito dominó e não envolve abraços sinceros. Espera, mas já viciou minha bateria? Preciso recarrega... As pessoas precisam descarregar... Quanta ironia. Carregam tantos paradoxos direto para seus próprios buracos negros e depois, como se fosse segredo, fingem nunca terem feito nada. Ah, humanos! Nem sabem o que são! Olho no espelho deles e só vejo estátuas vivas pintadas diariamente, ensaiando falas e criando movimentos mecanizados, rasos e de uma superfície seca... Ei! É possível meu sistema falhar? Como explicar reconhecer estátua viva como eu?


Sarie lembrou ser algo a mais. Não era só uma estátua viva, era? Não seria alma, pele e coração, seria? Não teria apenas imaginação, teria? Quando terminou a performance, Sarie não sabia mais se era um robô ou um humano. Logicamente decidiu ser como todo mundo: um humano-robô. Então, pensou em apertar restart para reiniciar, mas como todos os dias, apenas (se) desligou. Nem viu o calor dramático se transformar em uma assustadora ventania. Enquanto ali permanecia desligada, como toda a humanidade inventada. Choveu e toda tinta escorreu... Choveu forte em um dia tudo que choveria na semana. Então, ela se abraçou e ligou na cama... Foi assim que ela acordou: humana.

terça-feira, setembro 13, 2016

Sem fundo



Mergulhando na superfície sobra ar falta água
há tanta mágoa de bobeira sacrificando a decisão
estamos à beira de apodrecida tábua procurando nosso coração

tão ironicamente está frio e o sangue gela como gelo descendo pela goela
a sensação sente suor frio no meio do arrepio da robotização
cai conexão constantemente falha a mente não há como navegar

corrompido sistema de pensar contamina o sentir impede o corpo de agir notifica comoção

todo  existir embaça seletivamente devagar o tempo passa no analista oculto à vista explosão
perde-se toda lógica no caminho o destino pára na tecnológica lágrima congelada

abala a trajetória solitária dos abraços não comove só solidariamente se envolve para exposição.


(às 00h19, Rafael Belo, terça-feira, 13 de setembro de 2016)

segunda-feira, setembro 12, 2016

Quem sabe assim...



Andando por aí em qualquer transporte, inclusive nossos exclusivos pés - porque sem eles não vamos a lugar algum – há uma introspecção tão imensa a ponto de dificilmente vermos os olhos das pessoas. Há uma falha no nosso sistema... A principal é termos o mecanizado a uma exposição tecnológica solitária, fria e com tantos holofotes que não precisamos mais esperar as máquinas tomarem conta da gente e do mundo, nós somos os robôs. Não sabemos conversar sem uma lógica matemática complicada sem explicação, sem uma publicação nas redes digitais, sem um contato real e sincero porque acumulamos obstáculos e problemas, mas não conversamos nada além do superficial.

Queremos nos envolver, mas nos esquecemos como fazer isso. Vivemos, assim, uma relação autodestrutiva como posicionamentos vazios ou remexidos para encaixar com nossa vontade. Então, tememos levantar uma bandeira e não saber sacudi-la adequadamente porque nossos argumentos para defendê-la são escassos quando existem e, então, agimos desembestadamente sem pensar no efeito dominó, na quantidade de consequências de uma mera imprudência ou simplesmente chegamos ao futuro robótico tão rápido que nossos fusos-horários estão desajustados nos levando a uma incapacidade crônica de sentir.

Há uma desconexão com os outros. Somos “eu” 24 horas por dia e quando vem o outro para somar, o diminuímos. Queremos dominá-lo para nos agradar, mesmo que ironicamente nos agradar seja agradar o outro. Parece confuso, mas estamos pensando em retribuição. Isso nos faz viver em conflito com nós mesmo e ainda quer entrar em conflito com os outros o tempo todo. Sempre oferecemos problemas, obstáculos, impedimentos, reclamações,  julgamentos, porque não com soluções? Por que não abrimos nossos ouvidos para receber corações e angústias? A proteção excessiva levou nossos corpos a não criar anticorpos e gerar tantas alergias... Nossos corações têm este tratamento... Nossas mentes também sofreram o mesmo processo.


