segunda-feira, novembro 21, 2016

Várias versões viciadas do passado



por Rafael Belo

Não sei por que achamos estar em algo chamado pós-modernidade se nem terminamos a modernidade ainda. Pensando bem, vivemos várias versões viciadas do passado contrariando nossa noção de presente. Estamos presos às nossas próprias sombras, a ideias que não funcionam mais, as maneiras tão usadas a estarem gastas, caquéticas repletas de todos os tipos de aranhas tecendo novas teias, ideais cristalizados entre o tempo dividido em horas afastando a humanidade dos valores inerentes a nós, chamados humanos, e deixando a razão alucinada ao meio de tanto disfarce e manipulação entrelinhas de uma nova roupagem de autoridade.

Há novas maneiras da velha forma de nos enganar, nos fazendo ainda mastigar o ontem, estamos indigestos de agora há pouco, ruminamos atitudes ultrapassadas e seguimos filmando o próprio filme da nossa vida em um Além da imaginação, o famoso Twilight zone criado em uma realidade paralela na qual deveríamos viver, mas morremos. Morremos cada momento revivido em tensões históricas, morremos a cada palavra rasgando quem somos, morremos a cada atitude vazia tomada como sicuta deixando um olhar vazio pendurado no horizonte e um sentimento de falta, de ausência.

Esta Era de aparências se expandiu para os três poderes e passou do limite ao chegar nas mídias digitais. É preciso trabalhar bem a imagem, encaixar bem as palavras, desenvolver textos e discursos incisivos e emotivos exatamente como grandes romances premiados encurtando o tempo para ler, apagando a reflexão de pensamentos profundos para rápidas passadas de olhos... Lemos as primeiras linhas, os títulos, os resumos e já somos mais um especialista em nada deixando a vida nos levar, os muros nos dividir e este incômodo nos separar com um ranço da areia movediça reeditada da Guerra Fria.


Somos um povo, uma comunidade, não fragmentos de tribos lutando pela mesma causa com nomes diferentes. Temos de defender uns aos outros, nossos direitos e deveres, não um poder transitório que a cada um de nós deve responder, ao qual elegemos e temos sim responsabilidade por ele. Somos os patrões deste lugar no qual estamos, somos vestígios dos humanos que poderíamos ser, que deveríamos ser... Não adianta ficarmos indignados, escrever horrores, refletir e não agir. Ficar sentado reclamando, revoltado com tudo, vestir a rebeldia sem calça e viver de causas errando os mesmos erros, passando a vida no passado é reforçar esta prisão que dizemos ser presente e liberdade.

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