segunda-feira, março 05, 2018

Selfies: distúrbio mental




por Rafael Belo

Quando você quer conferir sua aparência, você utiliza um espelho? O reflexo que vemos não vem mais de espelhos e outras superfícies reflexivas, mas do celular. Nós, Narcisos modernos, morremos diariamente na nossa autoimagem criada pela nossa mente a partir da ideia de quem somos. Mas, isso não é apenas filosofia, solidão e carência é doença. Vivemos curvados na distração do deus da Conexão e para aumentar nossa coleção de isolamentos uma nova doença foi diagnosticada: a selfitis.

Os selfiados, viciados em selfies, agora se encaixam neste novo distúrbio mental. Se a vontade for de postar seis ou mais é considerado crônico. São estudos divulgados por pesquisadores da Universidade de Nottingham Trent, na Inglaterra, e da Thiagarajar School of Management, na Índia. Vivemos nesta constante selfitis crônica em uma conexão ininterrupta esperando atenciosamente a ajuda das redes sociais, curtidas, compartilhamentos, apoio… Mas, as consequências são devastadoras.

Intervenções estéticas, expectativas, planejamentos e, claro, depressão seguida de suicídio. O espelho é mais um meio para nos separarmos da nossa imagem ao qual nos deparamos, nos separarmos da realidade, do significado de laços afetivos resultando no devastador sentimento infeliz de abandono, de culpa, de uma busca vazia dentro da desorientação dos caminhos já esquecidos de como caminhar… A importância da opinião de, no fundo, desconhecidos passa a ser motivo do comportamento, do sentimento…

Não é de graça tanta dor sentida por aí. Estamos vidrados nas pequenas telas em nossas mãos, conversando sozinhos, procurando ângulos, jeitos, gestos, gostos, afetos, crushes, matches e armazenando tantas imagens de nós mesmos que precisamos ouvir, ler, saber como acham que devemos agir, nos vestir, comer, ir, dormir, reagir, começar, terminar… A diferença do mito de Narciso e nós é que aquele desconhecia a beleza física, a beleza estética aos olhos próprios e quando se deparou consigo mesmo pela primeira vez em reflexo se afogou se admirando. Já nós, nos  montamos e desmontamos a todo instante para agradar, para chamar atenção, para dar indiretas, para mostrar poder e independência quando demonstramos o oposto em um ciclo infinito sem morte real.

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