sexta-feira, março 31, 2017

Eu sou o momento (miniconto)




Por Rafael Belo

Este é qual? O vigésimo? Meu Deus! Caiam fora! Deixem-me em paz! Não vou permitir me tocarem, me acuarem, me abusarem... Não estou atrás de nada aqui. Só quero me divertir só. Eu estou bem sozinha. Quando vão entender isso? Claro! Não acreditam! Não há motivo para acreditarem, mas não preciso disso. Não peço para acreditarem em mim. Nem quero. Isso levaria àquela intimidade... Não darei intimidade pra ninguém! Só porque fui educada? Um oi não é porta de entrada para nada. Quanta voluntariosidade e carência? Estou aqui justo para não escutar nada e vem gritar no meu ouvido...

Não! Não quero! Estou intensa. Total como sempre, mas consciente pela primeira vez! Capaz! Vou vir no pub lotado para me divertir, ouvir o som... Ok! Posso até sorrir para um “crush” ou outro, dar a entender algo, mas só à distância... Tem uns bonitinhos outros mais ainda, mas tem cada esquisito... Uns beijos podem até rolar, mas eles sempre querem mais... Nada de sexo casual. Já passei desta, estou em outra “vibe”. Vou me curtindo e vendo os acomodados se incomodarem. Dou risada mesmo e daí?! Pior ainda acharem eu ter rido deles... Quem são mesmo?

É tanta importância dada a si mesmo... Há tanta gente por aí, meus queridos... Guarde esta arrogância, por favor. Certo, meu nome não é nada humilde Marilin Deusa, mas não devo nada a ninguém nem fico esnobando, porém se me chamarem de louca... Vou concordar! Pensando comigo mesma tudo isso e ainda cheia de caras e bocas... Nada a declarar! Erra-me vai. Cuida da sua vida. Não! Pode cuidar da minha e me diz porque pode ser... Eu vivo distraída, mas estou intensamente focada em uma coisa de cada vez! Meu pensamento é estar comigo na melhor convivência. Vou postar este texto e ainda vão achar... Vão garantir... “Ah, Lin, você não precisava ter postado...”.


Sabe de uma coisa? Precisava sim! Mas, espera não postei e não preciso de mimimi na minha cabeça agora. Vou parar de ver o futuro tanto a me enrolar e voltar para meu agora para dançar, dançar, dançar... Vou repelir sim e podem me tachar vou de não tô nem aí. Se eu tivesse feito outras escolhas estaria questionando outras escolhas feitas... Já li isso em algum lugar nestas redes antissociais... Mas veja só MA-RI-LIN nada de celular, nada de wi-fi, de dados, estou apenas aproveitando o momento. Eu olho para cima ao ar livre... Eu sou o momento!

quinta-feira, março 30, 2017

medo de brinquedo



oscilava o sinal um farol em cada cruzamento da cidade
mal vinha já caia se acomodava em qualquer área da atrocidade
modernidade wi-fi se sobressai por não conectar a nenhuma verdade
estava visível a senha sem capacidade de oferecer qualquer intensidade

só salvava o ponto descartando a autenticidade livre vive os dados a guardar
aguarda a foto certa para marcar postar compartilhar hora companhia lugar
lidar com a ansiedade de estar e se ausentar em um fugir curtir do aprisionar

onde estamos neste movimentar distante instantaneamente hesitante?
iniciante check-in do princípio ao fim das cabeça baixas de um vazio popular

exposição aproveitando da falsa loucura da palavra pura sem razão escrava da solidão disfarçando a intenção no medo de brinquedo sem manual de instrução.


