sexta-feira, novembro 17, 2017

Lady Murphy (miniconto)






por Rafael Belo

Eu estava ali. Mais uma vez tombada. Mesmo assim, minha raiva estava direcionada para aquele copo de plástico e para a falta de retidão de tudo. A cidade não era reta e já nem fazia sentido o motivo de eu ter parado ali. Não neste momento, mas quando vim para cá há muitos anos. Nada daquilo existe mais. A garota certinha tinha sido agredida, passei por mais essa sem ser violentada. Mas, ser submetida a tanto babaca se achando no direito de ter direitos... Não vou ficar mais calada... Bem, nunca fiquei. Não é possível uma “família” ter tanto poder. Isso não vai ficar assim, vou ser bem clichê para dizer isso. Nunca mais alguém vai encostar em mim no rolê se eu não deixar. Nunca mais!

Está tudo tão pesado que minha ressaca moral, deitada aqui de lado, fica meio ofendida por nenhuma criatura ter vindo ver se estou morta ou viva. Não tenho motivos para não ter o outro tipo de ressaca também. Não vou parar de beber bebidas alcoólicas... Resolver com a “família” sem me esconder e mesmo assim não me descobrirem... Não será o suficiente. Eu vou revidar contra todo homem indecente, inconsequente, violento... E daí eu ter sido mimada?!. Mimos são bons... Só estragam mentes incapazes de se moldar... Aliás, me sinto retardada. Parece que meu cérebro diminui a cada “oi sumida” que recebo no whats ou quando um imbecil qualquer vem falar qualquer merda. Estou me distraindo, eu sei! Preciso de foco. Qual o problema de eu ser um pouco vingativa?! Vai somar em mim mesmo...

Vou ser a Lady Murphy destes homens que acham poder ser chamados assim. Não sou arquiteta de computadores à toa... Vou crackear todos os casos de agressões e criar uma lista. Tomei gosto e é de sangue com uma fatia de pão com manteiga caído no chão. Vou inserir vírus simbioses para se transformarem nos arquivos dos aparelhos eletrônicos destes maníacos doentes. Lady Murphy vai substituir deliberadamente toda esta imagem de “certinha” colada em mim como um nome de família. Será que eu bati a cabeça e vou virar uma justiceira? Quem se importa?! Não vou represar esta raiva, não vou mostrar meus seios, não vou pintar a cara, não vou exigir meus direitos... Vou tomar esta dor para mim! Vou resolver do meu jeito!


Tudo vai dar errado para eles. Ah, eles vão se arrepender... Serei o karma ruim... Vão falar por aí “Lei de Murphy” e mimimi, mas só nas primeiras vezes... Logo vão associar à Lady Murphy porque se você fez algo de errado com uma mulher, tudo vai dar errado para você. Ah, vai! Não pense que serei uma vigilante. Serei eu mesma com novo nome, repaginada. Mulher rebelde é o %$#@*&¨+-. Assim, que tudo parar de girar vou assumir meu papel. Você vai ver e se for homem agressivo, vai se arrepender.

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