sexta-feira, outubro 27, 2017

A perspectiva (miniconto)







Por Rafael Belo

Morreu a esperança. A esperança morreu. A esperança foi baleada no Rio. Quase janeiro novamente. A esperança era carioca. Agora, a esperança está morta. Jaz com uma bala perdida, mas parece ter sido enforcada e esquartejada como Tiradentes. Está espalhada por todos os estados tentando intimidar os rebeldes com vontade de novidades. Mas, a história é sempre contada pelos poderosos, por quem quer deixar uma lição para o futuro, com medo de acontecer novamente. Por isso, ela estava tão revoltada com mais uma fake news. Perguntava-se o motivo das pessoas acreditarem mais nestas notícias falsas a verdadeiras.

Quero largar tudo. Dar as costas e partir. Não sei o que me segura... Aliás, só eu me seguro. Nesta dança eu sou a âncora. Não movo meu corpo com a música, não mexo meus pés no ritmo, minha alma espera a conexão, minha pele tem estática demais e não passa o som. Procuro o arrepio... Sento respiro, então sinto. Lá está ela brilhando dentro de mim. Meu sol particular aquecendo e iluminando não me deixando cair... Na rotina. Acredito e ela vive. Eu vivo nela, ela vive em mim. Se eu morro ela me ressuscita, se morre ela a ressuscito eu.

Não é um jogo. É um impulso ativando cada músculo do meu corpo deixando meu cérebro alucinado naturalmente. Sem nenhum lubrificante externo ou incentivo fora da palavra e da ação. Sinto-me toda uma convenção distante de coisas superficiais, covas rasas, ódios convencionais, tempestades temperamentais... Aí digo que podem matar quantas vezes for a esperança. Esta família não tem fim. Não começou ontem nem termina agora. E estes pássaros lá fora? Bicando, piando, ciscando, comendo... Mas, não voando...


Vou sair. Eles devem ter esquecido como fazer funcionar estas asas. Urubus, corvos? Peraí. Corvos não vivem no Brasil só Gralhas, o equivalente deles... Tucanos, Gaviões e... Corujas... Anoiteceu de repente. Faltam quatro dias para o Halloween... Quem diria que vem de “All hallow's eve” (véspera de todos os santos)? Enfim... Eles pararam. Que revoada linda! Não acredito que parecia noite de tantos deles... Quer dizer que a maioria voava. Eu só precisava sair de casa para ver. Pensava que antes eu acreditava.

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