sexta-feira, setembro 29, 2017

Minha vida começa aqui (miniconto)





por Rafael Belo

Corri contra o tempo até o fazer correr comigo neste conflito dele ser eu. Eu sou o próprio inimigo. Minha inimiga sou eu. Então, pensar em vencer a si mesma diariamente e lutar contra o tempo tem o significado igual. Foi um achado esta reflexão. Cheguei mais rápido no fim. Vi desvios, atalhos e os ignorei. Ajeitei minhas horas minuto a minuto e fui atrás do próximo começo. Esqueço-me de outros recomeços só me importando com o agora.

No primeiro tropeço retirei a poeira e me ajeitei. Endireitei meu corpo. Encaixei-me toda. Suspirei todas as dores para irem embora de vez. Rejeitei novas histórias mal resolvidas e bem resolvida dei o primeiro passo equilibrado. Agora estou firme caminhando minhas selvagens trilhas ainda não desbravadas. Não uso o tempo mais para nada. Estou tentando coisas nuncas antes tentadas por mim.

Corro todos os dias para minha alegria. É uma liberdade fazer o vento beijar meu rosto. Vim sozinha nesta trilha arriscada intrigada em ver a vida como ela é. Estou fascinada por descobrir eu ser a maré e a lua, a praia e o mar, a pele nua eriçada para se entregar. Claro. Já dei muita cabeçada, mas com as mãos transplantadas não tenho mais dedo podre e volto a ser livre para escolher minha jornada.


Daqui de cima vejo a estrada. Valeu à pena subir até aqui. Estava lá esperando o tempo todo algo sempre vivo dentro de mim. Ainda dou minhas cabeçadas e ainda as darei, mas pulo de cabeça porque sei nadar e não vou mais me partir por coisa pouca ou muita coisa. Aprendi a sorrir por quem eu sou. Mergulho no meu néctar, me afogo na minha alma e sou minha melhor amante em todos os instantes. Giro 180 graus. Não vou descer por onde subi. Desço o outro lado da montanha. Minha vida começa aqui.

quinta-feira, setembro 28, 2017

sem parar





o tempo sentou ao meu lado no minuto marcado
fez um contratempo bateu palmas empolgado
virou meu rosto para o espelho e só havia eu

parado de joelhos eu era ele naquele olhar intenso

me ajeito penso me endireito levanto nada mais é tenso
me compenso enquanto me encaixo sou tempo espaço
um laço entrelaçado com outro no toldo rasgado imenso

ouço o vento assobiar no meu ouvido o motivo da gente passar
é que em cada lugar a gente vai mas fica como um estrela sem se apagar

jeito gentil de iluminar ajeitando quintais com o nosso diferencial somar

dois por um a gente dança sem deixar a vida parar.


+às 00h23, Rafael Belo, quinta-feira, 27 de setembro de 2017+

quarta-feira, setembro 27, 2017

Quanto tempo (miniconto)






por Rafael Belo


Eu vivo esperando meu tempo chegar, mas ele não vem. Sou dessas mulheres livres, únicas tipo Elis. Mas, ando coberta pela minha própria poeira e pela sujeira espalhada por mim por aí. Minha intuição me trouxe até o Monumento do Relógio, este obelisco falso da cidade. Digo isso porque ele realmente não é o original. Este foi demolido e não passa de uma réplica. Pensando assim, assim me senti. Mera réplica de mim.

Sentada aqui me imitando, repetindo todo meu feito sem querer perceber. Não aceito, mas nem sempre noto. Quando me ajeito, saboto... Este é meu defeito... Claro, o sujeito escolhido para fazer manutenção do meu coração, também ajuda pouco.  Aí venho aqui sozinha como se fosse um rolê, mas não... Chego já bodada com vontade de ir pra casa sem perder tempo. Então, penso de novo enquanto desovo nas horas minha agonia no meio do povo passando...

Estou me adiantando, mas me sinto atrasada. Nem sei se estou presente, ajeitada... Preferia não achar nada e seguir a manada. Este deve ser o melhor efeito desta droga parecida com democracia. Seguir entorpecida sem pensar na vida... Esta quase democracia parece meu quase livre-arbítrio... Só tem nome e eu nem sei usar. Alguém aí tem manual de instrução? Aponta uma direção para eu tentar, vai? Esquece tudo. Eu não disse nada. Nem sou parecida com ninguém...


Sou eu mesma mesmo perdida no tempo até porque eu sou este tempo, não é? Alguém pode confirmar? Produção!? Não?! Estou sozinha mesmo. Cantarolando “Toda Forma de Poder”... “Se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que eu fiz...”. Mas, agora não tenho forças para sair do talvez. Não sei se passa, se você passa... Sei da minha passagem e mesmo assim sigo em dúvida. Aqui, no Monumento do Relógio, vou esperar mais um tempo pensando em quanto tempo tenho e se tudo vai se ajeitar se eu só esperar.

terça-feira, setembro 26, 2017

Crateras



no meio do decorrer o tempo para no meio
alheio a quaisquer importâncias voando a esperança do avesso
ajeito o corpo endireito o rosto parando de inclinar no sossego
descubro que o tempo não pára paramos nós a espera

aquele círculo perfeito era imaginação não há redonda esfera
quem dera tantas feras bestiais ficassem de fora da verdadeira selva
a relva se enche de orvalho ainda assim o tempo esta seco fosco Cinderela

tantos sapatinhos de cristais em covas rasas e crateras
buracos no qual sentamos esperando nosso tempo chegar

ali parados todos os significados achados a esperar se perdem ficamos para trás neste todo breve.


+às 10h45, Rafael Belo, quinta-feira, 26 de setembro de 2017+

segunda-feira, setembro 25, 2017

Sobre o tempo e o ajeitar




por Rafael Belo

Sempre ouvi frases como “tudo ao seu tempo”, “não é hora para isso”, “com o tempo a gente aprende” e, entre inúmeras, a mais famosa: “o tempo cura tudo”. Mas, desde quando me lembro sou - não vou dizer o 'tipo’ de pessoa e colocar todo mundo em uma caixinha de rótulos devidamente etiquetada - de fazer as coisas à minha maneira e se alguém mandava - manda - eu fazer algo que já ia fazer… Eu não faço. Sobre o tempo e o ajeitar das coisas não penso diferente. O tempo não vai ajeitar as coisas pra você, pra mim nem pra ninguém.

Eu vejo pessoas há anos naquela rotina tediosa, repetitiva, exaustiva e – às vezes estão felizes – não vejo felicidade alguma naquilo, neles... Pode ser a única opção, mas não acredito nisso... Tenho o costume de voltar aos lugares onde morei, vou às empresas onde trabalhei e visito àqueles que passaram pela minha vida. Fico surpreso com muitos ainda pensarem e agirem da mesma forma, trabalharem no mesmo lugar, dizerem as mesmas coisas, morarem na casa exatamente como me lembrava… É um choque ver como o tempo só trouxe calos, rugas e experiência.

Não me entendam mal… Estou apenas querendo dizer: nada mudou. Não é o tempo responsável por ajeitar as coisas, nem nossas experiências e marcas. É como lidamos com tudo isso, nossas relações, nossas reações, nossa absorção, nossa absolvição e como usamos o conhecimento da nossa vida. Talvez você seja de reclamar, de ver só coisas negativas e achar que os outros são muito chatos, lerdos ou só atrapalham... Bem isso é um desperdício completo, mas não venha dizer estar perdendo tempo. A gente não desperdiça ou perde o tempo porque nem é possível guardá-lo quem dirá o acumular. Desperdiçamos nós mesmos.


Eu olho para o tempo passando no meu pulso, no microondas, no celular, no rádio e na televisão nenhum mostra o mesmo horário. Estão ou atrasados ou adiantados. Deveria eu os ajustar, os ajeitar porque eu faço o meu tempo. Eu lido com os meus problemas e cotidiano como escolho lidar. Eu dou as prioridades… Eu me ajeito quando eu entender como cheguei até aqui ou é tudo ilusão. Se é longe se é perto, demorado ou ligeiro se é errado ou certo depende do meu tempo e do meu jeito. O tempo não significa nada sem nós porque somos nós que damos significado ao tempo. 

sexta-feira, setembro 22, 2017

Você precisa se encontrar também (miniconto)







por Rafael Belo

Meu coração já não se parte mais. As pessoas não me decepcionam mais. Se eu me apaixono e desapaixono? Claro, mas nunca desamo. Hoje, meu coração tem toda razão e é um músculo forte. Já fui do Centro, do Leste, Oeste, do Sul e do Norte... Hoje só navego. Mas, não me considero a navegante. Às vezes, nem levanto a vela... Vou pelo ondular das águas... Assim, sempre volto para o mar. Aqui estou mais uma vez. Pensando, me renovando com o coração inteiro. Não o entrego mais, apesar de ser entrega sempre.