+ às 23h, Rafael Belo, quarta-feira, 29 de março de 2017+

quarta-feira, março 29, 2017

Afastem-se (miniconto)




por Rafael Belo

Sentada dentro de Si, Simani acomoda-se. Respira fundo e pensa: e agora? Não há brilho, não há intensidade, há uma promiscuidade criada por mim mesma. Logo eu... Sempre me achei tão intensa, tão incomodada... Nem sequer incomodo. Sinto-me um móvel não tão imóvel, pois me colocaram rodinhas... Não sei... Foi um susto perceber meu desconhecimento, minha ignorância... Eu ignorante e sempre me achando sabida, muito esperta... Fui nessa onda. Vou a tantas festas pensando estar ali, presente e entregue... Até descobrir não ter foco nenhum, aliás, só enxergar o fundo e me cegar ao diante do meu nariz.

Nem sei qual é o meu fiz. Nem me lembro de tudo. Preciso colar fragmentos postados em diferentes aplicativos com motivação social. Vai rápido como vem... Não há um sentimento relacionado a nada disso. São imagens me fazendo forçar a memória, juntar histórias e ser obrigada a sentir tudo isso. Intenso é este sequestro. Só vi os contrastes na altura deste drama. Vive restos, fui mais machista, mal fui mulher... Não sei ser feminista, ativista... Vistos meus rótulos mesmo sabendo: eles não mudam quem sou! Mas me questiono enquanto penso nas baboseiras dos prisioneiros amarrados estarem cientes o suficiente de si para conseguirem se soltar...

Eu só continuo me machucando enquanto o tempo vai acabando. Meus pulsos estão sangrando, meu rosto latejando... Fora a dor! Quem vai cuidar dos meus filhos, Meu Deus!! Eles vão me matar. Preciso encontrar uma só vivência intensa. Isto... Isto... Isto não pode ser o mais intenso vivido por mim... Não sou assim!! Engulo o choro! Chega de chorar!! Não adianta pensar meus “ses”, porém, se eu não tivesse ficado bêbada não teria encontrado a coragem para me encontrar. Aí vem Renato Russo me cantar “olha só o que eu achei: cavalos marinhos”. Talvez um unicórnio inexistente se sinta assim e eu seja este unicórnio. Serei extinta ou já o sou?


Quanto horror! Esta expectativa vai me matar antes. Prefiro não pensar no motivo das dores no meu corpo em tantos lugares... Preciso vomitar! Ei! Olha pra mim!! Tira esta mordaça da minha boca!! Não vou gritar! Não posso morrer afogada no meu próprio vômito como uma pessoa abandonada para viver morrer na rua. Por favor, Senhor! Sei, nunca mais rezei nem nada, me arrependo. Eu juro... Estou arrependida!! Não consigo nem lembrar um grão responsável por eu vir parar aqui, quem dirá do motivo... Mas espera!! Eles nem falaram de resgate!! Não conversaram comigo... Eu estou vendo o rosto de um!! Não não nãonãonãonãonão!!! É o... E os outros só podem ser... Hey!!! Afastem-se!! Nãããooo! 

terça-feira, março 28, 2017

Metades do mesmo dia



quanto tempo cabe no infinito deste minuto desdito perseguido pela aceleração?
enquanto a demora vem ao longe como um horizonte ainda a nascer
sem sequer se solicitar para se pôr nas acomodações disfarçadas de intensidade
somos uma cidade em chamas chamando atenção entrando em freqüente combustão

sobre nossas cabeças o sol da meia-noite adoece a nossa imaginação
onde está a noite nestas 24 horas de calor com claridade?
precisamos prestar homenagem para encontrar o anoitecer

foi-se a energia não há mais wi-fi os dados expiraram sem ninguém morrer
pela metade sou a lua do meio-dia meu restante é o sol da meia-noite sem saber esfriar ou aquecer

perderam-se os significados do labirinto até nosso coração se juntarmos nossas metades teremos equilíbrio não divisão.