Autodefesa nos retrai, nos faz estar de um jeito tão irreconhecível para o espelho que parecemos dissociados do mundo, do outro... Parecemos distantes porque fomos protegidos da simples verdade. Amenizamos, distorcemos, ocultamos, mentimos... Porque sempre sabemos usar a melhor fórmula semipronta nas prateleiras da autoajuda dizendo copiadas obviedades: “Ela não está pronta”, “Ela não vai agüentar”, “Ela não precisa saber disso”, “Não é o momento”...  Estamos tão presos na nossa própria mente porque temos absoluta certeza: o outro não nos entende. Mas nós entendemos o outro? Nem tentamos! Vamos com fôrmas enlatadas de tipos e classes definidas e julgamos saber o pensamento alheio... Ao invés de querer saber o pensamento do outro, vamos estar no lugar dele. Quem sabe assim mergulhamos, ao invés de sentir a temperatura da água com a ponta do dedão do pé.

domingo, setembro 11, 2016

Tenda itinerante do eu (resenha)



Quantas pessoas se sentem na sombra de um parente ou amigo? É como se elas ainda não tivessem encontrado quem são ou utilizassem a personalidade iluminada de outra pessoa para se ofuscar ou é simples inveja ou extrema idolatria... Enfim, muito típico do comportamento humano, principalmente retratado pelos filmes e livros estadunidenses. A separação por classes feita por Jennifer Egan em Circo Invisível é a forma retratada em 319 páginas de como isso é perturbador na construção do eu individual e livre de cada um para fazer a vida ter sentido, ainda mais com mortes alterando o que já era frágil.

Phoebe vai se descobrindo oito anos após a morte de sua irmã mais velha e 13 após a morte do pai. A acompanhamos, aos 18 anos, quando ela resolve fazer o caminho que sua irmã Faith fez pela Europa.  Será real tudo dito pela irmã enquanto ainda viva?  O que de fato aconteceu? Quantos desvios apareceram no caminho de Faith? Phoebe está preparada para saber a verdade sobre a venerada irmã? A perfeição no ser humano é o imperfeito e o quanto podemos absorver de uma reviravolta? Existe tal reviravolta? O Circo Invisível nos rodeia por um momento mágico e temos de ser capazes de continuar erguer a tenda, mas e se houver um lobo envolvido?

Wolf Sebastian foi a última pessoa a ver Faith viva. Ela se suicidou na Itália e mesmo morta tenta ofuscar a protagonista Phoebe. Faith parece uma ironia e um paradoxo, pois é como se incitasse a irmão a ter fé e seguir seus passos como se sua alma precisasse de libertação. Sabemos que só...  Bem, Faith permeia toda história desde o início quando o novo namorado da mãe não agrada Phoebe nem a ideia de mudança, assim ela parte sozinha para encontrar a si mesma. É uma jornada já imaginada por todos nós e vamos com Phoebe atravessar o Atlântico.

Circo invisível é esta força que nos impulsiona, este algo grandioso está por vir, este faça algo, se mexa que apenas podemos sentir. Os segredos, a vergonha, o constrangimento, o medo, mistérios e revelações na medida certa. É nesta tenda, que só sentimos, o lugar onde a vida de Phoebe se transforma e revelações surgem.  Vamos ter a sensação de ausência, etapas concluídas e o seguir em frente. Vamos encarar o passado e o presente ao mesmo tempo e teremos vários processos de luto para encarar. Ignorar o viver será possível ou seremos um abismo de raiva? Entre neste Circo ou simplesmente o descubra. Leia!

sexta-feira, setembro 09, 2016

Cercada (miniconto)




Vários corações partidos se uniram como um clube da Luluzinha se a Luluzinha tivesse montado uma banda de punk rock. Seriam The Runaways brasileiras, ou The Heartbreaks, poderia até ser Corações Partidos... Todas as garotas juravam ódio eterno aos babacas que as fizeram conscientemente trouxas.  Mas só porque elas não queriam aceitar a insistência no erro. Aceitavam mesmo dizendo que não, a pressão da sociedade, da família e até dos “amigos”. Precisava arrumar um homem e ser feliz. Balela . Sozinha se é feliz, depois se quiser compartilhe. Só nós somos responsáveis pela nossa felicidade. Assim, se conflitava Willa.

