sexta-feira, abril 07, 2017

Não vai sobrar ninguém (miniconto)




Por Rafael Belo

Atrás da grade invade aquilo onde traz capaz a voz algoz de estar a sós e nós aqui no jardim, presos assim um ao outro, obrigados a sentir diante de tanto mentir a resistir em mim. Este fingimento louco pra quem só não está além da frieza é pouco, torto, todo tristeza. A fraqueza de amar corpos e dar apenas golpes em si. Como dizer o meu penso sem ferir sem derrubar... Quando passei a me importar? Dispenso outras formas de amar. Estou chacoalhando a grade com o olhar enroscada nas folhagens, tentando disfarçar minha intensidade. Não há integridade a me juntar.

Quando fugi daquele lar onde nem sabem meu nome? Eu, lá, na multidão a gente se esconde porque sou muitos eu’s em debates, na fila do abate... Vejo este nome, vem e some... Não é meu: Girula Gariah. Sou uma legião de mulheres, uma falange de garotas... Demônio Anjo, não sou uma coisa só. Já prendi, mas nunca matei... Até me arrependi quando invadiram minha delegacia só para explodir. Consegui me preservar, descarregar minha arma... Mas, era tanta raiva... Quando as balas acabaram sangrei minhas mãos, aliviei minha dor, mas me acabei... Fui acusada de imprudência, exonerada... Não tive paciência.

Minha aparência julgada, meus atos expostos... Não era mais delegada. Tentaram me reduzir a nada... Fizeram jogos... Escrava do sistema, tema de Meme, meu sonho de PM acabou. Mas, aqui estou eu: tratada como Zé Dirceu. Executando uma missão. Detonando mais uma facção. Não sou ninguém, nada. Toda a mídia orquestrada para minha “delatação”... Fui deletada. Ou você acha ficção os filmes de ação com espião? Fui encontrada morta, enterrada, mas nunca viram meu corpo, meu rosto... Virei um estorvo e logo passei pela espiral do silêncio. Penso e não existo, mas desisto de fazer o tal do certo. Qual o critério? Se só parece sério quem quer a autopreservação.


Minha missão morreu. Não encontro a chave das algemas. Não posso voltar para o sistema, então me resta a prece e a pressa de tirar este peso morto do meu pulso. É muito barulho, mesmo escuro o som faz a direção apontar para você. Posso fazer tanta coisa, mas não é viável. Está tudo tão instável e ainda nem cheguei aos 30. Vou me virar. Talvez voltar para o lar de onde fugi. Não agredi ninguém. Amém. Fingia ser muda, surda e toda turma acreditava. Se fosse outra época, a seta não estaria certa sobre mim. Assim, eu não carregaria um homem morto todo dia, ainda mais um pai de família. Este seria o próximo tampão da nação, ou melhor, presidente tampão. Agora há só um vão para eu não me juntar a ele. Já estou morta, mas se ficar aqui, anota, é o fim. Não vai sobrar ninguém já conhecido por mim.

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