sexta-feira, maio 18, 2018

Sou um não-lugar (miniconto)






por Rafael Belo

Cada pedacinho de mim arrepiou. Veja! Olha só! Tive que sentar. Parecia que todas as estrelas estavam na mesa. O medo saiu atropelado, inocente diante das possibilidades dos riscos, dos dias atribulados substituindo o tempo aproveitado, do tempo escasso impedindo de aproveitar os frutos de tanto trabalho... Foi a primeira vez em - sei lá contar esses meses passando tão rápido – que não pensei, não julguei, não planejei, não projetei o futuro nem despertei o passado e era só ação e reação. Desde então...

Tenho uma culpada e uma cúmplice diária. A liberdade. Ela me surpreende quase na mesma proporção do susto. Vou no impulso sem arrependimentos, rasgando cada desculpa, me livrando de toda explicação e este sentimento livre de me pertencer bem surpreendente por mim mesma. Eu moro em mim. Eu sou meu lar. Não preciso me explicar, me matar de trabalhar e eu já sabia. Mas, saber e ser é tão diferente quanto parecer e estar... E vou recomeçar quantas vezes for necessário, não há salário capaz de me fazer assim: feliz. Veja só o arrepio...

Ouço o Frejat cantando “desejo que você tenha a quem Amar e quando estiver bem cansada exista Amor pra recomeçar, pra recomeçar....” Aí meus arrepios não param e chego onde estou cantarolando. Danço sozinha e lembro de não querer ninguém perturbando meu espaço, meu silêncio, meu sono... Quero despossuir. Vou me surpreender comigo. Posso ter isso e aquilo. Uma coisa não anula a outra. Não sou obrigada a nada. Posso ser racional e emocional, mas vou deixar o coração comandar como quando eu era criança e isso me arrepia... Olha aí!

É tão surpreendente ser a gente e eu me poupava, deixava tudo dar em nada, me acabava, dormia, acordava, trabalhava... Chega de trazer o passado. Você sente meu arrepio, não sente?! Não é surpreendente quando a gente encontra a gente sem medo, sem limites, sem se atrapalhar? Vou me encontrar diferente diariamente e isso não é um plano, não é promessa, é a rotina mais divertida que vou inventar porque me descobri e logo mais preciso me redescobrir algo constante... O mundo não vai me amedrontar! Sou um não-lugar!

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