quarta-feira, agosto 02, 2017

Muitas outras (miniconto)





por Rafael Belo

Acordei com aquela dor na rua. Olhava para as pedras desconjuntadas não diferenciando a calçada e não entendia. Nunca tive dores de cólica, gástrite ou quaisquer desconfortos estomacais. Mesmo assim meu estômago imanava um sofrimento a parte e realmente eu gostaria de estar aparteada dele. Esta intervenção interior não me pertencia. Tinha certeza. Neste momento me recordo de vir de outra ou outras – este sentimento - me atingindo como se fosse meu e era. Aí pensei se aquelas vias feitas daquele jeito sem nunca pensar em calçadas, quando havia desnível, provavelmente era pensando em alagamentos e inundações...

Eu preciso achar meu desnível. Emanar-me de mim. Nãonãonão. Eu preciso lidar com isso. Eu vim até aqui fora para respirar, mas este fora não existe – eu insisto – é furto do meu olhar, fruto do desviar. Talvez até esta brisa do mar seja minha imaginação me distraindo. Desacredito eu querer me enganar. Há sim esta brisa marítima. Mas aqui, respirando com dificuldade, é o comércio o comandante de tudo. Todo este planejamento universal é minha sincronicidade com esta cidade. Não se engane! Estamos sitiados. Manipulados há um nível difícil de definir. Há uma subvoz usando um subtom bloqueando a empatia... Continuo em dúvida se é dádiva ou maldição. Quero acreditar ser um dom...

Então, assumo esta dor. Ei! De supetão ela mudou. O sentimento não é mais o mesmo. O meu sentimento de libertação se sobressai agora. Ou a dor desta pessoa passou ou a minha libertação a afetou... Vamos lá! Você também tem empatia. Comece com a simpatia... Não somos obrigados, mas ser antipático é bem pior. Não é, não? Lembro como era ensandecidamente intensa quando permitia minha empatia me explorar por completo. Usei o medo disso tudo de forma errada. Fiquei lacrada por muito tempo como o suprimento intacto de um navio afundado em um lugar inexplorado do fundo do oceano.


Não serei menos intensa, menos sorridente, menos presente... Só tentarei ser menos egoísta. Ter tantos mundos sentimentais completos dentro de mim me faz tantas mulheres. É como ser única e especial sem contrastar com ser comum. Pode sentir isso? Somos elo sim. Precisamos nos libertar. Sem esteriótipos, sem protótipos, sem empoderamento porque nós somos o próprio Poder. A empatia se aconchega melhor nos nosso deixar ser. Vou identificar a origem deste meu sentir você e chegarei aí onde esta fisicamente. Não só conectada a sua mente e aos seus sentimentos. Também habitaremos a pele uma da outra e ainda sim seremos nós mesmas, individuais e cheias de personalidades. 

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