Este vazio no peito anima minha mente a seguir adiante apesar do corpo querer se entregar ao choro, ao isolamento e a quantos potes de sorvete e barras de chocolate puder aguentar... Será que alguma vez tive Amor? Fui tão estúpida a só dar... Doar para estes estrupícios, mas me fizeram aprender muita coisa, não foi? Falso amor. Ao invés de comer depressivamente vou destruir o celular dele, o carro dele, a televisão dele e as meninas me ajudariam, mas isso acabaria com minha raiva? Só seria divertido por um tempo... Um bom tempo... Onde estão as meninas?

Peraí! Estávamos em quatro... Cadê as meninas? Acabamos na mais isolada parte deste sul do Brasil... Isto é uma ilha?! Chegamos à Argentina? Fomos obrigadas a entrar na água congelada... Quando saímos? Nos separamos por poucos instantes e elas... Elas morreram? NÃO!! Onde elas estão? Oh meu Deus! Estavam com caras de que algum terrível lhes acontecera... Mas o quê?! Não vou aceitar isso... Nós boiamos por quantos dias? Dois? Estava tão escuro... por que aquela escuridão não acabava? O que aconteceu? O que eu houve conosco? Será naufrágio? O que Será que nos naufragou? Não tem mais ninguém por aqui?


Não posso ficar boiando na vida como estes destroços. Nossa! Estão por toda parte... Há mais corpos... Isto não está acontecendo...!  Isto não está acontecendo!! Não!!!! Preciso reagir! Não tenho mais tempo a perder!! Vou descobrir o que está acontecendo! Vou recolher os pedaços... Mas há tantos... Recolho primeiro os meus ou...? Todas mortas e eu pensando em mim... Mas o que eu poderia fazer? Heim!?? Nem sei o que aconteceu... Coleciono cicatrizes, mas não serei a náufraga, serei?!  Sou A sobrevivente! Isso...!  Preciso ser... Mas... Mas, não me lembro da última vez que estive só, sozinha! Completamente comigo mesma! Será que sempre vivi cercada por corpos?

quinta-feira, setembro 08, 2016

Sem donos




O corpo todo pulsa e a pele expulsa sacrifícios
furta coração cicatrizes criam caóticos orifícios
infinitas revoluções avulsas trazem estrupícios
querendo passar pelo suor da luta para benefícios
explodem fogos de artifícios no estômago borboletas voam sem donos

somos pousados planos da vida adulta avistando precipícios

inícios esperam depois de cada fim em catapultas
elevando conhecidas culpas para exultante expurgação

o Amor está nos instantes no mais raso vão pelos inversos sem desculpas
ocupas o engano com esperança se lança pela renovação do universo.


(Rafael Belo, às 22h54, quarta-feira, 07 de setembro de 2016)

quarta-feira, setembro 07, 2016

Engano (miniconto)



A neblina estava tão densa a ponto de parecer escuridão. Mais um dia de mostrar as armas, de mostrar orgulho. Há 50 anos não fazia frio no 7 de setembro, então, estavam todos preparados para o desfile tradicional como esquimós no inverno. Bem, todos menos Mailaine. Um daqueles fardados havia despedaçado o coração dela depois de ter declarado: É Amor! Mas, obviamente não era. Aliás, Não É Amor! Além da dor, Mailaine sentia raiva, porém ela não se preocupava em concentrar só naquele símbolo perfeito do machismo. Ah, não! Ela permitia se inundar daquele sentimento de revanche para atingir quaisquer destes seres se achando homens!