Sabe, eu até tento me apaixonar, mas vejo ser tudo ilusão minha. Acaba logo como chama de vela pequena... Todas as minhas celas eu arranquei as barras uma por uma e estou livre, mas mesmo assim sofro da síndrome da pata presa. Sou aquele elefante cheio de memória e experiência, mas como passou a vida preso pelo tornozelo não faz ideia da força que tem, nem que esta é suficiente para derrubar a árvore. Nada é capaz de nos prender além da manipulação e do condicionamento.

O sofrimento não me pertence mais. Já fui mulher capaz de entregar o coração para o outro pensar eu ser dele. Sou só de mim mesma e olhe lá. Cada rolê que vou não tenho paz para sequer dizer não, mas o digo e não permito um sem noção nenenzão tirar minha paz. Demorei demais para conquistá-la... Às vezes a gente trava... Desculpe só posso falar por mim, não é, não? Às vezes eu travo. Isso só pode significar que eu não estou pronta... Não quero forçar nada antes de me sentir bem comigo mesma, por isso, estou aqui. Meu corpo é minha igreja e este navegar minha oração.


Não gosto de sutilezas ou jogos. Não enrolo. Sério! Só não sei ainda diferenciar gentileza de interesse, mas o fato é que não estou interessada. Sorrio sim por nada. Nada do seu interesse... Eu venho para cá em mais uma jornada em busca do novo eu. Posso ser encontrada em qualquer lugar barulhento ou não, mas quero ter esta sensação de não pertencimento, de encolhimento e imensidão diante da Natureza. Distanciamento é bom, então me deixe só agora. Respeite-me! Vá embora, afinal você precisa se encontrar também.

quinta-feira, setembro 21, 2017

a gente segue



deixo desafetos na projeção particular delas estouro meu ego
volto pego os pedaços partidos do meu coração para partir
apego-me me pego desapego retiro todos os pregos da madeira da janela
o sol entra me invade como restauração a última lágrima pregada escorre

corre cada castigo boato esperado sou meu achado
o único pecado então é não reconhecer não se desfazer até ser novo
jogo de não jogar apenas tirar todo o insufilme deixando tudo transparecer

o filme da nossa vida só a gente vê para o restante é trailer
não temos edição e a única produção é o nosso conteúdo

continua sendo absurdo se entrelaçar a matéria até a estreia desta fênix também chamada coração mostrar não ser possível filmar a nossa nova ilusão de ser o bastante enquanto o instante de se entregar a paixão não voltar a chegar a gente segue a negar amar.

+ Às 11h58, Rafael Belo, quinta-feira, 21 de setembro de 2017+

quarta-feira, setembro 20, 2017

Como faço?! (miniconto)







por Rafael Belo

Meu coração está espalhado por esta floresta cinza de pedra. Partido em tantas pequenas partes, algumas limpas, outras com musgo e ainda aquelas tão vermelhas que penso ser de Marte. Talvez se a terra continuar a ser assassinada por nós diariamente ela também seja Marte, aí volto a ficar em dúvida de onde vim e o que fiz e por que eu? Não devia ter deixado meu coração partido se espalhar pelo caminho... Não vou voltar pela trilha, não sou Maria... Bem pelo menos não a do João. Mas, eles também tiveram o coração partido quando foram abandonados...

Ando muito perdida, mas quem é um achado o tempo todo? Ninguém, né?! Não me deixe insegura sem uma resposta imediata. Talvez eu seja mais abstrata a física, sabe? Sou de palavas, de intenções, de observações, de detalhes... Uma brutalidade de leve sem deixar roxo é uma pegada ideal, mas foram estes seres idealizados responsáveis pelo meu coração quebrado. Eu dou sinais, mas às vezes cai a conexão e nem eu entendo mais o (mau/bem?) feito porque se não for exatamente como eu quero...

Eu parto, me parto, te parto... Conjugo todo o verbo sem parir nada de verdade além de insistir em repetir meu coração partido. Talvez, sim ele tenha partido para não voltar. Mas, esta ausência dele batido, espancado ainda me apanha de surpresa. Será? Será ainda possível eu voltar pela trilha onde eu o espalhei para não me perder e, mesmo assim, não me perder mais? Você sabe da dor. Ela sabe! Ele Sabe! Todo mundo sabe! Mas, mesmo assim depois de todo remendado o partimos no mesmo lugar.


