sexta-feira, junho 30, 2017

Tem alguém aí? (miniconto)




Por Rafael Belo

Ela levantou e procurou um espelho. Onde estão minhas roupas? Estou em casa e sozinha. Mas, eu estava no chão... Espera! Levaram minha cama? Cadê minhas coisas? Está tudo branco. Quem pintou meu quarto? Quem pintou minha casa? Não está cheirando tinta... Cadê meu celular? Alguém sabe as horas? Estou enlouquecendo em poucos minutos. Há quanto tempo estou aqui? Você precisa pensar Priaria Vahara. Pense, pense, pense... Nada. Não sei de nada, não me lembro de nada... A não ser meu nome e este ser meu apartamento mobiliado, mas sem mobília. Tenho certeza ter ocupado cada espaço deste lugar, não tenho?

Serei só eu prisioneira deste vazio? Estou presa em uma lembrança inexistente. Deve haver pistas pela casa. Ah, sim. Aqui!!!. “Você fez isso a si mesma. É você mesma quem escreve isso. O problema é ter dado certo... Mas não como imaginávamos...” Acabou? Onde está a explicação. Tem mais alguma coisa escrita aqui. “Preste muita atenção. Cometemos um erro. Queimamos tudo. Destruímos tudo. Tentamos apagar nossas memórias. Tomamos um inibidor. Ele veta o acesso às partes do nosso cérebro, mas é experimental. Causou delírios e achamos ser Alice querendo atravessar o espelho. Acreditamos ser exatamente isso o ocorrido. Estamos através do espelho.”

Está tudo trancado. Não pode ser verdade isso. Estou passando muito tempo sozinha. Li ficção e terror além da capacidade humana, ultrapassei as barreiras da noção, perdi os limites... Por favor, não! Oh, Deus!! Isso não é verdade. Parece ser um lugar sólido aqui. Não há reflexos em parte alguma. De onde vem esta iluminação? Estão batendo na porta. Qual porta? Até agora nada fazia barulho como se estivesse tudo preenchido lá fora sem sombra nem luz... As batidas continuam e já chequei cada porta! Sou apavorada assim mesmo. Isto é um reconstrução? Quem autorizou isso? Bem... Eu né?! Segundo o bilhete. Mas não há outros como eu? De onde vem estas batidas... Espera. Estão mais fortes!! Não pode ser! Este armário embutido não estava aqui, estava?


Mudaram as batidas. Parece uma conversa. Devo responder? E agora? Vamos lá! Eu não tenho muita alternativa, não é mesmo? Sinto ter de bater algo combinando com isso... Ok! Ok! Ok! Está certo! Parece ter passado horas e os nós dos meus dedos doem... Barulho de trava... Podia abrir rápido, não em câmera lenta, mas... Não vai para dentro ou fora. Está sumindo. Desfragmentando aos poucos. Devo temer? Eu sei temer? O o o olá? Será uma pessoa? “Venha. Você conseguiu. Talvez você saiba seu nome e quem é neste momento mesmo tendo tudo bloqueado dentro de ti. Você errou os mesmos erros até agora. Agora você precisa decidir quem quer ser.” Não sei dizer nada ele não mexeu os lábios? Mexeu? É meu sonho! Isto é um sonho? “Não! É o mais real da tua vida até agora. Dê-me a mão e venha. Sim você apenas pensou, no entanto ainda não sabe o poder do pensamento”.

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