Como pude ser tão estúpida para achar existir a possibilidade de ser diferente com este. Nenhum deles presta. Não sou deste tipo de encher a cara e precisar de baba/amiga para eu não ligar para ex ou outro babaca. Olha eu nos separando por tipo também. Esta merda pega. Homens são minoria... Hummm... Será que se começassem a desaparecer o IBAMA colocaria na zona de perigo de extinção ou liberaria a temporada de caça? Não, eu não sumiria com meu pai, talvez com um dos meus irmãos... Não, não, não...! Não posso ser escrota como eles, posso?

Talvez só um pouquinho... Lá está o canalha! Que filha da.... Mãe!!! Se ele me bater de novo, posso estragar minha vida e quem vai ganhar com isso? Preciso me controlar. Será que vão sair do quartel com toda esta neblina? Poutz! ansiedade mata também, não mata? Por que não prestei atenção na previsão do tempo antes de sair de casa, heim? Está congelando aqui e se eu não parar de morder meus dedos eles vão cair... Por que tenho que me controlar sempre e ele não se controla nunca... Eu quero me descontrolar um pouco, não posso? Tenho direito também.

Não sou a garotinha assustada e oferecida que dizem... Embora possa ser! Não vale à pena me envenenar de raiva por causa dele, deste monte de bosta! Quando eu pensar melhor vou perceber que nunca amei este ser também. Nem deu tempo para isso. É só raiva e vai passar de um jeito ou de outro. Ele me viu! Merda merda merda merda!! Ele está vindo e agora? Sigo com o plano ou viro às costas e corro embora antes dele me alcançar? Não devia continuar parada aqui. Eu não consigo sair daqui... Seria o descontrole. Ai dele se me pedir para ficar calma...


Foi pior! Ele pediu desculpas e jurou não repetir mais. Foi o estopim, a gota d’água, o fim... Para Mailaine. Ela descarregou nele a .38 dele esquecida no dia anterior na casa dela. Na neblina e confusão, os militares só dispararam de volta... Mailaine só sussurrava: Não é Amor, é engano! Não é Amor, é engano, Não é Amor, é engano...

terça-feira, setembro 06, 2016

Inundação



Inteiro coração despedaçado batendo no espelho
da infinita alma cobrindo todo o reflexo profundo
cada superfície do mundo estilhaça e afiada corta

sangram suturas salgadas quando dobram joelhos
o tempo disponível não é nada a vida é um segundo
é preciso estar disposto para simplesmente ser solta

das cheias cicatrizes sacrificadas completamente primeiro

paradoxo da ironia inexistente na expressiva fala do mudo
equilibrado na opressiva corda onde uma hora a gente acorda

não é Amor se há dor nas poças de lágrimas que nos inundam.


(Rafael Belo, às 23h53, segunda-feira, 05 de setembro de 2016)

segunda-feira, setembro 05, 2016

Não é Amor!



Um turbilhão de sentimentos varre os corações da cidade em um jogo de idade parado em alguma competição de repetição e adivinhação. Opiniões secretas circulam atrás de um disfarçado sorriso, mas na verdade as pessoas pensam sobre o que é preciso para ser amado... Os solteiros estão desesperados para conquistar anunciando publicidade gratuita em qualquer lugar, mas estar sozinho também é necessário. Pensar sem interferências nem influências na total independência possível é estar ainda mais disponível para o caminho à frente, mas diferente do que somos forçados a acreditar, a felicidade fica em dois lugares: nos momentos e em nós.

