quinta-feira, novembro 30, 2017

nadas e sonhos





não dá para esperar o tempo gira o mundo passa
o que importa o que é agrádável o que é útil embaça
é uma cortina de fumaça chorando nossos olhos
uma batida inesperada de um acidente tremendo solos

vidas invadidas pelo verbo verso virando universos nas esquinas
declamação de silêncios sinceros saindo secretos na capa do jornal do dia
quando os ingressos esgotaram e a respiração ainda está suspensa

na dispensa de reclamação há o vazio tudo está zerado em conspiração
há um trauma envolvido no choque em algum lugar que não encontro

tonto dentro do peito dou um jeito estou acordado tecendo novas vestes com nadas e sonhos.


+ às 11h34, Rafael Belo, quinta-feira, 30 de novembro de 2016 +

quarta-feira, novembro 29, 2017

Feche minha caixa (miniconto)





por Rafael Belo

Não sei quanto tempo ela está ali. Provavelmente, quando eu cheguei metade de um dia já havia se passado. Dizem ser louca. Ela enlouqueceu esperando ninguém jamais soube o motivo da espera. Mas, as pessoas sempre dão uma importância muito maior às maledicências e fofocas a verdade em si. Vou até lá. Será possível alguém já ter feito isso? De mulher pra mulher ela falaria? Direi Marisa? Ela estaria realmente presente? Sim. Ela me viu, me acompanha e parece estranhar minha aproximação.

Eu sempre acreditei que se esperasse o que me importa, me é útil e agradável viria. Chegaria e não foi isso que aconteceu. É isso que quer saber? Por quê? Nunca pensei poder ser além do que sou e, a família que tive, sempre reforçou esta ideia. Meus namorados também... Ex-namorados! Conversar? As pessoas sempre quiseram dizer o que eu devo fazer, o que eu devo pensar, o que eu devo comer, o que eu devo vestir... E meu eu ficou por aí...

Esta é a história da maioria? Não sei. Sei que é a minha! Não conheço maiorias nem minorias e as próprias atribuições destes substantivos femininos se contradizem. Talvez seja fato que humanas e exatas são extremos opostos e eu uma louca qualquer sem nem ter noção de direção ou quanto tempo faz que estou aqui. Mas, escrevi muito do meu mundinho aqui. Minha mente psicodélica sempre me traz de volta para este lugar. Porém, bloqueei o motivo. Não faço ideia de acabar sempre aqui.


Deixe-me na minha caixa. Ninguém mandou você sair. Quem mandou você reproduzir Eva e comer o fruto do conhecimento... Minha ignorância, meus hábitos, minha rotina, me doem menos. Tenha piedade e me deixe sofrer em paz. Quem sabe minha espera valha à pena... Ou isso nem seja um sofrimento, mas uma penitência esquecida que resolvi pagar. Pegue sua caixa e vá embora... Ei! Feche minha caixa ao sair.

terça-feira, novembro 28, 2017

Desgrátis





estava tão bem desacordado no meu passado
nenhum significado significava alguma coisa
estava atado dos olhos aos passos no tablado
era um trocado trocado para parar o porvir

renegado eu no apogeu do fim da queda
orgulhoso de ter orgulho de não saber ser nada
deitado na escada parado sentindo pena da tristeza em mim

esperando a pressa do que me interessa ninguém subia
só descia infesta o útil em promessa desagrada o agradável

serei retornável como uma embalagem de hipocrisia? Nesta dinastia a providência é só aparência quando nem se paga um prato de comida se perde a essência.


+às 16h04, Rafael Belo, segunda, 27 de novembro de 2017+

segunda-feira, novembro 27, 2017

Há espera




por Rafael Belo


Li uma crônica de Lima Barreto esses dias onde ele afirmava que nós brasileiros estamos sempre dispostos a esperar tudo que nos interessa, nos é útil e agradável e fiquei pensando se sempre estivemos esperando algum tipo de assistencialismo, algum tipo de gratuidade eterna, seja do Governo ou divina. Nem todos, mas de alguma forma este sentimento está dentro de todos por mais renegado que seja, mas é certo que nada será providenciado, não haverá nenhum tipo de providência se não enxergarmos.

Há mais para ver neste mundo, há mais para ser a cada minuto, mas somos condicionados a cegueira, a uma caixa escura sem a permissão de entrada de luz. Aí vemos parênteses, asteriscos fora da caixa lutando para não ser mais um produto do sistema, mais uma catástrofe anunciada e não sabemos se adoramos ou queremos nos tornar aquele símbolo em destaque na multidão, na internet, nos jornais, na televisão. Sabe? Trabalhando em algo que dê orgulho?