Sei lá. Não tenho este tempo para ficar sozinha. Vou entregando meu coração para qualquer um sim. Ah, não sou mulher de enrolar, mas eu vou aprender a selecionar melhor este qualquer um... Ah, se vou. Vou no rolê ganho atenção e já quero partir meu coração. Não consigo evitar. Assim, eu me divirto pouco e só falo do crush e.... Me perdi né?! Queria falar desta maldita floresta de pedra onde agora estou perdida e saber se você tem ideia de onde estão as partes do meu coração partido, mas agora é tarde já tenho sofrido de novo e meu coração parece meu fígado... Ei! Neném! Sabe como faço pra chegar a Marte?

terça-feira, setembro 19, 2017

nossa criação





estão espalhadas as acesas luzes pela cidade entristecidamente cinza
meu coração partido tem uma parte em cada uma delas e por aí se pinta
não há tinta suficiente para as lágrimas efervescentes transbordando
desmoronando sem aviso prévio todos os sinais demitidos nas cores agressivas do tédio

no alto do meu prédio sou edifício no específico não morrer enquanto não acredito
sou nocivo a mim mesmo em todo grito e inquisição do meu coração
o suicídio da minha razão é diário na maldita floresta deste Japão em mim

desflorestei em algum momento e agora sou um deserto se espalhando
desnacionalizando qualquer sentido de identidade vagando sem fim

coletivo eu no tempo contínuo simultâneo buscando curativos separando quem somos de todos os demônios criados por nós.

+ às 11h26, Rafael Belo, terça-feira, 19 de setembro de 2017 +

segunda-feira, setembro 18, 2017

O que queremos partir?




Por Rafael Belo


Os corações não se partem realmente, apesar de nos sentirmos partidos, repartidos entre nosso eu ferido e ela/ele a causa da ferida. Eles não doem de verdade, apesar da dor dilacerante nascida de um ideal e um amontoado de expectativas. A gente não se debatia para fazer funcionar? Não queria dividir todos os lugares e sentimentos? Agora é confusão e dor. Somos fortes, mas não queremos ouvir isso. Vai passar não vai ser o suficiente possível. Temos nossa hora. O problema é ter pressa.

Não adianta. Quando os números marcarem nossa hora, os ponteiros apontarem para nós teremos encontrado alguém capaz de nos fazer esquecer ter havido outra pessoa antes. Mas até este instante temos que melhorar nosso convívio com quem somos e estamos nos tornando.  É um tornado nível dramático sete arrastando tudo para um só pensamento e sentimento esta dor que não quer passar. Porém, vejam a tevê. Apesar de tanta morte, dor e destruição a ênfase são as estatísticas. Os números. Fazemos o mesmo. Esquecemos cada detalhe “bom” e focamos no ruim. Queremos entender e, às vezes, nem há razão alguma.

Uma bruma densa vem destas lágrimas escorrendo dos nossos olhos nos travando, ancorando, bugando em um lugar remoto onde todos passam, passaram e passarão. Mais uma vez tudo depende dos significados dados por nós sobre e não o acontecido em si. Precisamos saber - e sabemos sem conseguir fazer funcionar - enxergar além desta confusão geral em nós acabando por nos anular misturados nestas lágrimas derramadas e evaporando ao nosso redor. Quanto tempo vamos nos confundir com nossas brumas, nosso passado e este estado estagnado de pedaços espalhados?


Dissipar ou absorver e seguir faz parte do nosso crescimento e o fortalecimento do coração. Eu aprendi que a mente é mais forte que tudo. Ainda assim sou intenso em cada sentimento, mas nunca escolho o sofrimento. Há um discernimento surgindo no horizonte acredite em si. Valorizamos demais as coisas erradas. Ok. Teu coração pode estar partido. Ele vai cicatrizar e você terá histórias para contar, mas não existe culpa em uma relação – tirando as agressões. Tudo acontece a dois e se o coração parte, partem os dois . É melhor se resolver e nem sempre, quase nunca, tem a ver com o outro, só com você. Quer saber? Não deixe o coração esvaziado por causa de nada. O deixe preencher com as melhores coisas e elas estão por vir, basta não ficar parado e partir só nesta movimentação para o porvir.

sexta-feira, setembro 15, 2017

O rolê de hoje (miniconto)






por Rafael Belo

Tinha uma lágrima em meus olhos, então eu desfoquei. O Mundo se desdobrava atrás de mim. Abri o planeta com minha mente, meus dentes e minha força. Eu chamada de louca, a maluca das mil coisas... Ria deles. O mundo é meu. Vejo tudo de perto, vou lá e me entrego. Já sofri como uma insana, é verdade. Mas, hoje vejo reciprocidade. Aprendi com tantas verdades e relatividade a ponto da minha flexibilidade deixar maleável meu esqueleto. Não sou uma ratinha, talvez uma gatinha capaz de ver tudo dentro do próprio olhar.

