sexta-feira, setembro 01, 2017

Esta é a última transmissão (miniconto)



Por Rafael Belo

Nunca foi fácil. É exaustivo para qualquer um chegar ao topo e permanecer aqui. Eu, mulher, pobre, negra e deficiente, sou presidente, mas não por vitimismo ou piedade. Minhas conquistas e vivências vieram de repetidas quedas, com o tempo, de erros... Consigo enxergar a deficiência de afeto e atenção em toda parte, mas estou fugindo do assunto. Desculpe, sempre faço isso quando estou extremamente nervosa. Logo entro em rede nacional hackeando qualquer aparelho com capacidade de oferecer áudio e vídeo. Opa! É agora! Estão me vendo? Ótimo! Interajam!

“Boa noite! Hoje, aparentemente, as mulheres já não são mais vitimizadas muito menos vítimas deste machismo ainda escondido por aí, não mais escancarado como antes. A cleptocracia escrachada foi eliminada... Não! Eu não vou ceder. Minha imagem, meu nome, minha família e meu trabalho foram tão massacrados que... Eu deveria sair deste país. Mas, não foi fugindo blábláblá.”... Deu pra mim! Eu tinha planejado uma revolução, mas uma andorinha só não faz verão. Vou sim deixar este barco afundar. Alô mozão! Já sabe, né?! Acabou. Não é você, sou eu e aquela coisa toda. Beijos, não me liga, não manda mensagem, esquece meu whats...

Ninguém me segue ou eu demito todos.  Afastem-se agora. Bom, meus queridos o rolê agora é outro. Tá, eu sei! Não era a esperança de você e tudo mais. Sou jovem como você nem tenho 30 anos. Fiz todo o possível, mas este recado é mais para as mulheres... Você homens apoiem ou sumam. Não fizeram o suficiente até agora, então... Bem como estava falando: assumam mulheres! Este Brasil não precisa de novos governantes, legisladores, juízes... Precisa que vocês debutem AGORA! JÁ!

Vão invadir tudo. Ei! Nada de dizer para onde estou indo. Não me sigam também fisicamente. Podem ficar me acompanhando virtualmente... Vou voltar diferente um dia. Derrubem todas estas ditaduras! Deixem seus ficantes, abandonem seus maridos, rejeitem esta dependência e cobrança dos seus filhos, façam greve geral de presença...! Vamos ter a decência de tomar o que é nosso! E o que é nosso? TUDO. Cruzem os braços e saiam às ruas. Da maneira que quiserem. Vestidas, nuas, o corpo é nosso, a rua é nossa, a vida é nossa...

Esqueçam estas preocupações banais. O futuro quer mais e nós somos este futuro agora onde só vai existir amanhã se agirmos. Esta é a última transmissão que estão ouvindo e assistindo. Como último ato vou acabar com as comunicações. Ainda sou presidente. Estamos em guerra! Peguem as armas certas! Desejo-lhes sorte! Meu cargo? EU estou de férias eternas! Estou encerrando a transmissão e vocês começando a verdadeira revolução!

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