sexta-feira, junho 09, 2017

Nem tudo precisa ser dito (miniconto)



por Rafael Belo

Não é premonição. É atenção aos fatos, aos arredores. De fato olhei a previsão do tempo e não há precisão. Tudo sempre é impreciso. Mas sabia do esfriar repentino. Bem, começa o tempo ficando chumbo, avermelhado, aí a água despenca do céu sem parar enquanto vai esfriando até esfriar de vez. Nada repentino... Foi feito. Assim aconteceu e está acontecendo assim. Mas qual o motivo de durar só dois dias? Como prolongar a previsão? Não sei a resposta nem minha insistência em desviar do assunto, mas é algo me modificando sem me pertencer.

Tenho a sensação de já estar à espera deste frio há tempos. Irei eu namorar, finalmente? Não, eu não estou procurando só porque estamos a três dias do dia dos namorados... Sinceramente estou bem comigo mesma, só tenho alguns aprendizados básicos, por exemplo: como ficar calada ao invés de falas desnecessárias, ou é possível ser menos sincera? Ou ainda, como ignorar quando se metem na tua vida? Métodos práticos, língua preta e fala ácida... Ou voltando no tempo: como desimportar? Não sei se está frio assim ou eu estou fria neste ponto. Talvez o mundo e eu tenhamos agora a mesma temperatura. Estamos intensos...

Depois daquele frio intenso eu precisava me abrigar.  Estava tudo vazio e o assobio do vento me assustava. Eu, Dalivine Coragem, pois era assim a forma dos meus antepassados desejaram nosso enfrentamento perante tudo na vida: com Coragem. Vesti o clichê da cara e da coragem e bati naquela cabana parecendo tão aconchegante. Eu sentia o calor irradiar lá de dentro. Fui batendo cada vez mais forte porque agora já não lembrava mais como havia chegado ali. Como? Só pensei e caminhei e... Está aí minha resposta. Agora já batia e gritava: - Tem alguém aí? Por favor, abra!!


Ao virar de costas, pois já muito assustada tudo em mim gritava perigo, corra, senti alguém se aproximar. Parecia uma multidão marchando. Sei! Era impossível. Não poderiam ter... Viva alma... Por aqui e... Viva? Alma? Pam! Tum!... Foi uma música dentro da minha cabeça responsável pelo meu despertar. Não havia ninguém por perto. Verdadeiro deserto da deserta highway engenhosamente composta por Humberto Gessinger. Não havia nenhum som. Não tinha com quem dizer sim nem não. Então, acordei do sonho acordado. Eu estava imaginando um mundo sem filtro com as pessoas como estão... Não, eu não sobrei sinceramente sozinha, eu só fiquei na ótica de uma sinceridade sem limites porque o silêncio sabe ser sincero também. Nem tudo precisa ser dito.

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