Ah, meu coração faz de tudo para se ouvir. Vai lá, conversa com a intuição, me dá um batidão e – antes não – agora entendo. Ele é minha razão destes meus descalços pés no chão, está vendo? Sou plena e poderosa. Fragilidade é o *&¨%$#. Desculpe. Tem coisa que só me empolga e outras me tiram do sério na hora e não tenho critério, ou seria filtro, para o que chega e salta da boca. Já disseram eu ser louca, mas sou só sincericida.

Ao meu redor só quem eu quero. Não pensam igual a mim e nem espero. Ai de mim vestir este padrão de quando eu só olhava para frente e vivia aos tropeções e consequentes quedas sem razão. Agora quando eu caio mal me machuco porque já estou preparada com todas as quedas tumultuadas já caídas me deixando no chão como uma armação de sombrinha na chuva forte de vento... Só estou dizendo! Ai de mim? Quem usa isso hoje em dia? As pessoas esvaziam as palavras, usam as pessoas, adoram as coisas, mas...


Não! Não olho mais para trás nem adiante. Só vejo os meus arredores e tudo perto. Distante só existe enquanto a gente não está lá... Minha filosofia de bar. Se você está adiante me traz o tempo perdido neste espaço daqui para o que ainda não houve, neste abismo criado sem nem saber o que foi tirado nesta escavação. O rolê de hoje é aproveitar os amigos, esta proximidade abrigo de valorizar a presença... Estou aqui na conveniência esperando o expediente mais inteligente começar. Sabe qual é? Sempre estar e tocar.

quinta-feira, setembro 14, 2017

sem fôlego




sou tua íris universo tua pupila dilatada
lágrima alegre incontida nesta encruzilhada
arada na colheita do rosto colado na troca de olhar
envolvida criatura com o toque de sempre estar

um despressurizar perto adepto ao total contato
pacto do tato do ato compacto de sentir o existir
enxergando tão próximo a ponto de ver a alma evoluir

partir cada corrente olhando indigente o estourar adiante
estando presente na pele delirante inebriante neste acontecer

ser intenso sentimento até dissolver com o toque do fim do estoque do ar.


+Às 12h, Rafael Belo, quinta-feira, 14 de setembro de 2017+

quarta-feira, setembro 13, 2017

qualquer coisa humana (miniconto)




por Rafael Belo

E se não houvesse religiões só a fé. Já é muito, aliás, já é tudo. Praticamos tantos absurdos, atos obscuros, gestos grotescos, textos bizarros... Poderíamos todos ser aberrações porque já dizia a canção de Caetano, Vaca Profana, “de perto ninguém é normal”.  Deve ser este o motivo das pessoas focarem longe, olharem distante e esquecerem o arredor. Estou olhando longe, mas e perto? Há o certo e o contrário, então... Há o errado e seu oposto de antemão. Há apenas dois lados de tudo? Infinitamente não. Eu mesma já tropecei na minha língua já acordei tomando soro antiofídico depois de mordê-la em um momento de tensão...

Meu nome é Mania e você já deve imaginar a sofrência de ter este nome. Mas, então, eu sou várias ou só um espelho repleto de trincas e rachaduras? Não estou disposta agora a olhar de perto isso. Não chego perto nem do espelho. Abaixo as vistas e não encaro meus olhos. Aí penso em Deus e nas provações e juro, juro mesmo, tento não julgar. Penso na abrangência da onipresença, da onisciência e, principalmente, no Amor... Na sequência estou com minha própria tocha em meio a um bardo enlouquecido, enfurecido com o mais novo odiado, o mais novo anticristo... Penso na nossa hipocrisia e afetação. Penso na ironia... Sou Mania e tenho esta mania, então lembro não ter religião só muita fé. Aliás, é tudo...

Já pensou que acreditar em nada é acreditar em alguma coisa? Não me localizei pra você, se é que faz sentido. Estou aqui foragida protegendo o sistema de alguns amigos. Eles foram invadidos pelo Sistema. Hackeados para virarem locais comuns... Transgressores natos etiquetados à força para não incomodar, para agradar... Isso não causaria um suicídio coletivo?! Ah, no Setembro Amarelo precisamos alertar sobre este silencioso fardo... Para mim, suicídio é cercear, viver uma farsa, mas quando acontece de fato, físico, fatal... Fica um vácuo emocional, social, psicológico, além do físico. Não me venha com motivos, com novas etiquetas, afirmar distanciamento, culpas e perda de fé... Aliás, tudo.