Queremos lembranças, sermos lembranças ou ser um aviso do possível? Você sente orgulho do seu trabalho? Você é orgulhoso? A tonalidade, o tom, a derivação da palavra orgulho pode nos erguer ou derrubar... Você já parou para pensar? Orgulho pode significar um conceito exagerado de si mesmo; pundonor (não consegue abdicar, nem deixar de possuir, excesso de pudor e rigor, decência, honra, decoro, distinção); altivez (Amor próprio, dignidade, nobreza, presunção, arrogância); brio (coragem, disposição, elegância, determinação, valor); dignidade e soberba (prepotente, intolerante). Eu vejo tanta intolerância e soberba espalhadas por aí e, pior, sendo incentivadas de maneira tola e gratuita.


Mesmo assim ainda há a espera pelo que nos interessa, nos é útil e agradável. Estamos nesta caixa e nem percebermos a necessidade de respirar de sair dela, às vezes, nem sabemos esperar. Nestes duplos sentidos múltiplos qual o motivo a nos fazer levantar? Qual o sentido de sair da caixa e dar as costas para quem nem viu a caixa ainda? Estenda sua mão. Se puder dar oportunidade para alguém simplesmente dê porque, apesar de tudo que nos dizem e realmente sermos tudo, sozinhos não somos nada.

sexta-feira, novembro 24, 2017

meu nome é liberdade (miniconto)





por Rafael Belo

Sinto-me um tsunami. Não destruidora, não matadora, não perturbadora, mas uma força incontrolável da natureza. Avassaladora na presença. Tão contente comigo mesma a sorrir. Se estou amando? Bem-me-quero e provo ser a beleza física a menor das atrações. Sou comum na aparência, mas sinto o próprio sol irradiando da minha pele. Não me acho, mas tenho satisfação quando todos me olham e sorrio com o olhar nos olhos dos desconhecidos e desconhecidas cruzando o meu caminho.

Eu sou conexões sinápticas, sentimentais e ao mesmo tempo física, mas não carnal. Falo de sensações quando o vento acaricia minha pele, quando o crush me toca de maneira calculada ou no meio de uma distração. Vem uma emoção sabe? Tudo em mim arrepia. Aí acontece de minha mente entrar na mente dele e a gente nem mente mais... Conversa horas inteiras e, às vezes, é melhor que sexo banal, casual, sem sentimento, só a necessidade do corpo de executar a excitação, de banir os hormônios da mente para uma viagem corporal.

Mas, quando mente e corpo viram sentimento... Aí estou perdida. Ah, eu me perco toda. Sinto-me transcender. É como ver a chama nascer e se alastrar como se fosse jogada em uma floresta seca no outono e este lugar fosse repleto de gás... Bom, aí já viu né? É Bumm! E aqueles estralos todos do fogo parecem meu corpo relaxando, meus ossos perdendo toda a tensão. Só para tirar o ene... Cara! Sim! É um tesão incomum porque ... AAAA! Não tem explicação. É realmente se sentir raro, especial, peça exclusiva neste mundo igual.


Assim eu me sinto com um holofote me acompanhando no rolê. Como se eu fosse uma foragida dos padrões da Justiça e do Bem do próximo no meio da Escuridão destes rolê em busca de sentir e se divertir. Mas, não sou atração. Sou imã e dançando com a vida rola beijos e quem sabe algo mais... Porque em um momento espontâneo não importa se é momentâneo se eu me entrego à desconexão das coisas pequenas, da matéria ingênua se achando a mais significante. É insignificante qualquer coisa agora a não me fazer sentir. Isto sim é ser livre e se me quiser, me chame. Agora eu me chamo liberdade!

quinta-feira, novembro 23, 2017

estapeados





sou um bicho geográfico criando sob peles minha conexão
mudo toda geografia mental física emocional em observação
sou mapas reconhecidos por quem tem liberdade no olhar
um tapa da vida me deixa marcado para perceber a ligação

a realidade é nossa ilusão espalhada em um gráfico de elos
singelos lapsos da memória um terremoto estático de duelos
flagelos frangalhos nos separam cartas repetidas no baralho

há algo sintomático nas desconexões voando entre peito e estômago
explode o senso demográfico em embaraço no âmago até a lua brilhar

a boêmia no rolê mistura clichês e de repente as conexões estão presentes em engajamentos mentais em encaixes físicos nas entregas emocionais somos estapeados para sermos mais, então deitamos para ver o sol nascer.


