sexta-feira, junho 16, 2017

por hora seria apenas ela ( miniconto)



por Rafael Belo

O dia havia amanhecido sem o de ontem terminar. Sonolento como ela, estava de férias. Nada importava. Ela parecia mais velha, mas era adolescente. Bonita Bon ainda se infiltrou no meio dos guias e adentrou nas águas com tanta naturalidade… Todos pensavam ser uma nativa, mas ela nem sabia nadar. Entrou, mergulhou sem medo e ali se perdeu rapidamente.

Para os outros era como se estivessem invadindo a privacidade dela, por isso todos se dispersaram em silêncio. Bonita, então, submergiu completamente. Em estado de apneia sem saber, minutos se foram e ela queria afogar aquela multidão de solidões pulando nos seios dela… Foi inevitável engolir água e ela aceitou como se fosse o melhor presente do mundo, mas não era a hora dela. Ninguém iria adiantar os ponteiros do Destino.

Bonita emergiu em paz, apesar da tosse. Totalmente leve, apesar da tosse. Preenchida, apesar da tosse, assim, por causa da tosse, e da ausência daquele vazio existencial em crise, ela chorou admirada dos peixes para frente tentarem se alimentar das lágrimas dela. A cada gota uma tentativa é um salto e aquele fenômeno pareceu ser fofocado e os peixes aumentaram na mesma proporção do fascínio de Bonita.

Não havia mais necessidade de choro. Aquelas águas refletindo tudo e transparentes no mesmo olhar, a haviam curado da dependência. Ela não dependia mais da atenção do outro.  A cura milagrosa entrou na vida de Bonita com os dois pés surpreendentes nas costas sem ser considerada covardia ou traição. Todo aquele sumiço silenciosamente repentino mudou de propósito como quem - transbordando de desejo - rasga toda a roupa para própria satisfação. Ela só era desejo e vida independente e inteligente saindo para toda parte apenas para diversão e relaxamento. Mas, por hora seria apenas ela e as águas transparentes refletindo vida e adaptação.

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