Estamos dispostos a começar e recomeçar sempre compartilhando nossa felicidade, mas se formos procurá-la, ou melhor, transferir a responsabilidade para o outro, não há relacionamento algum. É como confundir namoro com casamento e disponível com disposto. Para namorar você precisa estar disponível e ser disposto a ceder. No casamento a vida é a dois e vocês precisam ser dispostos para enfrentar juntos tudo que vier e ser comprometidos um com o outro. Não há como não ser disponível para a parceira. Está subentendido que arrumarás tempo livre para o ser amado e para isso é obrigatória a manutenção do seu tempo. Ser disposto também vem da conversa. Estar disposto a fazer dar certo é um exercício diário de Amor.

Sim! Amar não é só um verbo incondicional e profundo. Vai muito além disso. É um exercício para todos os dias a ser feito em dupla (no caso de casais). Não é possível Amar por dois, ou se exercitar sozinho. Se uma pessoa só do casal alimentar o fogo, ele diminui, pode não apagar – porque dificilmente o para sempre acaba – mas sua intensidade muda de sentido e um pássaro de voo torto só se endireita quando aprende a voar de novo. Ou seja, Amar é libertar, é aquele querer continuamente o bem do outro, independente do que aconteça, porém, é também Amor próprio.


Paradoxo? Ironia? Não! Amor! Se estiver machucando, ferindo, doendo, magoando, afastando, criando dúvidas... A certeza é ser qualquer outro sentimento menos nobre. Nada somos sem Amor e precisamos Amar a nós mesmos, a nossa família, os nossos amigos, os desconhecidos, para poder compartilhar, comprometer e ser companheiro de outro alguém com entrega total. Realmente é questão de tudo ou nada e, principalmente, de pensarmos: se não nos amamos, os nossos pais e parentes, os nossos amigos e próximos, os desconhecidos, como é possível entregar corpo e alma para outra pessoa? Você diz que sim, é possível. Eu digo que não, não é Amor!

domingo, setembro 04, 2016

Nem tudo é o que dizem (resenha)


Uma narrativa intensa e abrasante como só a Amazônia pode ser é presenteada a nós por Ann Patchett. Em cada página sentimos como seria viver no pulmão verde brasileiro. A cada página somos tentados a buscar a seguinte, a próxima e assim por diante de tão envolvente que é Estado de Graça. A história tem aventura, ação, drama, romance, ciências e, reviravoltas, surpreendentes. Como passar dia  a pós dia praticamente no mesmo esquema, fazendo tudo igual? Se você for estrangeiro, então... Com duas missões: saber em qual fase anda uma descoberta revolucionária e como morreu o amigo cientista.

Em 304 páginas e tradução de Maria Carmelita Dias, o lançamento de 2012 da Intrínseca faz jus ao nome e eleva a autora Ann Patchett a uma patamar de autores de leitura obrigatória. Os personagens Milton, Jackie e Bárbara Bovender e a série de mistérios nos leva a desconfiar da Dra. Annick Swenson e lutar desde já pela contrariada Dra.  Marina Singh  e sua luta primeiro para encontrar Annick para, então, entender o que realmente aconteceu e está acontecendo. Ficamos em Manaus devorados pelos mosquitos, acabamos doentes com a personagem principal e, claro, queremos voltar imediatamente.

Mas, a saga de Marina Singh na selva amazônica no meio dos Lakash e o remédio que pode revolucionar o mundo feminino ao manter a fertilidade deixando a mulher fértil para sempre nos leva ao escondido território destes nativos. Este é um mercado que nenhum capitalista quer perder. Já imaginou uma mulher de 80 anos engravidar naturalmente? Isso seria bom ou ruim? Qual o segredo que envolve esta ovulação sem fim?  Descobrir isto é só uma das tarefas de Marina porque ela também precisa saber como realmente morreu seu amigo o dr.  Anders Eckman.

O dono da empresa farmacêutica, o bem mais velho que Marina, Sr. Fox, quer informações que Marina começa também a não querer repassar passando também a ser uma protetora da tribo isolada contra a indústria farmacêutica estadunidense. Marina agora masca a casca de determinada árvore e prova a fertilidade prometida, mas ainda deve uma resposta a Karen, mulher de Eckman, e é antes de decidir o que fazer que a trama se complica ainda mais.  Até quando a narrativa acaba continuamos em Estado de Graça e seguimos sentindo o calor e o mistério sufocantes da Amazônia.