+Rafael Belo, às 10h48, quinta, 23 de novembro de 2017+

quarta-feira, novembro 22, 2017

Meu estado é desconexão (miniconto)







por Rafael Belo

Estou aqui tentando buscar aquele sentimento, aquele momento, mas é como se de repente não existisse mais vento ou sequer a brisa. Quero meus pelos eriçados, meus cabelos bagunçados, minha pele arrepiada e um sorriso impossível de desfazer largado no rosto. Ao invés disso, estou me sentindo um cubo de gelo seco debaixo deste imerecido sol. Ou talvez eu mereça...! Nada é gratuito a não ser o puro Amor, a pura Amizade... Eu confundi conexões com obsessões minha vida toda e não posso dizer estar desconectada se sempre estive. Meu estado é desconexão.

Minhas emoções sempre foram instáveis e aqui amarrada, neste fim de tarde, não vejo o sol. O tempo mudou de repente para variar. As horas se arrastam, os mosquitos se alimentam de mim, zumbem dentro do meu ouvido, entram na minha boca, invadem os meus olhos, mas vão diminuindo conforme as nuvens de chuva se aproximam junto com o som do trovão fazendo cair folhas e tremer o chão. Ficou uma súbita escuridão e silêncio. Não entendo o silêncio. Não sei como proceder... Não sei como lidar. Nada aqui tem explicação.

Este flash do universo neste lugar esquecido, onde uma esquecida presa está no esquecimento ilumina tudo em um de repente e eu não sinto nada. Será possível tantos raios em sequência sobre o mesmo lugar? Claro, tudo isso é sobre mim. Sobre quem mais seria? Sou só em solidão por mais encontros, desencontros, leves ignoradas e vácuos pesados que eu tenha distribuído indiscriminadamente não me enquadro com ninguém, em nenhum cenário, mas detesto ter uma multidão em stand by... Estão esperando nem sequer sabem o quê.


Pressionada nestes vazios retrôs há uma catarse nesta chuva me encarando lá de cima. Eu estou amarrada em um lugar desconhecido sem dor, sem motivo... Bom, motivos sobram sempre mesmo não fazendo sentido e preciso sentir e mesmo assim eu não sinto. Morrer é assim? Nada de tipo isso ou eu ser tipo ou eu preferir tipos sou uma mulher cheia dos meus próprios princípios porque até de mim eu me esgoto. Esta chuva está caindo em mim com granizo ora atingindo como uma faca dilacerante meus ossos ora queimando como chuva ácida desta poluição. Serei eu forte por mais uma hora. Vou despertar ou me afogar, mas ninguém além de mim pode me encontrar.

terça-feira, novembro 21, 2017

Adulteradas conexões






olho as profundas linhas das minhas mãos
são sermões senões de todas as conexões de lacrados tãos
separações insinuadas em diversas proporções no cósmico mapa
geográficas etapas de todo mundo ser uma inseparável ilha condicionada

há pequenas substâncias sempre singelas sorrindo contatos em recepção ingrata
burocrata forma sociopata da negação desta desconexão de tanto continente particular
tsunami dos arquipélagos causando casualidades cancerígenas de adultérios sentimentais

totais viagens transcendentais transmitindo títulos sem contexto bugando confusões mentais
ais de contatos físicos fenomenais fingindo feitos factuais do outro lado das fundamentais águas

sempre há vagas no acasos vagos ocupados por permanentes passados sentados projetados em imaginárias paredes enquanto o coração deitado na rede revela relvas prontas para praticar ser floresta prestes a se isolar.


+Rafael Belo, às 12h05, terça, 21 de novembro de 2017+

segunda-feira, novembro 20, 2017

Nossa incapacidade





por Rafael Belo

Uma pessoa querida me falou de conexões e fiquei pensando ao que somos conectados se constantemente estamos desconectados de nós mesmos. O futuro não tem conexão o passado é uma prisão da mente e o agora... Bem, o Agora é apenas convocado como um deus pagão precisando de um sacrifício para acontecer. Talvez, nem mais sejamos conjugados porque falta o tempo certo para flexionar o verbo que deveríamos ser. Então, onde estamos? Não queremos ficar sozinhos de verdade, mas não queremos outra pessoa com medo de nos machucar e nesta contradição paralela do impossível nossa selfie revela um borrão ou um apagão distorcido no olhar.

É tão difícil assim se conectar? Vou detalhar para ninguém vir falar de dados e wi-fi. Falo de conexões físicas, emocionais e mentais. Não vejo mais muito disso, pelo contrário... E, aliás, a gente repara sim. Quando quer... Leio declarações hipócritas nas redes sociais e não julgo apesar do adjetivo, só fico pensando o que esta passando a pessoa, o que ela está pensando...? Aqui neste fluxo seria um luxo não associar o fim dos dados, a oscilação da conexão do wi-fi, a queda do sinal... Não vou fugir deste lugar comum de alegorias e analogias. Quando os dados acabam vamos em busca de um wi-fi free ou começamos a nos desesperar? Se o sinal oscila xingamos, nos irritamos ou esperamos? Se o sinal cai, qual nossa reação? É piegas, é clichê, é old school e tudo mais, mas eu sinto falta de tocar as pessoas, estar presente, olhar nos olhos...