+Rafael Belo, às 00h45, terça-feira, 28 de março de 2017+

segunda-feira, março 27, 2017

Somente um ponto de wi-fi



Por Rafael Belo

As noites são mais tortuosas para quem ainda está preso ao conceito de formarmos pares por ter sido sempre assim. Crescemos sobre vales feitos dos acúmulos dos erros de ficarmos sozinhos, da projeção dos sonhos das materiais riquezas, dos planos alheios, na dualidade, de sermos os melhores, em tantas amarras, em tantas prisões... Como estar inteiro se vivemos saindo de uma prisão por vez sem saber quantas ainda nos prendem? A ignorância é uma dádiva do conhecimento dado a quem nada sabe fazer com ele. Vivemos em uma insignificância tão branda e a nomeamos de fase, de passageira mesmo sentindo sermos o oposto disto. Claro, estamos cansados.

Já cansamos de falar sobre sermos inteiros, sermos completos, mas a mentira de sermos pedaços, partes, fragmentos, uma peça com o encaixe feito só para outra pessoa nos faz sairmos em uma jornada inglória, a nos submetermos a situações bizarras, a seguirmos sem situar nossa localização. Apesar de aprendermos assim, não fomos feitos apenas para um tipo de ação, um tipo de posição, um tipo de ideia, uma profissão, um amor, uma vida... Saímos de nós sem sequer saber voltar. Não aprendemos isso e se quisermos voltar para sair intensos havemos de enxergar quantas formas existem de se acomodar. Não precisamos atuar neste roteiro raso e repetitivo. Quer sair?

Vejo as baladas badalando nas cabeças no dia seguinte. São rolês para evitar a solidão já causando surdez temporária e aquela seletiva de todo dia – não para todos, alguns de nós só festejam realmente. Estamos acomodados nas palavras, nas desculpas superfíciais e nas atitudes desconhecidas de viver intensamente. Sabemos o significado de viver intensamente? Achamos ter conhecimento, mas sabemos usá-lo? A sabedoria esta perdida em algumas pichações por aí e espalhadas nos papéis colados nas paredes ignoradas das cidades onde há palcos e mais palcos para nos entorpecermos, massagearmos o ego e fazermos o check-in para podermos nos conectar e avisar o mundo onde festejamos.


Parece uma conspiração para continuarmos acreditando ser isso não se acomodar, ser isso intensidade... É isso mesmo ser intenso? Sair sempre, marcar as fotos com as pessoas, com os lugares, este excesso de exposição é apenas mais um desvio da importância de nós mesmos, do desabafo social... Há muita loucura envolvida na razão e separar uma da outra pode ser ilusão, mas por qual se deixar levar? Não tirar o próprio significado, nos afastar da possibilidade de conquistarmos a sabedoria, de nos vivermos e assim incendiar cada dia pode nos tirar desta vontade de ser somente um ponto de wi-fi.

sexta-feira, março 24, 2017

Vou lá (miniconto)


 
 
por Rafael Belo

“Envolve o plano com o fundo e o desejo é se entender...” Há quantos anos esta frase anônima está pichada na parede da frente de casa? Qual o motivo de nunca terem pintado por cima? Até parece! Não vou fazer isso mais uma preocupação inútil... Mas, aquele contorno no final é a assinatura do anônimo. Só hoje entendi, é a silhueta de uma borboleta. Ainda não sei o significado... Às vezes, nem existe... Uma borboleta está sempre envolvida com algo, principalmente ela mesma... Além da beleza natural...

Naturalmente, eu me separo de mim. Fico assim como todo mundo: perdida, carente... Agora fico imaginando o quão mal me relaciono comigo, o quanto abusei de mim sem me permitir ser... Meus planos nunca foram meus e meus desejos nem sei quais são de verdade... Fico pensando sobre a quantidade de desejos direcionados a Deus e o número incontável de pessoas afirmando com intensidade merecerem... Rá! Este tal de “EU MEREÇO”... Eu mereço, viu! Devo ter ficado pronta só hoje para enxergar de verdade nestas palavras ali de aviso! Agora elas me causam um impacto... Apenas neste exato instante elas realmente mexem comigo!

Choro, sim! E daí?! Sempre achei me envolver totalmente por aí e não era nada assim porque se começa com achei... Já está tudo perdido! Cara! É tão fácil ser cega e seguir batendo, trombando, apanhando e justificando como se não merecêssemos o melhor, como se não houvesse pessoas capazes de sempre melhorar por aí, mas queremos consertar quem não quer conserto, conquistar quem só quer conquistas, prender quem só quer liberdade e... Envolver-se é se libertar, se libertar é Amar e... É isso! Amar é se envolver antes de tudo com cada defeito próprio e não se envergonhar!

Quem diria... Realmente está nos detalhes ou... Em uma frase! Seria a mesma coisa mexendo com a gente, nos cutucando, puxando aquele sentido para o qual nos fazemos surdo e eu aqui, disposta a me ouvir, a me tocar, a me enxergar...! É Bélia, faz sentido todo o despojamento dele, a paciência, a alegria e eu querendo um reflexo de mim. Eu me sirvo assim e nem preciso de espelho para me ver mais. Quanta satisfação não cabe em mim mais. Eu me amo e me aceito, menos nos meus três dias de ápice menstrual e isso não é problema nenhum. Será possível recuperar o celular dele sem ter de pedir novamente... Ah, que se f...! Vou lá na casa dele!

quinta-feira, março 23, 2017

Regando o éter



abraçam-se as pétalas das brancas rosas novas mais uma vez
reis entregam as coroas para as rainhas floridas envolvidas com a vida da desfaçatez
tez contando as marcas expressas no rosto exposto na galeria do dia
via de mão dupla invertendo a contramão ao avesso do sentido de união


preenchem-se os vãos com abraços sinceros sorrindo evoluindo as flores se entregam
regam o éter com a Alma fluindo atraindo o bem o bom magnéticas
poética forma contendo a libertação cibernética na genética das estrelas do humano divino
destino menino de tantos séculos nos dando crédito de o domar demoradamente de mansinho
passarinho toca o violino sem mexer o bico quando rompemos o comportamento bovino
pastamos um ruminante instante até ele ser eternidade engolida na Palavra investida Verbo para nos enlaçar na declamação em ação.

+às 10h10, Rafael Belo, quinta-feira, 23 de março de 2017+

quarta-feira, março 22, 2017

partindo e caindo (miniconto)





por Rafael Belo

Alia para onde você vai? Chega de ficar falando sozinha, vagando invisível por aí. Ninguém me vê porque eu não me vejo. Mas, não é mais assim. Eu me enxergo, eu me envolvo comigo... Preciso falar no presente e estar presente. Ainda não sei aonde vim parar. Andei tanto tentando me livrar das ruas, das violências e hoje sou silêncio... Não quero mais este calar, preciso me soltar e expressar esta dor concentrada em tantas partes de mim.

Este tremor... De onde vem? Espere! Terremoto no Centro-Oeste? No Brasil? Só pode ser meu corpo entrando em colapso depois deste lapso mental. Surtei e daí?! Quem nunca surtou ainda vai surtar ou desenvolver uma doença descoberta tarde demais. Tarde demais? Tarde demais já é daqui a pouco... Eu admito – só para mim – ter abusado dos meus pensamentos, dos meus sentimentos, desta tal superação... PELO AMOR DE DEUS?! Eu comecei isso porque queria paz, nada mais. Mas, me perdi nos relacionamentos ruins... Envolvi-me e não me conseguia de volta. Vai embora! Não estou falando com você!!

Hei! Estou aqui! Não encare meus seios homenzinho!! Isto não cansa de ser abusivo... Mas eu nasci pronta e ninguém tem nada a ver com minha vida. Preciso tentar sozinha e para isto precisei ficar comigo mesma para ouvir, me permitir... Agora a necessidade maior é me localizar, sobreviver... Escolher me envolver e deixar o controle de lado. É impossível prever certezas, mesmo nas possibilidades visíveis nada sairá exatamente como imaginado, às vezes a realidade superar muito a imaginação.


É difícil me envolver com alguém... Alguém longe da minha lista de gostos e exigências, mas eu preciso gostar muito de mim, me envolver com meu agora, com cada hora... Voltar? Para onde? Estou voltando para mim. Apreciando minha companhia e a desnecessidade de dar satisfação. Posso fazer exatamente isso envolvida com outra pessoa, sei disso... Mas, não há desespero nem quando o tempo acaba. Meu tempo é outro e é só meu. É! Só importa para aonde vou... Ouviu? São minhas correntes partindo e caindo no chão!!

terça-feira, março 21, 2017

Eram quem fomos



envolvem-se as asas do inseto com o branco teto iluminado
emaranhado de ideias soltas loucas para realizar seu espalhar
pelos pêlos felinos entorpecido de sonhos do próprio adotar
ar rarefeito feito de vazamentos de sinônimos anônimos do tempo acabado

não há nada além do agora enrolado no nosso pescoço tentando nos pendurar
no gosto da vida dissolvido na boca enquanto a lesma faz da zebra presa da hora
folhas caem no chão com demora simultaneamente tão veloz à sós

cós do barulho do outono sozinho esperando apertado a mão do destino
sino soltando som de badaladas na balada da noite calada nos vendo nos abusar

roupas se rasgam eram quem fomos envolvidos zumbis capturando apagados vagalumes iluminando nossos resgatados laços ainda em março.


+ às 22h46, Rafael Belo, segunda-feira, 20 de março de 2017+

segunda-feira, março 20, 2017

Autoabusivos






por Rafael Belo

Os laços estão guardados, protegidos de qualquer enlaçamento, ou melhor, envolvimento. Não queremos nos envolver e criamos mecanismos mentais, corporais e sentimentais para evitar “sofrer”, quer dizer, viver. Nunca estaremos prontos se assim pensarmos. Queremos nos defender de nós mesmos e não do outro e colocamos em mente termos o tempo todo do mundo. Não é verdade. Temos somente o agora. O momento de autoajuda escapando efusivamente das nossas mãos. É pura ilusão achar no passar do tempo uma cura. A cura para nós somos nós e a doença também.

Mas, é preciso resolver como lidamos com a situação. Precisamos de tempo e luto. Enfiar a cabeça no escuro e evitar o acontecimento das possibilidades só nos deixa no mesmo lugar. Não há regra para avançar, parar e recuar para enxergar melhor, para sentir com confiança e pensar com clareza. Vamos lá e tentamos uma vez, falhamos. Começamos a segunda tentativa para não conseguirmos mais uma vez. A terceira pode seguir os padrões, porém quem define os padrões não somos nós? Quem estica as noções de certo e errado? Somos tão clichês como sempre fomos... A única diferença é a roupa, às vezes nem isso...

Apegamos-nos ao nosso eu passado, morto, talvez por isso adquirimos um gosto tão especial por filme de zumbis... Chame Yung, Freud, nossos pais... O figurinista não vai resolver se ainda usamos as mesmas roupas e chamamos de vintage, se relacionamentos chegam ao fim e o nomeamos erros, se usamos um quantidade incontável de “ses” para decidirmos não decidir porque é mais seguro não se envolver. Seguir os impulsos e não pensar é um movimento libertador surpreendente matando nosso tempo particular fingindo um parar repentino deste quando quem para somos nós. Por que estamos presos neste ciclo falso de “é melhor esperar”?