Já olhou de perto o alcance de coisas que poderiam passar invisível virando monstros consagrados pelo acesso, pelas conexões...? Escuto o silêncio e o posicionamento nas mídias digitais... Vejo os textões pessoais e nem sempre tenho uma reação me motivando a esboçar uma reação ou sequer comentar. Nem tudo vale à pena, desculpe Fernando Pessoa, às vezes não tem nada a ver com o tamanho da alma, mas essa esquizofrenia global nos fragmentando, nos deixa perdidos em significados, culpas, reconhecimentos... Faço ofensas e sou ofendida. O que é a ofensa? Não é tudo?


Honra, dignidade, afronta, dano físico, lesão, desagravo, desencontro, encontrões, descontentamento... Sensação desagradável, desgosto, aborrecimento vindo de indelicadeza, desconsideração, menosprezo... Isto tudo é ofensa. Dei um Google e descobri vir do latim OFFENSA e sabe o que significa? Nada! Não, brincadeira. Significa contra-atacar... Muitas coisas nos é desagradável, mas olha a novidade tenha fé e nada vai ficar distante do seu agrado porque você não irá buscar se agradar com nada vindo distante de você. Veja bem, bem de perto, aproxime já percebeu que se há um contra-ataque é sumariamente necessário um ataque? Agora se você leu este post até aqui, continue com esta Mania profana de duvidar de qualquer coisa humana.  não ser que você seja eu, aí temos de nos encontrar para conversar...

terça-feira, setembro 12, 2017

Se adiante Se




está perto este gesto não visto
dito em silêncio pelo senso de estar
no ar na pele naquele olhar a te ver
a enxergar tudo aquilo desprezado por você

ser eu ser tu seja a proximidade cega
alega ser natural como a noite
chibata açoite onde o horizonte te marca

apaga aos arredores nos menores detalhes
entalhes mínimos para realmente enxergar

flutuar nesta bolha distante (in)abalável na balada adiante estourar.

+ às 11h, Rafael Belo, terça-feira, 12 de setembro de 2017+ 

segunda-feira, setembro 11, 2017

arredores invisíveis



por Rafael Belo

Nós temos mania de olhar adiante sem enxergar ao nosso arredor. Por isso, tropeçamos tanto. Caímos das piores maneiras possíveis como uma árvore solitária em uma floresta densa sem espaço para sequer dar o próximo passo, oferecer ar para a semente brotar. Há um conglomerado de quedas se atropelando, se esbarrando, se empilhando, atrapalhando o levantar... Deve ser este o motivo de não sabermos o momento no qual caímos. Não sabemos. Estávamos lá adiante vivendo um futuro inexistente quando despencamos e machucamos cada parte do corpo, vivendo uma concussão não diagnosticada.

Devemos olhar adiante, mas isso não significa não enxergar tudo e todos próximos de nós. Até porque algo ou alguém pode ser fundamental para o adiante chegar. Um dos motivos da repetição dos nossos erros é isso, além da falta de aceitação do erro e de culpar apenas o outro, as coisas, o ambiente, o tempo, o governo, a política... Você vê? Os olhos são meus/seus, os entendimentos são meus/seus... As escolhas são minhas/suas... Então, querer o fim, focar à frente requer estar presente agora e em contato com tudo próximo.

Está certo. Nós vivemos olhando para baixo com os olhos voltados para a tela, com a mente focada em outro lugar... Onde está nosso foco? Imediatismo só cria gerações da ansiedade, medo de comprometimento, tremor e outras fobias. Estamos vivendo para o amanhã e já estamos lá. Sem meio, sem a construção necessária para lá permanecer. Então, volte, reveja, mude porque este foco no lá sem estar aqui é apenas mais um lugar indeterminado colaborando para os rótulos e etiquetas para nos encaixotar em um código de barras fácil de identificar e manipular.


Esqueça este tal de custo/benefício, às vezes só precisamos observar, estar no lugar ou apenas tocar. Não precisamos viver em sacrifícios, mas precisamos corrigir nossa visão seja com lentes de contatos ou com óculos de grau. Preste atenção. Há outras formas de enxergar e o adiante só existe se chegarmos até ele. Até lá temos de saber – pelo menos – o porquê de estarmos caindo tanto porque vamos continuar a tropeçar e se soubermos os motivos podemos evitar a dolorida queda emotiva.

sexta-feira, setembro 08, 2017

A viajante (miniconto)





por Rafael Belo

Estou no topo. Aprendi a subir sorrindo até com os pés cortados, os joelhos ralados, as mãos feridas e o coração despedaçado. Minha mente resolvida sabia o tempo de manter esta dor. Olho as cicatrizes sendo absorvidas pela pele, pelo meu organismo tão vivo e viajo pelas possibilidades de me deslocar, de ser livre, de ser o espaço, o lugar... Meu mundo. Se houver desperdício nesta vida, deve ser ficar parado, sem se movimentar...