É totalmente insuficiente teclar no whats, trocar fotos, vídeos, áudios e gifs. Eu quero mais. Arrepio-me um pouco ao pensar nas conexões físicas porque normalmente tem a ver com o corpo, a pele, o toque, os sentidos, a satisfação, o desejo... Resumimos-nos a isso? A sair nos rolês em busca de sentir novamente ou de uma nova maneira o sexo, o cheiro, o gosto? De encontrar alguém, ao invés de aproveitar quem está contigo? Isso é diversão? Contorço um pouco os lábios ao pensar nas conexões emocionais. Elas me são caras e raras. Esquentam meu coração, elevam minh’alma, abrem as janelas dos meus olhos... As quero livres, felizes com si mesmas e inspiradas. As pessoas, não as conexões...


Conexões mentais? Estas ficam em uma mão somente. São praticamente impossíveis. São naturais, profundas, diretas, admiráveis, raríssimas... Desbloqueiam sinapses esquecidas, fazem algo inexplicável com o tempo, me acalentam, me inspiram e criam em mim um fluxo de criatividade possivelmente incomparável. Enfim, até conseguimos no conectar imediatamente ou no decorrer do tempo a estas três conexões, no entanto, penso ser nosso maior problema nosso desconhecimento sobre o que nos conecta, a dependência do outro, a dependência daquele sentimento despertado com a presença do outro, o desenvolvimento de uma carência que enfiamos na nossa cabeça só ser suprida pela pessoa “escolhida”, “destinada”, o que, por fim, acaba nos levando ao verdadeiro obstáculo: a incapacidade de desconectar. Você já desconectou hoje?

sexta-feira, novembro 17, 2017

Lady Murphy (miniconto)






por Rafael Belo

Eu estava ali. Mais uma vez tombada. Mesmo assim, minha raiva estava direcionada para aquele copo de plástico e para a falta de retidão de tudo. A cidade não era reta e já nem fazia sentido o motivo de eu ter parado ali. Não neste momento, mas quando vim para cá há muitos anos. Nada daquilo existe mais. A garota certinha tinha sido agredida, passei por mais essa sem ser violentada. Mas, ser submetida a tanto babaca se achando no direito de ter direitos... Não vou ficar mais calada... Bem, nunca fiquei. Não é possível uma “família” ter tanto poder. Isso não vai ficar assim, vou ser bem clichê para dizer isso. Nunca mais alguém vai encostar em mim no rolê se eu não deixar. Nunca mais!

Está tudo tão pesado que minha ressaca moral, deitada aqui de lado, fica meio ofendida por nenhuma criatura ter vindo ver se estou morta ou viva. Não tenho motivos para não ter o outro tipo de ressaca também. Não vou parar de beber bebidas alcoólicas... Resolver com a “família” sem me esconder e mesmo assim não me descobrirem... Não será o suficiente. Eu vou revidar contra todo homem indecente, inconsequente, violento... E daí eu ter sido mimada?!. Mimos são bons... Só estragam mentes incapazes de se moldar... Aliás, me sinto retardada. Parece que meu cérebro diminui a cada “oi sumida” que recebo no whats ou quando um imbecil qualquer vem falar qualquer merda. Estou me distraindo, eu sei! Preciso de foco. Qual o problema de eu ser um pouco vingativa?! Vai somar em mim mesmo...

Vou ser a Lady Murphy destes homens que acham poder ser chamados assim. Não sou arquiteta de computadores à toa... Vou crackear todos os casos de agressões e criar uma lista. Tomei gosto e é de sangue com uma fatia de pão com manteiga caído no chão. Vou inserir vírus simbioses para se transformarem nos arquivos dos aparelhos eletrônicos destes maníacos doentes. Lady Murphy vai substituir deliberadamente toda esta imagem de “certinha” colada em mim como um nome de família. Será que eu bati a cabeça e vou virar uma justiceira? Quem se importa?! Não vou represar esta raiva, não vou mostrar meus seios, não vou pintar a cara, não vou exigir meus direitos... Vou tomar esta dor para mim! Vou resolver do meu jeito!


Tudo vai dar errado para eles. Ah, eles vão se arrepender... Serei o karma ruim... Vão falar por aí “Lei de Murphy” e mimimi, mas só nas primeiras vezes... Logo vão associar à Lady Murphy porque se você fez algo de errado com uma mulher, tudo vai dar errado para você. Ah, vai! Não pense que serei uma vigilante. Serei eu mesma com novo nome, repaginada. Mulher rebelde é o %$#@*&¨+-. Assim, que tudo parar de girar vou assumir meu papel. Você vai ver e se for homem agressivo, vai se arrepender.

quinta-feira, novembro 16, 2017

dizendo rebeldia





queima o peito incendeia o estômago sou tão autônomo a ponto de gritar
meu coração agita se debate em cada parte de mim na própria rebeldia
meu corpo são imensas placas tectônicas em conflito sem permitir faltar ar
mudando toda esta estrutura diluída na liquidez da vida em apologia

há tantos vulcões ativos provocando erupções de motivos para terapia da minha mente
sou emotivo na multidão dadas as mãos na sintonia da marcha para desfazer a cidade
caem corações cruéis rasgando véus desta realidade atuando novas alegorias

pareço nascer dentro de mim de novo tentando sair pelo meio dos pulmões
as emoções se misturam as sensações se acumulam ouço ser eu mais um rebelde

comemora minha pelve rasga minhas calças seguro a alça do tempo passando lento pego fogo em todos os números a me identificar cidadão sorrio sem dimensão dizendo rebeldia é saber ser imensidão.



+às 10h45, Rafael Belo, quinta, 16 de novembro de 2016+

quarta-feira, novembro 15, 2017

Não vou reclamar (miniconto)







por Rafael Belo

Eu não queria fazer a diferença. Não queria fazer nada. Passei este dia da Indepên... Proclamação da República sem proclamar nada, sem dizer sequer uma palavra. Estou de luto, estou... Não eu não sei ser rebelde. O que é a rebeldia, afinal? Proclame aí tua rebeldia. Mostre-me o que é isso? Eu não quero me envolver. Estou bem, então está tudo bem... Nem vou votar mais neste bando de bandido... É tudo igual, né?! ... Se bem que...! Espera neste sistema republicano eu não votar só diminui o número, mas não muda quem está lá, muda?. Tenho pelo menos que mostrar que não sou acomodada, achando que nada vai mudar...

Mas, não. Eu não sou rebelde. Estou empregada. Trabalhando que nem uma vaca leiteira, mas tenho meu dinheiro. Estou sempre cansada e sem tempo, mas estou bem no trabalho... Posso pagar meu roles... Posso fazer o que quiser, mas sei lá... Tenho preguiça... Não! Tenho sono! Tem alguma coisa errada nisso tudo, não tem? Fora os bicos que faço, não as caretas para este monte de babaca mexendo comigo... Aff! Enfim, complemento minha renda aí com uns trabalhos extras. Lá vem você achando que sou garota de programa, me poupe. Sou técnica em informática e designer de aplicativos, mas isso só interessa a mim...

O fato é que hoje eu queria ser mais rebelde, mas estou tão cansada de empilhar jornadas nas costas e ainda ser mal-tratada, sabe? Ninguém merece. Tenho vontade todos os dias de juntar tudo e dizer vários nãos... Aí penso o quanto preciso do trabalho, nas minhas dívidas, que preciso comer... etc e etc... Aí engulo vário porcos-espinhos, ouriços porque sapo é fácil engolir, né... Respiro fundo e traduzo oralmente em gentilezas cada xingamento pesado vociferando na minha mente. É uma exploração sem tamanho e o reconhecimento? E a meritocracia? Existem tantas modalidades de trabalho escravo hoje e nós simplesmente endossamos, ignoramos, damos às costas e seguimos com nossas vidinhas medíocres... Ah, faça me o favor!!


Não queria ser mais uma hipócrita! Pelo Amor de Deus! Só molha o rolê isso! Só boda geral! Cordiais e alegres é só uma reação a tanta desigualdade, a gente não quer só uma oportunidade de mostrar a que viemos? Quem somos? Meu, pô, me ajuda aí a ser rebelde. Mostra-me a tua rebeldia... Quem sabe eu me identifico e tomo coragem de ser retaliada, passar por maus bocados sabendo que na luz do fim do túnel vai valer à pena, o pássaro todo, esta revoada sonhada dentro desta padronização toda... Queria poder dizer que sou louca, mas não posso...! Dizer só prova o quão normal eu sou, criticando a rebeldia alheia de quem enfrenta de alma lavada esta corja toda suja de neutralidade, de branquidão e esquecimento! Não vou admitir ter inveja da rebeldia perdida! E não conte isso para ninguém! Deixa-me voltar para o meu lere lere... Não vou reclamar que é difícil ser mulher, não vou!

terça-feira, novembro 14, 2017

Desenluar





aquela linha reta precisava de precipitação na curva
chuva que só molhava lá fora enquanto eu a via
pensava ver o fundo das águas mas a vista era turva
qualquer cura que caísse teria uma queda embolia

desfraldava a bandeira pirata mas eu não usava luvas para luta
rasgava minhas mãos depremia me faltava rebeldia
jogo de louco causando azia e refluxo aos poucos na disputa

eu criava tempestade de inverdades dentro de mim e retraia
olhava com angustia a vida que me encarava e só pedia: escuta

cada raio que me atingia me morria e eu só queria continuar no padrão sem lua.



