quarta-feira, outubro 12, 2016

Não quero nem saber (miniconto)




por Rafael Belo

Nunca foi a intenção de Hevra. Ela sempre quis mostrar ser a aparência tão temporária como um momento indo embora. Engolir este instante sem mastigar só prolongava a digestão... Ela até sente ser indigesto quando precisa se esforçar para ser quem é, mostrar conhecimento e inteligência pode ser tão exaustivo e Hevra chegou ao limite. Percebeu estar despercebida. Ela estava tão camuflada ao ambiente a ponto de não se reconhecer. Era mais uma invisível.

Onde estão meus amigos? Eii! Esta gente toda esta olhando para lugar algum? Branco? Não me lembro de ter vestido este branco também? Como pode tantas pessoas olhando na mesma direção sem ninguém bloquear a visão do outro? Só posso estar sonhando? Como cheguei a este ponto? Qual festa é essa mesmo? Por que não reconheço ninguém? Espera! Por que parecem não aparecemos naqueles espelhos?  Droga! Não queria estar com medo!  Crianças? Uou! Eu também sou criança!!! Mas... Mas...

Mas quando crescemos, afinal... ? Somos infantis, mas sem ser inocentes... Sem ser espontâneos... E, principalmente, sem ser sinceros... É sobre isso... É disso que se trata? Não reconheço ninguém ou nunca conheci de fato? Quero meu pai! Cadê minha mãe?! Não vou chorar, não vou chorar, não vou... Droga... Agora não consigo parar... Ei! Quero espaço! Saiam! Saiam! Não, não... Oi? Viriani ? Ok. Estou parando. Olhem só. Viram? Já parei! Vilor? É você?!


São todos os meus amiguinhos... Mas, mas, mas... Vocês sempre estiveram por aqui? Sempre estiveram por perto? Onde eu estive este tempo todo? Vou contar pra mamãe e pro papai. Decidi! Meu desejo é nunca crescer. Eu não quero crescer mais, ok? Agora eu era... Não essa sou eu! Falei primeiro...! Não vou parar de correr!  Não vou! Quem chegar primeiro... Quem chegar primeiro vai ganhar uma... Quer saber de uma coisa? Não quero nem saber!! Vamos brincar!!!