segunda-feira, fevereiro 05, 2018

E isso é respeito




por Rafael Belo

Eu não tinha parado realmente para pensar e sentir sobre a ausência do toque e desvio dos olhares. As consequências estão por toda parte e em cada um de nós. O sofrimento causado fica a flor da pele, rola em lágrimas aperta o peito e cria muitas turbulências no coração. A sociedade nos tornou distantes com o paternalismo e o machismo diário matando, espancando e tentando inferiorizar as pessoas. Nossa liberdade perdida exige uma batalha insana para conquistar a confiança do próximo.

No período em que eu morei em São Paulo, trabalhei em uma Ong e sempre fui de olho no olho e toque. Fiquei extremamente surpreso quando a diretoria me chamou no particular para falar que naquela cidade as pessoas se sentiam incomodadas com o olhar e o tocar. Ri de nervoso. Olhei para todos os lados pensando o quanto aquilo parecia surreal. Como assim?! Acabei dizendo: Ninguém falou nada. Fiz algo inconveniente? Alguém reclamou? Revi mentalmente todas as minhas conversas e tive certeza que nenhuma destas interações resultou em incômodo. Nada no olhar, na expressão, na postura de quem eu conversava indicava qualquer incomodo. Mas, a pessoa que me “alertou”... Esta sim se sentia incomodada.

Infelizmente, o cunho sexual do abraço e do cumprimento com beijo no rosto, incomoda. A intenção sempre fica no ar. A desconfiança se espalha e o medo é quase paranoico. Não é de graça. Pelo contrário, é mais que justificável. Principalmente se tratando das mulheres e de todas as pessoas que se identificam se relacionando de forma íntima com o mesmo gênero ou não se identificam com o próprio corpo ou ainda se transformaram na pessoa que se identificam.

Esta questão de identidade é fundamental para se permitir, se libertar, se sentir e sentir o outro. Aquela energia feita de desgaste, renovação, alma, pele e coração têm momentos e vivências tão específicos moldando o que agora é, que é preciso pedir permissão para se aproximar e isso é respeito. Neste fim de semana, a desobjetificação do outro foi mais intensa, clara e completa para mim durante a Oficina do Sentir. Acredite é transcendental você participar, ouvir e coexistir com a existência do outro ao invés de impor, invadir e conduzir. Que tal aprendermos a realmente sentir?

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom e coerente!