+Às 12h10, Rafael Belo, terça, 14 de novembro de 2017+

segunda-feira, novembro 13, 2017

A necessidade da rebeldia



por Rafael Belo

Há um medo vestido em nós desde a infância. Criança não pode ser criança. Já nasce e tem que ser capacitada para competir e ser a melhor. Pautar-se nos padrões e se elevar. Recebemos recomendações, muitos não pode e não faça, aprendemos a lidar com o outro, a como se vestir como se comportar, como... Como... Como... E por aí vai. Mas, como ser nós mesmos não sabemos. Ninguém sabe ao certo, né?! Este incentivo de conhecer quem somos e quem queremos ser praticamente não existe. Isso aprendemos na marra, quebrando os dentes na queda, despedaçando o coração mal-utilizado, quebrando a cara metafórica e literalmente... Então, quando nos descobrimos viramos rebeldes.

Nossa rebeldia é por não seguir os padrões, por termos opinião, por termos atitude, por termos independência, por destroçar paradigmas, por expressar quem realmente somos... Assim, podemos mudar o mundo, não podemos? Quantos considerados gênios não mudaram? Basta uma googlada para confirmamos que eles podem ser considerados rebeldes. Fora dos padrões, diferentes, atrevidos, ousados, cheios de atitude e já sabemos o fim da história: eles mudaram o mundo. As rebeliões são necessárias porque no conceito das palavras é uma ação contra algo pré-estabelecido.

Ficar calado, reclamando, sem ação, não muda nada. Rebeldia vem do latim REBELLIS que vem a ser insurgente, rebelde. Por sua vez vem de REBELLARE (Re significa contra e Bellare, guerrear). Precisamos contraguerrear diariamente o comodismo, o achismo, o preconceito, esta tentativa de dizer que somos diferentes para nos encaixotar em outras caixas, nos robotizar, nos dizer o que fazer, como fazer e quando fazer... Como não ser rebelde neste mundo que invertemos todo? Seguir os padrões, os patrões e fingir que nada está acontecendo, que nada vai mudar e simplesmente um suicídio da própria evolução.


Este mundo de arco-íris pintado em frases copiadas, em fotos tratadas em ângulos testados e retestados para a aprovação das pessoas interagindo nas mídias digitais é tão obsessivo e cria uma possessão inexistente neste mundo onde nada possuímos. Tudo bem que podemos nem querer mudar o mundo, mas é impossível não ter nada para mudar em nós mesmos, ao nosso redor, no nosso quintal, na nossa cidade, algo que possamos fazer para melhorar a vida de outrem... Deixemos a passividade de lado para sermos passionais porque se acreditamos em vida depois da morte física teremos muito que responder e se não acreditamos tudo o que temos é esta vida. E se este não é um bom motivo para ser rebelde, o seja para ser mais você.

sexta-feira, novembro 10, 2017

Quem pode... (miniconto)





por Rafael Belo


Eu já fui uma imitadora, uma seguidora de tendências e isso é passado. O passado é um ser esquisito que pode ficar para sempre ou desaparecer totalmente. Há muitas possibilidades nele porque ele é particular e realmente pode deixar de existir. Hoje eu o transformei em informações. Sabe? Como se eu o tivesse lido em um livro onde eu era a protagonista atrapalhada e em um paralelo ele foi minha primeira menstruação. Quando começou a parecer importar e eu já podia ser considerada “adulta”, já era rotina, apesar das cólicas que me deixavam extremamente assassina, então, eu me pego hoje no lado oposto de quem fui.

Entende? Depois que me dei por mim... Quando passei a acreditar na minha originalidade, na boa coisa que é ser diferente... Ficava estressada com quererem parecer comigo. Mas, aí me dei conte... É estranho ser imitada. É uma responsabilidade a me fazer melhor. Por quê? Porque preciso fazer o meu melhor o tempo todo. Este quê de condicionadora de padrões... Prefiro não ter esta etiqueta. Quero ser recondicionadora de padrões. Se posso errar? Claro! Só preciso reconhecer meus erros. Se já errei? Muito e sigo errando... Não são os mesmos erros, antes que você pergunte...

Fazer parte da seleta ala dos “influenciadores” é complexo porque este rótulo não se conquista é dado pela mídia. A gente só fazer o que pensa e acredita é de uma grandeza não misturadas a rótulos e etiquetas. Saber quem são os reais influenciadores mesmo vai além da exposição midiática. Você sabe que está entre esses quando falam diretamente contigo sobre algo que criou... Inspiração! É tão forte ser a inspiração de alguém. É normal negar ainda mais se for algo negativo o resultado da influência... Por mais claros e objetivos, que - impossivelmente - tentamos ser, a subjetividade é o óculos do mundo.


