quarta-feira, abril 04, 2018

Discurso (miniconto)





por Rafael Belo
Aquela dor ainda continua lá. Esta dor, aliás, é o que me levanta. Ela piora diariamente bem aqui. Você vê? É aí onde sempre caio e o motivo pelo qual levanto. É meu orgulho sempre ferido. Quero mostrar a minha capacidade e não vou parar. Nada vai me parar. Você sente isso também? Se bem que… Não, não! Eu preciso ser positiva. Isso não me causa lesão alguma. Não é teimosia, é superação… Vou sofrer e atingir a meta para dobrar a meta e depois triplicar e… Isso é sacrifício, certo? Não é uma outra forma de escravidão! Afasta de mim este pensamento.

Recuso-me a viver um momento ruim. Onde está escrito esta necessidade de vivenciar dor? Isto não é sofrimento? Não?! Mais ou menos?! Como assim?! Experiência? Eu não sou você, não sou coletiva, sou individual, sou única e o que acontece comigo me afeta diferente mesmo se acontecer o mesmo com você e… Como não é isso? Eu me movo diferente e entendo diferente mesmo soando igual. Quero me superar e superar você e todo mundo, aí me esforço mais mesmo, mas…

Acontece um vazio bem aqui que, às vezes, se transforma em azia. Há uma ausência em mim. Pareço me limitar neste foco e… Sei lá… Você entende isso?!  Isso dói e eu nego focando ainda mais nisso que chamo de superação. É um ciclo e eu gostaria que fosse uma estrada… Agora estou pensando se esta rotina que criei também não é acomodação. Meu Deus!  Eu estou acomodada na minha zona de conforto? Não pode ser… Eu sempre vou adiante e nunca posto estar pago porque sempre sinto estar devendo. Você não sente?

Vou enlouquecer assim… Nem sei mais se gosto mesmo disso. Vou me afastar desta versão de mim antes que meu coração sofra uma lesão permanente. Espera! Não! Eu não tenho versões. Sou eu mesma reagindo ao momento todo o momento. Não vou cair nessa e se cair não será derrota é só para eu enxergar de um outro ângulo e voltar mais forte, mais autoajuda, mais mais… Nada de ficar de aparências, ficar pagando ou devendo e vou ser a referência da superação. Pronto! Terminei meu discurso… Alguém me ajuda a levantar do chão ?

Nenhum comentário: