segunda-feira, abril 23, 2018

Estranho é a falta de respeito





por Rafael Belo

Não acredito em quem diz não gostar de dançar. Se fecharmos os olhos o corpo começa a se movimentar quando toca algum som. É a expressão da emoção e a libertação de nós. É um casal se entregando a música em passos e sensações contando a história que ouvem com o movimento rítmico. Com casal eu digo duas pessoas, nada de gênero. Diz a História, que a origem de umas das danças mais famosas do mundo, o tango, é em um casal de homens como desafio, domínio,  um parceiro contra o outro. Faltavam homens e parece assim continuar.

De Buenos Aires a Paris,  a popularização do tango foi assombrosa, mas logo se perdeu e foi proibida a dança entre casais do mesmo sexo. A bajulação, a sedução , o exibicionismo não podia mais ser pública se praticada entre o mesmo sexo. Há um tempo surgiu o movimento Tango Queer e foi na Alemanha. O objetivo não era só resgatar as origens, mas interagir com a música, se inserir na canção ouvida sem intuitos sexuais como ainda hoje, 17 anos depois da criação do movimento, muitas pessoas se censuram e censuram os outros com este preconceito taxativo.

Se tirarmos as vendas, veremos a quantidade de mulheres que estão querendo dançar e a pessoa com ela não. A minha ex era uma. Eu até dançava, mas quando eu não queria ficava bravo por ela dançar com outra pessoa. Eu era um idiota nesse sentido. Ainda bem que a gente evolui e já se foram muitos anos.  normalmente, uma dança é uma dança apenas com a intenção de aproveitar o que está tocando. Queer significa estranho. Mas, não vejo nada de estranho com pessoas dançando e sendo felizes. Estranho é a violência, a doutrinação do certo e errado para vidas de outros. Estranho é a sexualização de tudo. Estranho é justificar julgamentos, ameaças, terrorismo, preconceito, fobias e guerras com religião.  Estranho é a falta de respeito.

A ideia do homem ser o guia e a mulher guiada terminou este foi o passo do movimento Tango Queer: dançar independente do gênero ou orientação sexual. Os condutores, condutoras ou conduzidos, conduzidas podem propor os passos durante a dança e mudar esta “regra” durante a música sem nenhum problema. A igualdade está aí quando o papel principal desaparece  e qualquer um pode assumir um papel. Então, a gente dança para aproveitar o momento porque até para o corpo aquela música pede uma interpretação física. Pede o coração e não o julgamento. Um ser humano contando uma história com outro ser humano. Por isso, digo: prefiro ser estranho e liberto a desencaixado para sempre nas regras do que dizem ser normal. Vamos lá. É fechar os olhos e sentir para dançar.

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