por
Rafael Belo
Quando
vejo a lua gosto de pensar que é a primeira vez. Cheia então, é algo mais
intenso como se me reconhecesse nesta fase. Olho a vastidão do universo e me sinto
ao mesmo tempo uma minúscula parte dele e ele todo. É a hora da partida de quaisquer
vestígios de arrogância. Eles insistem em grudarem ao longo do dia pelo ego,
pelas palavras e na hora da consciência - certa hora da noite - a vida deixa de
ser um quê de escrava desta rotina estética.
Somos
pessoas céticas até precisarmos acreditar e a caminhada começa acreditando em
nós mesmos. Conhecendo quem somos desde o íntimo até o motivo do músculo do
dedo mindinho do pé direito dar espasmos. Procuro me libertar destas correntes
pesadas e barulhentas do estereótipo da Beleza e é neste momento que as pessoas
começam a ficar realmente belas. A sinceridade e o sorriso iluminam mais que a
loteria geométrica do modelo midiático da banalização do ser humano.
Medidas
externas não mostram o tamanho de ninguém. Eu meço as pessoas no dia-a-dia as
ouvindo, não julgando, então vejo o tamanho possível para a expansão destas
almas e no início do outro dia já joguei até estas medidas fora. Eu preciso da
minha calma e cada vez mais ela me possibilita uma nova visão, um prisma de dimensões
para eu me conhecer. Como é possível conhecer o outro se eu não me conhecer? Como
vou crescer, somar, se só me diminuo e fico preso nas feridas passadas
guardando tanto entulho, acabando com o espaço que está aqui, dentro de mim?
Acredito
na necessidade de uma limpeza diária de nós e é sempre noite lá fora, acima
deste céu azul. Aliás, de eu’s, do eu acumulando outros eu’s de outros dias,
que por algum motivo sórdido, de apego ou saudosista, não quis deixar e – ao contrário
do que pensamos – é aí que a insegurança e o medo nos fazem repetir os erros e
impedir nos conhecermos realmente. Podemos ao menos nos esforçar para seguir
neste cotidiano do autoconhecimento, não podemos?