Esta é minha primeira viagem e há dias não ouço nem vejo ninguém. Por isso, falo alto e rio sozinha... Não! Não estou sozinha! Há tanta companhia ao meu redor. Veja só. Olhe ao meu redor. Sinto-me plena como o vento. Eu era apenas uma sonhadora, um momento, como tantos navegantes encalhados por aí. Agora eu sou a sonhadora, o momento, vivendo meu sonho de conhecer e romper todas as barreiras.

Minha carreira? Quem inventou esta fórmula do sucesso? Este acesso as futilidades, a escravidão pelo dinheiro e a ilusão daquele circo e muito pão? Não. Eu aboli minha escravidão naquele instante no qual esvaziei... Sim, esvaziei minha mochila. Quase nada pesa aqui. Só há roupas leves, um par de calçado e de chinelo extras. Ri dos padrões, fiz piadas com os patrões e agora, vejam só, eu subi.


Estou aqui. Sou o vento, o tempo, a distância, o Nirvana, a iluminação, a meditação me desprendendo das rebarbas ainda tentando me fazer prisão... Sou libertação. Emoção. Este canhão, esta natureza exuberante, estas rochas, este mar... Todo o horizonte navegante na minha embarcação sem fim. Eu sou assim: a mulher mais bela, uma tela em branco, uma janela... O passado, o futuro e o presente neste instante acontecendo junto porque início, fim e meio são um só. Também sou reticências, mistério sem ponto final e este sorriso se formando agora em mim e em você porque aproveitando esta viagem a próxima vai se preparar e a gente nunca vai parar.

quinta-feira, setembro 07, 2017

desmania




meu coração minha mente viajam com minh’alma independentes de posses indiferentes a qualquer mal iminente incapaz de afetar
nada pode chegar aos viajantes presentes nos semblantes distantes no olhar
semelhantes às paisagens guardadas na memória
a trajetória é caber inteiro na mala de mão

a mochila é leve revela o quão breve somos nesta imensidão
 pouca roupa passos longos total contemplação
interação com a vida em cada uma das dimensões

as sensações de liberdade são abertas em camadas de paisagens eternas
somos toda uma era de mudanças sentindo o vento do rosto as entranhas

de dentro vêm os verdadeiros gritos de independência nossa essência não barganha ganha se perder toda esta mania de se prender.


+ Às 15h07, Rafael Belo, quinta-feira,  07 de setembro de 2017+

quarta-feira, setembro 06, 2017

Onde vim parar!? (miniconto)






Por Rafael Belo
Não sei se a noite foi leve ou pesada demais. Não me lembro de ter acordado assim antes. Havia um lampião apagado logo acima de mim. Na primeira vez que abri os olhos achei muito irreal, o lampião parecia aceso. Fiquei pensando sobre o rolê, mas imediatamente dormi novamente. Acordei definitivamente com um calor danado, um silêncio trevoso e travada. O lampião parecia aceso, mas desta vez era o efeito dos raios de sol. Conferi se não sentia nada, além da dor de cabeça, do gosto de ferro e do desgrenhamento geral, nenhum arranhão.

Levantei e percebi ter dormido em cima daquela mesa de madeira dura e cheia de nódulos. Explicava mais algumas dores... Fiquei em pé no banco e meus olhos desfocaram junto com o giro da realidade. Óbvio, estava tonta. Olhei a frente e o lampião saiu de plano. Ao fundo um balão preenchia o globo central da brandeira brasileira. Encostada na parede precisei reparar melhor onde estava. Nada ali era novo. O ar era autêntico com um quê de salino e mofo. Preciso achar significado para tudo ou surto ou morro...

Eu li nisso tudo a necessidade de ser louca mesmo no meio do passado no qual insistimos em viver. Filosofia da ressaca... Apesar da expressão machista, vulgar e não verificada, me sentia uma puta barata. Não estava em casa ou em qualquer lugar conhecido, só com a roupa do corpo. Agora estou aqui com a boca seca da embriaguez, da bêbada da noite passada mesmo. Pelo visto ela nada fez porque ela contiua eu. A médica e a monstra... Uma viagem! Não entendo o porquê de não ter ninguém aqui. Isto é um tipo de hospedagem, mas estes paralelepípedos em toda parte...


