quarta-feira, novembro 16, 2016

Para amanhã (miniconto)




por Rafael Belo

Talvez barata tonta não girasse tanto tão desesperadamente, mas Ametie não sabia mais nada. Seu coração havia aberto fuga e ela estava parada procurando a mente... Esta também escapara. Um vazio frio invernara nela há algumas decepções. Desde então, ela “desistira” de encontrar o tal sapo encantado, mas bem entre aspas mesmo porque se o cara demonstrava um pouco mais de interesse, a esperança pegava fogo nela novamente e lá vinha mais uma cicatriz para a coleção. Agora ela simplesmente deitou na grama da melhor forma possível para observar a parte mais masculina dos casais.

Será ele gentil ou quer apenas esquentar a cama de vez em quando? Ele tem o mesmo receio de ficar sozinho mesmo lá no fundo do mais profundo esconderijo? Não deve estar tudo tão perfeito assim, deve? Onde está meu coração agora? Por que meu raciocínio não funciona e minhas reflexões nem tem tempo de ficar antes de ir embora? Meus pensamentos vêm e vão embora... Seria meu passado tão ruim, minhas escolhas tão erradas? Meu dedo é podre ou ando plagiando tantos falsos relacionamentos por aí? Preciso encontrar estas respostas, mas eu já as achei...

Continuo fugindo de mim mesma. Meus principais pedaços estão à frente. Quase posso enxergar onde estão... Minhas pernas já não me pertencem... Até forço o aparecer dos dentes, mas não é um sorriso... Não sei mais porque bebo tanto se no final não fica tudo bem... Meu coração contradiz minha mente, tudo se arrepende, mas e aí?! Isso não é viver?! Será... Não tive tempo para mim mesma. Sempre pulei de um relacionamento a outro para não ficar só, mas não sei se terminei algum deles em mim. Será esta a motivação da rebelião da mente e do coração?


Voltem! Minha ilusão ainda acorrenta minha alma e sozinha, continuo a ser um vazio infinito. Grito só aqui na minha mente para não chamar mais atenção... Minha mente vem calma com todas as lembranças que esqueço. Meu coração com todas as cicatrizes que não fecho e ainda reabro. Tenho que partir estas correntes... Preciso arrebentar este cabo me acumulando de nada, cegando minha jornada, me deixando aqui sem direção... Qual foi a última vez que fiquei assim? Sozinha resgatando quem fui porque não me permito pensar e sentir há tanto tempo... Como está lindo este pôr-do-sol com a tinta fresca respingando... Vou me embriagar com as meninas e deixar tudo isso para amanhã! Lá vêm elas!

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