Quando vamos estar prontos? Vivemos um relacionamento abusivo com nós mesmos nos privando das nossas responsabilidades de procurar a felicidade. Fragmentamo-nos em tantas rachaduras no espelho só para juntar tudo, grudar com fita adesiva, unir com cola quente, colar com superbonde, apenas encaixar como se ainda fôssemos os mesmos e no final nos dividimos. Estamos divididos em trincheiras de uma guerra desnecessária travada com nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas vontades e nossas necessidades. Lutar tantas guerras simultaneamente desgasta nosso resgate deste naufrágio no qual insistimos em nos afogar. Para andarmos sobre as águas precisamos nos envolver com cada parte de nós, assim acabamos com a guerra e bem conosco nos envolvemos bem com o mundo.

sexta-feira, março 17, 2017

Alerta borboleta amarela (miniconto)





Por Rafael Belo

Do outro lado do pensamento Delira via os efeitos apontados pela atenção da borboleta amarela. Ela batia as asas e toda vez os efeitos mudavam mesmo com a causa sendo igual. Os danos faziam parte dos ganhos e as perdas também vinham com benefícios. Nada é como já foi, assim pensava Delira. Há tantos efeitos por aí. Eu só enxergo defeitos. Faço a única escolha coerente na minha mente e a repito diariamente até ela estar tão gasta, mas tão gasta... Parecendo não haver nada mais e com minha opção respeitada, não, não há mais nenhuma. Se não mudamos e crescemos juntos algo fica para trás, alguém para no tempo... Mas! Esta borboleta eu já matei!

Matei! Com certeza não é a mesma! Sinto ser, mas nego. Não pode ser. Não há lógica. Há sempre conseqüências, não é? Onde estou? Ah, ai está a borboleta amarela... Ela está me encarando? Mexe as asas como se manipulasse todas as opções e escolhas...! Ela nunca apareceu em Efeito Borboleta, sabe? O filme! Toda mudança tem conseqüência. O universo não deixa nada impune. É isso! Não? Há varias formas para se chegar ao mesmo resultado ou há vários resultados para a mesma forma? Há livre-arbítrio ou o resultado é sempre o igual? O destino está sempre nos esperando, então... A sina faz parte? Este lado negativo do destino...

Está tudo apagado há escuridão e branco. Não tenho idade para pensar em fugir do Alemão atingindo tantos idosos hoje ou só penso não ter? Esqueço normalmente como todo mundo... Não! Não pode ser assim. Recuso-me a acreditar ser sempre uma coisa ou outra. Devo estar no passado, mas não quero me lembrar para não viver de recordações. Escolho o agora. Você me ouve borboleta amarela? Com este nada de brisa você cria tempestade em lugares em mim tão extintos quanto a Pangeia. Eu sou plateia insatisfeita e ingrata só de arremessos e vaias de mim para mim...

Eu não tenho fim? Pode me tirar de mim, borboleta amarela? Voe! Vamos, pare de me encarar. Leve-me para algum lugar. Já me sinto leve... Vamos? Nossa! Você parece os fantasmas dos natais passado, presente e futuro... Por que me faz intruso das minhas escolhas? Há tantas opções e tantos eus possíveis. Somos todos passíveis de quaisquer coisas, mas não sem optarmos por isso. Fale comigo, borboleta amarela? São mundos paralelos? Multiuniversos? Somos reais ou representações das nossas escolhas? Quem me representa quando não estou em mim? Seu amarelo, borboleta amarela, não tem nada de alegre é só um alerta de quanta loucura podemos escolher ser se não sairmos do lugar.

quinta-feira, março 16, 2017

maçãs no ar



maçã mordida mordisca nossa língua nos morde de volta
há uma reviravolta na origem da virgem ideia de ideal
pecado parasita patrocina nossa mania de ser item de série opcional
bem mal habita o mesmo pensamento desejo devora dúvidas e silêncios

um fechamento faz você tentação emoção da adrenalina em combustão
fogo fácil foco pelo corpo torto se contendo contorcido de lábios  intensos
penso não querer manter o original habitando desproporcional em mim o animal

solto sozinho saí em disparada na própria revoada de nadas deitados de costas
notas nascem nas nascentes das frutas caídas envolvidas anônimas enxurradas

brota uma escada no deserto dos grãos de areia escolhidos há pedras atiradas na subida rochas infinitas na descida e no ar uma semente esperando ser pomar de macieira de uma só mordida do começo.