Como vou andar neste solo irregular? Eu estou um desgaste. Um total desastre. Pareço ter sido dominada por alguma parte de mim fragmentada, sem dinheiro nem nada, realizando o sonho de viajar. Sinto-me usurpada... Estuprada... Mas, mas... Não fisicamente, nem psicologicamente... Foi moralmente. Minha cidadania foi destruída e fui tratada como objeto. Uma peça de reposição, não! Uma peça descartável. Eu não amo minha nação, amo a mim mesma, por isso a deixei... Ei! Bom discurso. Será que dei adeus? Ai meu Deus...! Estou começando a me lembrar! Eu já fui presidente de algum lugar ou seria de lugar nenhum? Viajei! Onde eu vim parar?!

terça-feira, setembro 05, 2017

afundos




estou sonolento lento falecendo de âncoras amarradas
atento sei do padecer de todos em escaladas por prevenção parto
partido arrasto o mar comigo até as montanhas mais altas

faltas não marcadas ficam pela estrada sem atalhos no caminho
viajo sozinho vizinho das minhas ideias que passam sem destino certo
está tudo aberto perto do discreto detento pensando ao relento se deve partir ou chegar
talvez carregue o mar ou montanhas tamanhas vistas nos versos do invisível

como é possível em um mundo de águas não navegar
se mesmo só molhando as pontas dos dedos estamos a afogar?

vejo vidas velejando sem sol nem luar flutuam temendo flutuar
perdem o vento chegam ao fundo sem saber afundar.


+ às 08h46, Rafael Belo, terça-feira, 05 de setembro de 2017+

segunda-feira, setembro 04, 2017

Vamos viajar



por Rafael Belo

Viajar! Não consigo enxergar maior liberdade! Sair do meu mundinho com vista para o infinito e ir ao infinito. Ter todas as sensações parecidas a dos livros, viver as próprias aventuras, criar memórias tão íntimas e particulares a ponto de ter gosto, aroma, as carícias do lugar na pele e aquele impacto visual único com a sonoridade muito além de qualquer cinema. Não seria eu se não fossem tantas mudanças, tantas cidades, tantas viagens... É um sabor de alegria derretendo na boca como aquele doce favorito. Digo talvez, talvez eu não acredite tanto na vida de quem nunca saiu do lugar.

Perdoe-me por este pensamento, às vezes, seu lugar tem muita emoção, incontáveis histórias e uma rotatividade de pessoas como um carro com motorista, estações de trem, de metrô, motéis, hotéis, hostéis, quaisquer hospedagens, rodoviárias, rodovias, pedágios, aeroportos, praias... Enfim, algo nada estático mesmo se tratando de cidades. Tenho vontade de viralizar, de me espalhar por todo parte e ter minha própria onipresença.

Sabe, de certa forma quem viaja tem o impossível dom da onipresença. Nem precisa fechar os olhos, basta lembrar. Não é uma bolha inflada capaz de continuar inflando nem esta tal pós-verdade do mundo da fitagem. Entende? Este pessoal colando em quem tem posses materiais e “esbanja” com marcações nas mídias digitais, fotos e checkin, enfim. são os fitinhas. Não adianta fitação em viagens, é puro viajar no pior sentido da palavra. Porque viajar é uma desconexão e ao mesmo tempo uma conexão consigo mesmo estando em uma descoberta própria e local.

Aí vem a pergunta: qual o motivo de nos matarmos tanto diariamente no trabalho se não utilizarmos os frutos para benefício pessoal? Para sei lá… obter mais coisas? Fazer o que quiser com o dinheiro?  Pagar contas? Alimentar-se? Viajar? Não estou viajando, mas gostaria… Minha vontade é sair viajando e não parar mais. Eu penso que a gente tem que sair de onde está, se movimentar, espairecer, conhecer, dar um upgrade na mente, desestressar…

Podem acontecer problemas como tudo na vida que podemos listar como histórias para contar ou permitir um ganho de proporções desnecessárias para o problema e, literalmente, perder a viagem Há uma grandeza neste conteúdo crescendo em nós e a aprendizagem vem com um rede de amigos físicas não virtuais. Vamos nos deslocar? Ser mais? Que tal colocar uma mochila pequena nas costas e explorar a vida ao invés de ser explorado por ela? Se assim fizermos poderemos viver várias vidas na mesma existência, fora a experiência e acabar com a ideia de que só se vive uma vez.