quarta-feira, maio 31, 2017

quando ele se perde (miniconto)



por Rafael Belo

O inverno não veio de repente. Aos poucos o céu azul estava cinza e então chumbo. Pesado e denso como as coisas palpáveis deste tempo. Casacos e adereços de frio ainda estavam perdidos em algum lugar do guarda-roupa, portanto, seria um dia de tremer e reclamar de Campo Grande sendo Campo Grande. Mas, Eu, Dayni falo dos caldos, dos vinhos, da quantidade de roupa possível de usar nesta estação, da quantidade de casacos e cobertores arrecadados para impedir a morte por hipotermia de moradores de rua ou doenças para quem não tem como se esquentar. Até me bagunçarem toda.

Virei falsa para alguns, para outros chata, ainda têm aqueles me atacando, me questionando e eu... Bem, eu rio, gargalho, queda d’água, cascata, cachoeira, afinal não vou me preocupar, me importar, vou pelo contrário: desimportar. Aliás, é interessante como os norte-americanos traduzem esta nossa palavra: de-strees. Eu vejo bem isso: sem estresse. Ah, não. Não vou permitir inventar problemas. Não vou colaborar com ruindades e maledicências. Sou perfeitamente decente e capaz de continuar. Tenho todos os meus membros intactos e ainda posso chorar e gritar.  Mas, estou aqui toda bagunçada. Não falo da aparência e sim do meu interior ou aquele quem ele foi.

Tudo depois de um buraco. Humm... Ok! Dezenas deles. Saia de um entrava em outro, saia de um entrava em outro e assim foi até... Bem, eu ia explodir uma hora ou outra e explodi. Bem O Rappa, sabe. Mas, não consegui recolher meus pedaços todos viram e na voracidade de dizerem estarem certos sobre o julgamento sobre mim, as mãos estendidas não me alcançaram e eu cai. Senti todo o frio do inverno recém-chegado. Cada grau diminuindo furava minha pele. Minhas costas pareciam nuas e obviamente eu gritei. Como qualquer mulher faria. Não, perdoem amigas feministas. Como qualquer pessoa faria. Lembrem da minha bagunça...


Eu neguei meu orgulho, porém não só o carregava, mas o incentivava com todo ar quente sem nem perceber a altura dele. Bem, minha né?! Eu estava lá no alto cheia de falsa modéstia fingindo não reclamar das pessoas reclamando... bagunçada feito rio recebendo esgoto de toda bagunça da cidade. Aí - de verdade -  relaxei. Joguei as armas fora com aquele tilintar de aço no chão junto com minhas armaduras. Acreditem! Eu sorri! Não aqueles sorrisos irônicos, sarcásticos e falsos, mas sinceramente. Eu sorri para mim. Disse a mim mesma: Dayni, chega de acumular dores alheias e colaborar com continuidades do não fazer bem. Devo a mim mesma me sentir bem e sorrir já destrava tudo. Nem sempre funciona, mas é meu mantra capaz de me devolver o sorriso quando ele se perde. 

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