+ às 23h48, Rafael Belo, terça-feira, 15 de março de 2017+

quarta-feira, março 15, 2017

Desrrobotizar (miniconto)




por Rafael Belo

Há dias Lela acordava faminta, mas não comia nada. Saia do esconderijo e se imaginava comendo todos os seus desejos, todas aquelas opções e não fazia escolha alguma. Iria morrer no dia seguinte. Enquanto isso, imaginava todos os seus relacionamentos intimamente amorosos se enfileirarem diante dela para a pressionarem a escolher de uma vez por todas. De formas tão distantes da realidade a ponto de ser comparado ao ex-planeta Plutão. Mas, não havia a mínima razão ali.

Toda aquelas representações seriam alocadas por Freud e seria ceci n’ est pas une pipe. O famoso isto não é um cachimbo de René Magritte. Isto não era uma vida, era representação de uma parte ínfima, pequeníssima da possibilidade de sobreviver. Lela estava longe sem nem sequer cogitar contar a alguém sobre o próprio fim. Sentia-se pela primeira vez sobre controle sem estar realmente porque agora precisava ficar descontrolada. Todo o controle era só imaginação diante de escolhas parciais feitas por Lela.

Nunca abriu mão de nada e colecionava somente as partes vazias dos copos meio cheios. Olhava em desespero pela primeira vez para si e via, não se encontrava. Não sabia onde estava. Havia tantas opções de quem era e ela, em espera, escolhia incertezas. Saia de cada relacionamento antes de desandarem. Previa, seriam como os anteriores. Então, quando sentia os sintomas espreitarem, não permitia nem se aproximarem. Terminava para não sentir dor e sentia toda ela.

Olhava pela janela tão pequena da própria cela diminuindo e não se responsabilizava. Não se sentia responsável por nada. Agora vagava uma gota d’água no oceano… Ainda assim não se importava e queria entender o motivo da desimportância. Entendia, Lela, estar desconectada por opção. Na verdade tinha medo do turbilhão de sentimentos juntar a gota isolada com todo o oceano acenando ela porque era ela toda aquela imensidão. Com a compreensão buscou e encontrou todas as lágrimas a desrrobotizando.

terça-feira, março 14, 2017

pendurados



podemos ser oceanos mesmo quando gotas evaporando por aí
caí na maré pela fé nos grãos de areia em tantas praias para boiar
salinos temperando a terra contando as opções pelas escolhas fazendo ondas
prontas para invadir conquistando a tentação permitida pelo desejo de ser tentado

quando se acerta o ditado o pecado já mora em nós
deixamos entrar nosso próprio algoz o carrasco nos destrói
fizemos nossa própria opção constrói simultaneamente corrói

rói traumas comparações ideais conspirados nos ouvidos
tiros sussurrados nos buracos atirados no nosso peito aberto

certo chamo culpa calando relações com ideias estúpidas penduradas ao passado.


+ às 00h48, Rafael Belo, terça-feira, 14 de março de 2017+

segunda-feira, março 13, 2017

Terceirizar as responsabilidades



por Rafael Belo

Estamos em um oceano cada vez mais amplo e ainda assim o mundo é uma gota d’água. Há tantas opções nas distâncias agora inexistentes e, ao invés, de facilitar nossas escolhas, complica. Mas, complica pela nossa covardia diante de tanto perder para um ganhar. Isso porque, os valores dados a perder e ganhar podem ser invertidos pela forma da aquisição da nossa experiência e, sempre, diante da nossa interpretação. Somos nós os responsáveis por quem está em nossa vida.