É totalmente incômodo pedir perdão por alguém cometer uma atrocidade em teu nome. Eu dei a ideia? Eu influenciei? Não obriguei nada nem ninguém... Mas, vamos fazer assim: para cada influência ruim que eu der, vocês cobram dos seus representantes, das autoridades algo que têm direito? Ok. Eu exagerei no vídeo, no textão... Mas justiça com as próprias mãos não resolve. Violência gera mais violência, gera medo, gera caos, um insegurança generalizada, cria uma onda negativa tão grande... Uma avalanche infinita soterrando todos. Estamos tão literais por falta de literatura ou tão estrategistas por excesso de jogos... Enfim, não virem haters, principalmente, meus. Vocês não precisam seguir meu suicídio social, calma gente só estou ficando offline temporariamente. Depois que minha vergonha passar eu volto. Peço perdão! Antes disso, quem pode me ajudar com...

quinta-feira, novembro 09, 2017

desagrilhoar





mais um dia aquele encaixe incômodo se fez diversão
sem satisfação suficiente mas aparentemente no padrão
ajeitado em cômodos vazios fio invisível naquela acomodação
nenhuma paixão partia paralela a tela iluminava outra situação

todo imóvel era ela de janelas fechadas
uma pessoa móvel com maneiras ajustáveis

no meio da respiração foi lá de nova fachada
as iluminações pareciam totalmente justificáveis
jamais haveria quaisquer resquícios de subordinação

pintou um quadro escreveu um poema compôs uma canção vestiu atitudes assumiu seu eu abriu os braços com o sorriso desagrilhoou a libertação abraçou ser sempre inspiração.


+às 12h24, Rafael Belo, quinta, 09 de novembro de 2017+

quarta-feira, novembro 08, 2017

A jogada (miniconto)





por Rafael Belo

Havia admiradores por toda parte. Eu não sabia. Ninguém curtia nada dos meus posts, ninguém comentava... Ninguém falava. Como eu iria saber? Sempre me considerei linda acima dos padrões, mas só atraia gente vazia... Não fuçava o perfil de ninguém... Falo muito ninguém, né?! É porque eu me considero ninguém. Não é baixa autoestima. Eu sou alguém muito importante... Para mim! Você me entende. Eu sei! Que horror ser vigiada o tempo todo, imitada, ser... É difícil para mim dizer esta palavra, mas ok. Inspiração.

Sou inspiração de tanta gente... Quer dizer que eu não posso fazer nada fora do esperado, se eu cometer um erro serei cobrada pela eternidade... Não acho isso admirável. Por favor, não me admirem! Gostaria que me esquecessem, mas quando isso acontece eu fico depressiva... Sinto-me abandonada. Seriam sintomas de abstinência? Alguém pode criar os Inspiradores Anônimos? Meu Deus! Não quero esta responsabilidade, não. Tenho medir tudo sempre. É tão exaustivo.

Quanta reclamação... Nasci reclamona mesmo. Deveria ser grata por ser percebida e as pessoas me verem como referência, mas não sou assim. Não vou me obrigar a me sentir agradecida. Só porque eu sou autêntica no meio de tanta xérox mal feita e pessoas copiadas? Cópias me parecem vazias e de vazio basta este mundo superpopuloso. Eu deveria mesmo pensar em ser ferramenta do outro para ele se sentir melhor? E os meus sentimentos? Isso não é egoísmo é motivo de tantas más decisões...

Tomo tantas más decisões que esta deve ser mais uma diante das minhas coleções de ressacas só de hoje. Mas, não me importo... Como posso ser inspiração, referência, se estou eu precisando disso? Será que...? Estas minhas graves falhas me humanizam? É isso? Estou mais próximo daqueles por trás de tantas cópias de máscaras e até por trás destas máscaras? Bom, já perceberam ter sido tudo programado, né? Meus últimos posts, incluindo este meu vídeo... Agora espero estar indetectável. Ah, não tentem repetir isso ou me seguir.


Realmente ninguém sabia quem ela era até ela decidir sumir. As pessoas não passaram a sumir também, mas começaram a prestar mais atenção nas más-ações que insistiam em repetir.

terça-feira, novembro 07, 2017

pisca-pisca





braços se abrem em um abraço não dado
um lago de paz se forma rompe laços inacaba
escala um respirar profundo lento em um tempo em pausa
salva o sentimento difuso tosco embaçado confuso pelo nublar

sai sol na chuva para também se molhar
cada raio solar é a maior inspiração do levantar
em pé o abraço aperta desfaz o alerta sempre tem alguém a te olhar

neste pisca-pisca a gente arrisca a ser copiado a copiar
malabaristas das horas das formas provisórias a se encaixar

no meio da nossa testa apara a aresta o farol não para de girar.

