Por Rafael Belo
Não consigo me lembrar de todas as escolhas. Elas me trouxeram até aqui. Neste
pensar em nada enquanto sou absorvida por tudo. Este olhar virgem, nu, sem
filtros... Não posso pensar nas reações, não posso pensar em limitações, não
posso permitir o acontecer do outro mudar minha órbita, não posso pensar... Esvaziar
é preciso, mas estou preocupada em ninguém saber meu nome. Cada um me chamou de
modo diferente, menos Luizia Fatona. Não devo me preocupar. Foco em me
entregar, tocar...
Como não reagir a esta aparente indiferença? Melhor não olhar. Agora entendo
a velha expressão “o rei está nu”... É solitário estar aqui na frente. Voz,
violão, pensamentos e sentimentos... Uau! É poderoso! É diferente ouvir o
retorno na minha voz, lidar com este microfone... É intimidante também! Ah,
estão mais solidários agora! Cantando comigo... Deve ser cruel expor uma
autoral ainda mais se... Se não for compreendida... Será que arrisco? Não! Vou
me preparar melhor...
Palmas? Incentivos? Obrigada... Posso sorrir agora...?! Será...? É
assustador e um alívio ao mesmo tempo. É como estar na escola ou na faculdade
de novo... Sempre procuramos aceitação mesmo quando dizemos que não? Oh, mundo
cruel! Não! Cruéis são as pessoas! Cruéis somos nós! Não é isso também... Não
tem a ver com crueldade ou maldade. É tão simples deixar esta dualidade, esta
versão antiga do bem e do mal. Não é simples!
Há tantos motivos que não explicam, mas ajudam a entender os
comportamentos...
Som? Som? Nossa! Acabou a luz e nem percebi... Mas, também... Malditos
olhos fechados! Maldita mania! Ah, a arte de pensar negativo e sorrir... Como vou
me conectar, me despir sem vergonha sem abrir os olhos? O mundo constrói este
grade nos dividindo por idade, por gênero, por número, por grau... Enquanto
somos pensantes animais emplumados hora franguinhos, galinhas, galos... Hora patinhos,
gansos, cisnes... Mas estamos sempre presos pelos pensamentos, Pelos
sentimentos... Não importa o lado da grade porque somos a grade! A luz voltou!
Ufa! Ufa? Estão todos esperando... Esperando-me! O show tem que continuar!
Vamos tocar!
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