Ainda vale mais uma pássaro na mão a dois voando, mas continuamos nos enganando querendo qualificar e pontuar a abstração do outro como se fosse concreto, como se as situações não exigissem posições diferentes e pensamentos e sentimentos não entrassem em conflito. Somos fracos em manter nossas escolhas diariamente e fortes ao mudar para a grama mais verde sem nem saber se há essência nesta aparência. Só há tentação se nos permitimos ser tentados.

Para o ego ter muitas possibilidades é uma massagem. É óbvio, nos sentimos bem.  Mas é muito melhor conquistar de novo o mesmo depois de conhecer mais profundamente todos os tijolos e o cimento unindo, permitindo a construção se manter. Não vejo escolhas erradas nas nossas vidas, mas formas erradas de lidar com cada uma delas. Vivemos de comparações e traumas cheios de ideias de conspiração aumentando as discussões sobre a relação.


A ideia é compartilhar a felicidade, confiar e não deixar uma relação onde projetamos pesos e expectativas seja a sombra de todas as outras relações. Preferimos ser gota d'água a oceano indo na incerteza de tantas possibilidades a incerteza do conquistado. Somos incertezas, estamos em construção e precisamos viver na certeza de tentar melhorar nós mesmos diariamente. Estendermos-nos ao outro, o qual escolhemos dividir nossa vida e quem somos, é não escolher quaisquer outras opções e só nós podemos ser responsáveis. Por isso, escolho apostar tudo para ter certeza de estar inteiro e no meu melhor.

sexta-feira, março 10, 2017

O mais Buscado (miniconto)





por Rafael Belo

Estava se debatendo o coração no chão. Pelo menos em partes, pois, estava espalhado por toda parte. Pulsava resistente criando cada pedaço seu próprio inteiro até ficar sem proporções. As emoções compartilhavam em empatia renascendo o incondicional ligando os dados da web no atual sistema onde o Wi-Fi ainda não é democrático. Faz-se um ruído estático e toca uma ligação.

Sensações arrepiam quem está do outro lado da ligação confirmando o sétimo sentido conectando a alma direto a outras conexões. O acidente não parou outros veículos, só deixou vários indivíduos curiosos. Conheço o casal caído? Então, passavam se sentindo aliviados sabendo de alguma forma não haver morte ali. Parecia mais vida. No meio daquilo tudo havia Amor.

Passava de uma rápida sensação ruim para de esperança, felicidade, alegria e dúvida. Como era possível haver Amor ali. Mas, era uma pergunta com resposta. O Amor não é uma aposta. É certeza quando se sabe ser único na encarnação do infinito, da paz de um indivíduo capaz de ser coletivo e muito mais. Está inteiro mesmo ao se partir, doar o possível para outros também estarem no evoluir.


O milagre visto por ali no fim da madrugada, na rodovia cortando todo o país, espalhou como meme nas redes sociais. Em poucos instantes o mundo todo se admirava. E se estava viralizado na rede mundial com menções e citações ultrapassando a Lava Jato e a Odebrecht, só podia ser real. Agora toda vez ao abrir o Google apareciam hashtags: o Amor não acaba, O Amor não morre, e seus derivados. O Amor voltou a ser o mais buscando.

quinta-feira, março 09, 2017

a razão é outra





arrancados olhos cavidades escuras expostas enquanto glóbulos explodem
dois universos vazios buracos negros do corpo sugando nos engolem
mastigam nossa cegueira sem sentir nada danada devoção contra a solidão
vão valendo valas de sentimentos enterrados sobre restos totalizados fragmentos

coração em vão repete o refrão da imaginação do sentir
extorquir a cegueira assombrando a escuridão
doam-se córneas na morte da dor sofreguidão

as sensações sentem a pele pela primeira vez
emoções tamanhas apanham da insensatez

a razão é outra arrasando quando sabe partir surgir verdadeiramente Amando ser Amor.
+ às 00h58, Rafael Belo, quinta-feira, 09 de março de 2017+