+ às 10h34, Rafel Belo, terça, 07 de novembro de 2017 +

segunda-feira, novembro 06, 2017

Sempre há tempo



por Rafael Belo

Às vezes eu acordo em um dia como esta segunda-feira. É novembro. É início de semana. O dia começa nublado... Garoa em alguns lugares. Eu acordo segunda-feira e simplesmente olho ao redor. Sou este tempo ou apenas estou assim? Mais um pouco e outro ano termina... A vida significa especificamente algo? Somos alvos das nossas ações, reféns dos nossos sentimentos e significados só nós damos, mais ninguém. Penso na rotina e nos significados, nas fatalidades e liberdades, causas e efeitos até me dar conta na minha responsabilidade. Você já parou para pensar que é inspiração para alguém?

Não é algo que se aceita ou se assume. É um fato. Você não precisa ter um milhão de amigos, milhares de seguidores, incontáveis curtidas... Você pode não ter nada disso. Mas, sempre tem alguém te observando. Pode ser assustador, mas de que adianta temer isso? Nossas atitudes refletem sim por toda parte. Ação gera reação e em um mundo onde “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” atribuída a Lavoisier responsável por derrubar crenças antigas com provas científicas e que teve a cabeça guilhotinada há 223 anos sob a frase de Lagrange : “não bastará um século para produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo”.

A frase de Lavoisier, veja só, não é dele. Já falei sobre isso há um tempo. É de Anaxágoras de Clazômenas um filósofo pré-socrático responsável por todo o desenvolvimento da filosofia que viria, isso por volta de 500 Antes de Cristo... Tudo isso só serve para provar a frase. Enfim, somos responsáveis por cada atitude nossa não importa se estamos conscientes delas ou de nós mesmos. Sem saber estamos inspirando uma criança, uma senhora, aquele colega de trabalho, da rua, da escola, da faculdade, desconhecidos... Como saber? Se ninguém disser só podemos cogitar a ideia. Mas, pode ter certeza você é inspiração!


Por isso, é primordial a pergunta: você tem feito o que? Você questiona seus atos? Tem orgulho dos seus feitos? Acredita ter tipos de pessoas? Faz das redes sociais plataforma para criticar gratuitamente ou propõe soluções? Cria discórdia ou concórdia? Promove a união ou desunião? Amor ou desamor? Tristezas ou alegrias? Promove o ódio? Cria guerras? Emite paz? Faz elogios? Demonstra gratidão? Libera perdão? Sua vontade importa e você afeta as pessoas ao seu redor. Cabe a cada um de nós demonstrar qual referência estamos emitindo no momento porque sempre há tempo de mudar.

sexta-feira, novembro 03, 2017

o palco é ela (miniconto)






por Rafael Belo

Todos os olhares estavam nela. Ela era o ímã. A atração despertando tudo. Alguns estavam boquiabertos outros sorriam sinceramente. Ela mexia os quadris com os ardis aprendidos. Iam sutis e pontuais. Sua barriga tinha vida própria e seus ombros pareciam ondas agitadas invadindo as praias.

Todo o corpo dela ondulava. Até olhos comprometidos admiravam. Era uma hipnose em doses voluntárias extraordinárias. Estava tudo azul e mesmo assim um vermelho denso dominava. Ela dominava. Tentação! Desejo! Sedução! Eram ordinárias perto do poder daquela mulher.

Ela era um anjo caído cheio de graça! Flutuava delicada e forte como o encontro das águas em mar aberto. Cada centímetro corpóreo dançava, arrepiava e emitia as melhores vibrações. Ela era dança e música vivas. Causava frisson. Fascinação. A própria sereia rainha atraindo todas as emoções para quem assistia, mas ela mesma nada via. Estava focada naquela leveza, em estar no melhor lugar: nela mesma.


Encarava alguns rostos, porém, não os via. Tudo o que importava era ela. Ela estava em liberdade. Seu corpo era livre. Ela estava na maior imersão que jamais estivera. Enquanto era a própria expressão da música só enxergava borrões. Na mente dela ela era reprodução do que acontecia no palco. Ela desceu sem perder o ritmo. Ela era o ritmo. Ela é o presente é o agora. Nas escadas fez reverência para a vida enquanto acreditavam que ela agradecia os aplausos. Não voltou para os bastidores. Seria sempre protagonista. Saiu apenas andando excelsa e exultante vida afora. A música sai dela e a envolve Mulher. O palco é ela própria a desmontar e montar quando quiser.