quarta-feira, janeiro 31, 2018

Qual o seu nome (miniconto)






por Rafael Belo

Não sei quantos macacos eu matei. Eu fiquei descontrolada quando toda minha família caiu. Era febre amarela. Morreram todos.  Nós vivíamos escondidos nos parques e um medo revestido de desespero e loucura tomou a frente da minha mente. Eu parecia uma passageira do meu corpo, uma hospedeira de um lar de raiva, mas não me dava conta disso. Eu… Eu… Eu estava gostando daquela violência, daquele poder afrodisíaco, era sexual sim e mexia com cada parte do meu corpo. Então, como eu poderia parar?!

É assim o sentimento dos assassinos? Mesmo quando fiquei horrorizada com aquelas cabeças que eu tinha cortado… Fiquei mais surpresa com a força para arrancá-las. Eu era tão forte assim? O que eu sou afinal? Eu despertei um pouco daquele torpor homicida quando encarei os olhos mortos daquelas cabeças nas minhas mãos. Foi assustador, mas só por um momento. Não havia vida ali. Não tinha volta. Eu precisava terminar com o que eu tinha começado. Mas comecei a em questionar se aquilo tinha algo a ver com consciência…

Há algo a ver? Com ética? Com moral? Há defesa para isso ou só um ponto de vista divergente? A gente pensa na hora da violência… Mas, não fica raciocinando sobre o momento, só quer acabar como aquilo tudo sem culpa. É possível viver sem culpa. Isso é ser psicopata? Nós temos o direito de tirar uma vida se for para poupar a nossa? É preciso esperar ter certeza para agir ou agir sem esperar com no mínimo 50% de chance de estar comentando o maior erro da vida? Às vezes eu queria simplesmente a impunidade dividida igualmente...

Tenho que analisar se vou ser presa ou morta? Será que os bandidos temem isso? Espera! Não sou bandida, sou?! Eu sou uma justiceira! Sou uma defensora! Sou uma heroína! Quem não percebe isso só pode errado, certo!? Quer dizer… É claro que eu estou certa! Não é a vontade de todos?! Eliminar o que faz mal?! Sou só representante daquilo que ninguém quer admitir. Talvez eu esteja louca mesma, mas aí eu não diria isso, né?! Loucos são os outros!!! Loucos são vocês! Com certeza é bem normal conversar com as vítimas antes de decapitá-las. Pelo menos não estou conversando com as cabeças que arranco. Não é? Ei! Macaquinha, qual o seu nome?  Fala comigo!! AGORA!!!

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