quarta-feira, novembro 29, 2017

Feche minha caixa (miniconto)





por Rafael Belo

Não sei quanto tempo ela está ali. Provavelmente, quando eu cheguei metade de um dia já havia se passado. Dizem ser louca. Ela enlouqueceu esperando ninguém jamais soube o motivo da espera. Mas, as pessoas sempre dão uma importância muito maior às maledicências e fofocas a verdade em si. Vou até lá. Será possível alguém já ter feito isso? De mulher pra mulher ela falaria? Direi Marisa? Ela estaria realmente presente? Sim. Ela me viu, me acompanha e parece estranhar minha aproximação.

Eu sempre acreditei que se esperasse o que me importa, me é útil e agradável viria. Chegaria e não foi isso que aconteceu. É isso que quer saber? Por quê? Nunca pensei poder ser além do que sou e, a família que tive, sempre reforçou esta ideia. Meus namorados também... Ex-namorados! Conversar? As pessoas sempre quiseram dizer o que eu devo fazer, o que eu devo pensar, o que eu devo comer, o que eu devo vestir... E meu eu ficou por aí...

Esta é a história da maioria? Não sei. Sei que é a minha! Não conheço maiorias nem minorias e as próprias atribuições destes substantivos femininos se contradizem. Talvez seja fato que humanas e exatas são extremos opostos e eu uma louca qualquer sem nem ter noção de direção ou quanto tempo faz que estou aqui. Mas, escrevi muito do meu mundinho aqui. Minha mente psicodélica sempre me traz de volta para este lugar. Porém, bloqueei o motivo. Não faço ideia de acabar sempre aqui.


Deixe-me na minha caixa. Ninguém mandou você sair. Quem mandou você reproduzir Eva e comer o fruto do conhecimento... Minha ignorância, meus hábitos, minha rotina, me doem menos. Tenha piedade e me deixe sofrer em paz. Quem sabe minha espera valha à pena... Ou isso nem seja um sofrimento, mas uma penitência esquecida que resolvi pagar. Pegue sua caixa e vá embora... Ei! Feche minha caixa ao sair.

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