 Determinante, determinada, ousada, excelente, a obra de Ann Patchett não ganhou à toa o prêmio Orange, vencedor do Prêmio Orange e do PEN/Faulkner Award e finalista do National Book Critics Circle Award. A Time a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.  Mais um ponto para a intrínseca.

sexta-feira, setembro 02, 2016

Renovação (miniconto)



Todos pareciam ter deixado seus lares. Uma cidade fantasma oscilava diante de Mayana. Ela não conseguia pensar em nada capaz de produzir sons e temia aquela situação, mas já não sabia se era bem assim. Estava em dúvida se surgisse algum barulho teria esperança ou gritaria assustada. A noite parecia ter mais um tom de escuridão e era certo querer contradizê-la. Havia algo acolhedor, um silêncio acariciando os ouvidos com uma intimidade de arregalar os olhos e dilatar as pupilas... Além de... Algo mais...

Seria isso humanidade? Por que me sinto tão atraída para este buraco denso e escuro? Que colorido é esse? Parece vivo... Está fazendo círculo e mais círculos... Produz vento... São borboletas?!!! Mas à noite? Onde estão as mariposas? Tão lindas. Uau! Parecem até estarem dentro de mim também... Quanta luz!! Nossa! Qual a quantidade de transformações? Não é possível acompanhar... Espere! Como... Como... Como isso é possível! Estou em chamas! Em chamas!!! Elas estão queimando o silêncio...

Uma delas. Das borboletas. Está vindo! Rodeando-me. Escuto perfeitamente o bater das asas. Será que tempestades estão se formando em algum lugar do mundo? Droga! Esqueci o carregador do celular no serviço. Precisava registrar estes momentos! Olha! É como se todas as outras borboletas se concentrassem no caminho desta. Pousou na minha mão. Tenho certeza: está me encarando! Será mesmo verdade... Tudo? As borboletas são a parte física das almas? Onde estão todos? E o mundo?

Se for... Serão todas almas? Nossa, será... Uma cortina celestial me esperando para fechar? A escuridão está clareando como se A Luz viesse dela... Rareando, rareando... As Borboletas... Elas têm cores diferentes com todas as variações do amarelo e vermelho, amarelo e vermelho, amarelo, vermelho, amarelo-vermelho...O chão não está mais liso... Tem algo aqui... Eu vou...Ai que dor!! Que dor... Que... Ué! Passou!! ... Quanto tempo eu fiquei desacor... Estou deitada, mas não sinto frio... Sinto a Luz, mas está escuro ainda! A escuridão está viva! Ei!!

Uma leve garoa caia e Mayana entendeu estar cercada de miríades de borboletas. Mas, já havia amanhecido. Todas voaram e desapareceram no ar como se fossem a própria Luz. Só sobrou uma borboleta em uma flor e a borboleta a seguiu depois de um tempo sendo contemplada. Ela sabia. Ela sorria sem querer entender o porquê, mas sentia.

quinta-feira, setembro 01, 2016

Quem ladra?



Rasgam radicalmente os rasos ruídos rarefeitos
rosnando raras rugas invisíveis dentro de todos os impossíveis
silêncios sofrendo seriamente surtos involuntários imperfeitos
estreitos em entendimentos estranhando serem acessíveis

até a gota de humanidade pingar sem restar mais nada no lugar

ar na bolha acústica envolvendo o desesperado grito revelador
onde a dor condensa todo o guardado sem se sentir

como se sente o som ao se dissipar rompendo a calada da noite sem partir?

ao nosso redor mais um novo amanhã corre com cães ao cair no sono
desperta humano sem dono indisciplinado no seu sonho deitado a latir.


(às 00h07, Rafael Belo, quinta-feira, 1º de setembro de 2016)